Costumava ser “com um Salazar”, mas pelo que vejo desde o ataque do Hamas a Israel dia 7 de Outubro, dá ideia de haver uma nova predilecção para pôr isto na ordem. Sendo que, para já, o “isto” parece ser o Médio Oriente. Embora estas estupendas ideias tendam a espalhar-se mais que o Joe Biden a subir as escadas do Air Force One. Quanto ao “lá”, não faço ideia onde, ou o que é, mas julgo haver literatura relativa aos anos 30 e 40 do século passado que dá algumas pistas.
De volta à actualidade, os indícios desta sinistra revisitação acumulam-se, em algumas instâncias com um elemento de regozijo. Nomeadamente no caso do embarreta-papalvos, Paddy Cosgrave. O agora ex-CEO da Web Summit demitiu-se depois de escrever na plataforma X, que “os crimes de guerra são crimes de guerra, mesmo quando são cometidos por aliados e devem ser denunciados pelo que são.” Equivalendo, assim, os actos bárbaros de um grupo terrorista, a acções militares das forças armadas de um país democrático. Ou seja, desculpando os torcionários sádicos do Hamas.
E quais os “crimes de guerra” praticados por Israel? O Paddy não revelou, mas acredito que incluam aquele bombardeamento ao hospital de Gaza, que afinal não foi um bombardeamento, nem foi a um hospital, nem foi feito por Israel. Mas foi em Gaza, lá isso é um facto. E depois, também, que diabo: quem diria que as Notícias de Última Hora do Hamas eram pouco fiáveis? Afinal, estes Alertas Hamas são, há décadas, fonte privilegiada de rigorosa informação sobre o Médio Oriente para tudo quanto é órgão de comunicação social do ocidente. Enfim, foi um pequeno deslize, que nem por isso mancha a reconhecida isenção dos facínoras do Hamas.
O azar do Paddy foi a má decisão de marketing que tomou há uns anos. Se quando escolheu o nome para o seu certame, em vez de Web Summit, tem optado por Web Anti-Semitic, ninguém tinha sido surpreendido pelos comentários que fez sobre Israel. Mas não há motivo para se preocuparem com o futuro do Paddy. É verdade que ele foi para a rua, mas se foi para a rua árabe estará todo satisfeito. A referida parte do regozijo com tudo isto advém de não mais termos de aturar os teatrinhos parvos do Paddy com Marcelos, Costas e afins no palco da Web Summit.
Quem infelizmente continuamos a ter de aturar é António Guterres. O secretário-geral da ONU não quis ficar atrás do Paddy e afirmou que os ataques do Hamas “não aconteceram do nada”. Muda a formulação, mas o anti-semitismo é o mesmo. Frase que é, também ela, uma nova formulação da clássica “Mudam as moscas, mas a caca é a mesma”.
Confesso que não conheço o resto da declaração de Guterres, mas imagino que tenha sido algo deste género: “Não, porque o Hamas chacinou dezenas de bebés, violou inúmeras mulheres, queimou pessoas vivas, e vez centenas de reféns, mas calma, porque teve muito boas razões para o fazer. Por exemplo,…” E aqui o nível de barbaridade tolda-me a imaginação.
Por cá, há muito livres das barbaridades de Guterres, podemos sempre contar com Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português para manter o barbarismo a níveis que pedem meças a qualquer Coreia do Norte. Exagero? Submeto a Prova A:
Assembleia da República
Projecto de Voto nº 483/XV/2ª
Ponto 2: Reafirma o seu reconhecimento do direito do Estado de Israel se defender contra atos de terrorismo no quadro do Direito Internacional.
Isto foi uma deliberação votada no Parlamento a 20 de Outubro último. Este Ponto 2 teve os votos contra do BE e do PCP. Sim, sim, o BE e o PCP acham que Israel não tem direito de se defender contra actos de terrorismo no quadro do Direito Internacional. Não me parece que achem o mesmo de qualquer outro país no mundo. O BE e o PCP dizem ao que vêm. Nós é que teimamos em ficar calados.
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