Será Luís Marques Mendes o homem mais bem informado do país? Este fim-de-semana, o comentador deu a notícia – não foi uma previsão, nem um vaticínio, foi mesmo uma notícia, comunicada de forma taxativa – que o Novo Banco será vendido por inteiro, fora de bolsa, num prazo máximo de seis meses e elencou um conjunto de potenciais interessados.
Não é nova esta presciência de Marques Mendes, que nos últimos tempos pode ter ganho a dianteira do campeonato dos comentadores (em particular no que toca aos dois primeiros lugares, que disputa com Marcelo Rebelo de Sousa), ao antecipar várias notícias relevantes, como aconteceu justamente quando anunciou antes de toda a gente a solução para o BES. Não foi a única, embora tenha sido das mais retumbantes; e também se engana de vez em quando, como quando disse que o Comissário português não sairia do governo. Mas em geral, e sobretudo nos tempos mais recentes, Marques Mendes tem acertado, levando toda a gente a prestar especial atenção aos seus comentários.
Não parecendo crível que o antigo líder do PSD abuse das suas fontes, ouvindo delas as referidas notícias e transmitindo-as sem a respectiva anuência (o que aliás de imediato as “secaria”), restam duas hipóteses para explicar o seu sucesso: informação privilegiada “autorizada” ou até comunicada pelos actores dos processos em causa, digamos assim; cruzamento de informações recolhidas junto de distintas entidades e contactos pessoais, feito com sagacidade e alguma dose de sorte.
Sejamos francos, uma ou outra vez é possível obter informação privilegiada, cruzá-la com outros dados avulsos e retirar conclusões acertadas. Mas não é crível que notícias da importância das relativas ao BES tenham resultado de informação recolhida parcialmente, fragmentada, ouvida ou conversada aqui e ali com pessoas com relativo acesso aos assuntos em causa. Sobretudo quando se repetem.
Outro problema (também relevante), é o facto de Luís Marques Mendes dar notícias extremamente sensíveis antes de toda a gente, incluindo dos responsáveis (políticos, institucionais, corporativos, até dos jornalistas), suscitando óbvias questões jurídicas, de regulação e supervisão, sobre matéria sensível, classificada e protegida – ou que o devia estar -, já para não falar da dimensão política dos assuntos em causa. Não me refiro naturalmente a estudos de natalidade e muito menos à dimensão opinativa das intervenções televisivas de Marques Mendes, aliás de qualidade, mas de temas tão sensíveis e “vigiados” como o já referido BES.
Mais do que pitonisa, Luís Marques Mendes parece assim ser um mensageiro, alguém que transmite informações relevantes como “balão de ensaio”, um teste à opinião pública ou às reacções da oposição. Ao serviço ou no interesse de quem? É essa a principal questão, com respostas que variarão naturalmente conforme os assuntos e as circunstâncias.
Retomemos o caso do BES: quem transmitiu a Marques Mendes os dados em causa, pedindo-lhe (ou sabendo) que ele os iria divulgar em primeira mão na SIC? E se não foi assim, se estou completamente enganado, onde vai ele buscar a informação, tão precisa, tão exacta, tão oportuna? Recordo vagamente um jogo que joguei em criança, chamado cluedo (salvo erro), que desafiava os jogadores, através de alguns indícios básicos, a dar respostas a um enigma: quem, como, quando, onde, porquê? Neste caso também, são as as perguntas que me apetece fazer e cujas respostas, naturalmente, explicariam muita coisa sobre o que se passa e passou nos casos em causa.
Luís Marques Mendes é um excelente comentador, um fino político e um homem inteligente. Mas ao dar notícias antes do tempo, ao parecer adivinhar o que se vai passar, e se isso efectivamente se passar (porque é possível influenciar o resultado ante factum, até produzindo o oposto, mas isso é outra história), não faz o papel de pitonisa da corte, antes de mensageiro de um rei qualquer.
Post-scriptum: a semana passada lancei aos leitores o desafio de tentarem identificar, de entre uma lista aleatória de 10 amigos e conhecidos, qual o número de incompetentes que julgavam existir. Como expliquei, tratava-se apenas de uma curiosidade, permitindo embora ilustrar a crónica sobre o tema da incompetência em Portugal que escrevi na ocasião.
Pois bem, recebi para cima de uma centena de respostas, curiosamente uma minoria no próprio jornal (nos comentários), dezenas no endereço de e-mail, outras tantas via sms, em geral de amigos e conhecidos e até respostas pelo telefone ou presencialmente.
A média de amigos ou conhecidos que os leitores (e eu próprio) consideram ser incompetentes é ligeiramente inferior a 5 (em 10): 4,6%. Isto é, quase metade das pessoas que conhecemos parece-nos ser incompetente no que faz. Conclusão? Nenhuma de especial; mas é curioso (sobretudo à luz do conteúdo da referida crónica).
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa