Bem sei que um ano e três meses é uma eternidade em política. Também sei que muitas vezes as previsões acabam erradas (mas por isso dá mais gozo fazê-las). Depois de conversar com muitos em Bruxelas, e a maioria não portugueses, não tenho dúvidas que hoje António Costa é o grande favorito para ser o próximo Presidente do Conselho Europeu. É isso que afirmam muitos que conhecem bem a União Europeia, de várias nacionalidades e até de famílias políticas diferentes.
Obviamente, há imponderáveis que poderão impedir a ida de Costa para Bruxelas, mas, como me disse um veterano de Bruxelas, “se tivesse que apostar hoje, apostava no vosso PM” (naturalmente, expliquei que Costa nunca foi, não é, nem será o meu PM).
Eis o raciocínio de quem aposta em Costa. O PPE deverá continuar a ser o maior grupo político no Parlamento Europeu. Nesse caso, Von der Leyen deverá manter-se como Presidente da Comissão Europeia. Mesmo que não continue, e há quem diga que Biden gostava de a ver como a próxima Secretária Geral da NATO, a(o) próxima(o) Presidente da Comissão Europeia será do PPE (a família política de direita, do PSD e do CDS).
Com um Presidente da Comissão Europeia de direita, os socialistas querem a presidência do Conselho Europeu. Ora, o Presidente do Conselho Europeu é escolhido entre os PMs em funções. Foi assim que aconteceu com os anteriores dois Presidentes do Conselho Europeu e com o actual, Von Rompuy, Donald Tusk e Charles Michel. Os três eram PMs dos seus países quando se mudaram para Bruxelas. Olhando para os actuais PMs socialistas, António Costa e Pedro Sanchez são os grandes favoritos.
Para Costa viajar para Bruxelas, há uma segunda eleição que é fundamental: as legislativas em Espanha em Dezembro deste ano. O mais provável será o PP ganhar, e Sanchez abandonar a presidência do governo espanhol. Quando se escolher o Presidente do Conselho Europeu, em Junho de 2024, Costa será assim o grande favorito. Nessa Cimeira, os líderes europeus vão escolher um socialista entre eles para presidir ao Conselho Europeu a partir do final de 2024. Desconfio que olharão para Costa e dirão “terás que ser tu, António.”
Mesmo que António Costa quisesse, seria muito difícil rejeitar a escolha (é uma escolha, não é um convite). Mas Costa não pensa em outra coisa que não seja Bruxelas e aceitará em nome do “interesse europeu.” Costa irá para Bruxelas feliz e contente. E muitos portugueses ficarão ainda mais felizes. Ironicamente, o líder socialista que fez um acordo parlamentar com as extremas esquerdas anti-europeias, acabando com uma regra não escrita de décadas, para se mudar para Bruxelas irá desejar a vitória da direita em duas eleições importantes.
Nas eleições europeias, porque uma vitória do PPE abre a porta do Conselho Europeu a um socialista (o PSD irá ajudar Costa em Portugal, vencendo as europeias). Nas eleições espanholas, porque a vitória do PP, elimina o outro rival socialista: Pedro Sanchez. Mesmo que seja em nome dos seus interesses e sem qualquer convicção, não quero deixar de dizer: Bem–vindo à direita senhor PM. Pode ser que goste.