Costuma dizer-se que há dois tipos de políticos: os que subordinam os valores políticos à luta pelo poder; e os que colocam o respeito por valores fundamentais à frente da luta pelo poder. Os últimos têm convicções. Os primeiros não têm convicções.

António Costa faz parte dos políticos sem convicções. A natureza do PM ficou mais uma vez absolutamente clara com a visita que fez a Orban, PM húngaro. É completamente indiferente se o PM foi obrigado a fazer uma paragem técnica (claro que não foi), se queria ver Mourinho (viu?), ou se foi convidado pela UEFA para assistir à final da Liga Europa.

O PM é que decide a sua agenda política e pode (e deve) recusar certos convites. A questão é muito simples. Costa quis ver Orban. Se não o quisesse ver, não teria ido à final a Budapeste. Há alguma razão de interesse nacional vital que obrigue o PM de Portugal e conversar com o PM da Hungria? Não consta. E se houvesse, não seria tratada num estádio de futebol.

Costa foi a Budapeste porque está em campanha para chegar à Presidência do Conselho Europeu. Como PM da Hungria, Orban será um dos possíveis eleitores de Costa. Costa neste momento tem um receio. Com as vitórias dos partidos de centro direita nas últimas eleições nos países da União Europeia (na Suécia, na Finlândia, na Grécia e, possivelmente, em Espanha), aumentam as hipóteses da maioria dos PMs no Conselho Europeu ser de direita. Numa situação dessas, os PMs do PPE (família de centro direita onde está o PSD) podem exigir que o futuro Presidente do Conselho Europeu seja desse grupo politico, como aconteceu em 2009 com Von Rompuy e em 2014 com Donald Tusk. E em ambos os casos, os Presidentes da Comissão Europeia também eram do PPE (em 2009, Durão Barroso, e em 2014, Jean Claude Juncker). Costa sabe isso, e está assustado.

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Orban foi expulso do PPE (aliás, os socialistas europeus foram quem mais criticaram o facto do PM húngaro ter continuado tanto tempo no PPE), e quer fazer tudo para impedir um político do PPE de chegar a Presidente do Conselho Europeu. Costa e Orban são assim aliados na Europa contra o PPE. Em Portugal, Costa fez uma geringonça com a extrema esquerda para chegar a São Bento. Na Europa, fará uma geringonça com a extrema direita para chegar à Presidência do Conselho Europeu.

Costa justificou a vinda de Lula ao Parlamento no dia 25 de Abril com a vitória da democracia brasileira contra a ameaça representada por Bolsonaro. Ora, Bolsonaro e Orban são aliados. O PM húngaro também é aliado de Trump, e de Putin. Orban afirma claramente que é contra a democracia liberal e a favor do que chama a “democracia iliberal.”

Numa altura em que as democracias liberais enfrentam ameaças e inimigos perigosos e poderosos, os líderes políticos que não fazem concessões sobre os valores fundamentais da democracia liberal são mais necessários do que nunca. Infelizmente, o PM português já não tem qualquer autoridade política para defender os valores essenciais de um regime democrático. Costa elevou o oportunismo à regra absoluta do seu comportamento político. Num dia é capaz de acusar os professores portugueses de serem racistas. Mas uns dias antes, não sentiu qualquer problema em sentar-se ao lado de um PM que defende políticas racistas.