Hospitais. Pagamentos em atraso subiram para 605 milhões de euros: “Um valor superior aos atuais 605 milhões de euros de pagamentos em atraso não era registado desde fevereiro de 2015. O valor mais baixo foi o registado em setembro de 2015, mas as dívidas em atraso dos hospitais EPE começaram a disparar a partir de janeiro deste ano.”

Escolas sem dinheiro para luz e água: “Há agrupamentos de escolas prestes a ficar sem dinheiro para pagar despesas correntes, como as faturas de água ou eletricidade.”

Grávidas e doentes com apoios em atraso: “O portal das queixas da Segurança Social regista centenas de reclamações por causa de atrasos nas prestações compensatórias – subsídios que os trabalhadores não receberam por motivo de baixa prolongada, por exemplo.”

Hospital pede papel higiénico a doentes: “O hospital de Portimão está a pedir aos familiares de doentes internados que tragam de casa champô, gel de banho, papel higiénico e toalhas.”

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A sucinta amostra de notícias diz respeito às últimas semanas e evidencia algumas das consequências mais imediatamente visíveis da encenação do suposto “fim da austeridade” levada a cabo pela “geringonça”. Era evidente já em Outubro de 2015 que o país não tinha dinheiro para pagar mais socialismo, mas o imperativo político de acabar com a austeridade para alguns está muito rapidamente a conduzir a pesados custos para os portugueses em geral – com particular incidência nos grupos mais desfavorecidos, com menos capacidade reivindicativa e com menos acesso aos corredores do poder.

O facto de, por artes mágico-mediáticas da “geringonça”, a “austeridade” se ter passado a chamar “rigor” é fraca consolação para quem esteja consciente da gravidade da situação a que a actual maioria de esquerda está a conduzir o país. A reversão das tímidas reformas do anterior governo, o crescimento económico anémico, o incumprimento dos objectivos de redução do défice, a delicada situação do sistema bancário nacional e a crescente descredibilização face às instituições europeias são factores que apontam todos no sentido de uma nova crise, de consequências difíceis de prever na nova conjuntura europeia e mundial.

À medida que a demagogia dos propagandistas da esquerda radical que impulsionaram a “geringonça” vai colidindo com a realidade, fica cada vez mais claro que o prometido “virar de página da austeridade” acabará por conduzir a um novo capítulo com ainda mais austeridade. Desde Passos Coelho às instituições europeias – sem esquecer os “mercados” – não faltarão bodes expiatórios a quem apontar o dedo no momento do colapso, mas nessa altura importará recordar que foi a “geringonça” quem fracassou estrondosamente no cumprimento das suas promessas.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa