Costuma dizer-se que “A ignorância é uma bênção”. Ou melhor, os falantes de inglês usam a expressão, que não estou certo tenha esta tradução directa para português. E para já ficarei na ignorância porque, à hora avançada que escrevo, não ter de fazer essa pesquisa é, lá está, uma bênção.

Ora, qual é o meu problema. O meu problema é que, embora seja um indivíduo muito razoavelmente ignorante, tenho bastante dificuldade em ignorar notícias como a de que, no âmbito da invasão do Hamas a Israel, os terroristas palestinianos chacinaram 40 bebés israelitas, incluindo por decapitação.

Não quero com isto insinuar que o vómito provocado pela leitura desta notícia seja incompatível com o vómito provocado pela estreia do espaço de comentário de Pedro Nuno Santos na SIC. De todo, que este segundo regurgitar é mais do que justificado. Ainda que fique também a anos-luz da volta ao estômago que me dá cada vez que alguém menciona o “ciclo de violência” entre Israel e a Palestina, desta forma equiparando a nível moral o estado judaico e os facínoras terroristas do Hamas e companhia.

Curioso “ciclo de violência” este em que, como tão acertadamente referiu Golda Meir, “se os Palestinianos depuserem as suas armas, haverá paz. Se os Israelitas depuserem as suas armas, haverá um massacre.” Palavras que, por estes dias, e como nunca nos últimos 50 anos, constatam o óbvio: se hoje à hora do lanche os israelitas abdicassem de defender o seu país pela força das armas, ainda não se tinha dado a primeira dentada na torrada e Israel já não existia.

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Agora, que sossego deve ser ignorar, ou pelo menos ser capaz de comentar de passagem, com displicência, as manifestações pró-Hamas que tiveram lugar em tantas e tantas cidades por esse mundo ocidental fora, incluindo Lisboa, Berlin, Londres, Toronto, Malmo, Roterdão, Zurique, Copenhaga, Nova Iorque, ou Washington. Que gosto, constatar que em tais bastiões do progresso e civilidade é perfeitamente aceitável – e com tanto gosto reportado por variadíssimos meios de comunicação social! – haver demonstrações de apoio à carnificina de centenas de pessoas cujo crime foi assistir a um festival de música.

Ainda assim, há esperança. Pelo menos para Lisboa e para o nosso querido Portugal. Sim, é verdade que já nem o maior hospital da capital e do país tem urgências a funcionar. É verdade que os médicos estão a dever mais horas à cama que Portugal a credores internacionais. É verdade que faltam mais professores que nunca nas escolas, o que é pena, porque desde o início do ano lectivo já perderam imensas oportunidades de fazer greve. E sim, é também verdade que temos uma carga fiscal sueca e serviços públicos somalis.

Mas, meus amigos, calma. Calma, porque saiu uma sondagem da TVI e CNN Portugal. E o que revela essa sondagem? Revela que podemos acreditar no futuro. “Acreditar” no sentido em que é garantido que o futuro chegará. Disso não há dúvida. Mas não mais do que isso. Porque quando o futuro chegar vai tresandar a passado. Vem aí pivete à séria, uma vez que esta sondagem coloca o PS como o partido mais votado, precisando do Bloco de Esquerda, CDU, PAN e Livre para ter uma maioria absoluta. Tudo agremiações que nutrem simpatia, nalguns casos da bem forte, por carniceiros que raptaram dezenas, ou centenas, de israelitas, e passearam feridos e mortos pelas ruas de Gaza.

Perante tudo isto, qual a minha sugestão? A minha sugestão é adoptarem a estratégia de António Costa a cada novo escândalo associado à sua pródiga governação: ignorar. Está visto que é uma bênção.