António Costa desceu, recentemente, mais um degrau naquilo que deveria ser o comportamento exigido a um primeiro-ministro ao catalogar os membros e dirigentes da Iniciativa Liberal como “queques que guincham”. Infelizmente, o uso deste tipo de vocabulário não é novo em António Costa. Em 2019, ao responder a Assunção Cristas no parlamento acerca de acontecimentos de violência no bairro da Jamaica entre polícias e moradores, Costa profere a seguinte declaração: “É pela cor da minha pele que me pergunta se eu condeno os casos do bairro da Jamaica?”. Este tipo de linguagem não pode ser admitido a um primeiro-ministro, que só o faz porque sabe que tem o respaldo de um presidente da República absolutamente inebriado pela popularidade e incapaz de colocar o primeiro-ministro no seu lugar.

Quando António Costa deixar de ser líder do governo, a somar a um país dos mais pobres e envelhecidos da Europa, deixará para trás também um país onde o clima social e político se deteriorou a um nível insuportável e onde a qualidade e urbanidade da luta política caíram para níveis pouco dignos. A estratégia de António Costa e do PS está à vista de todos e nem é assim tão genial, ao chamar para a luta política desta forma a IL (e muitas vezes também o Chega, tal como faz Augusto Santos Silva) ignora completamente o seu principal adversário político nas urnas, o PSD, retirando-lhe visibilidade, sobretudo quando este tem uma nova liderança que precisa de se afirmar e até está a crescer nas sondagens.

O problema de António Costa é o seguinte: o que lhe sobra em habilidade política falta-lhe em capacidade de liderança, conhecimento técnico e visão. Os casos que o seu governo ainda tão recente acumula provam que o primeiro-ministro já não tem mão no governo, que a sua capacidade de recrutamento é cada vez menor e a sua autoridade está posta em causa, sobretudo agora com Pedro Nuno Santos fora do governo, livre para liderar a oposição interna e desejoso de assegurar o pós-costismo.

No meio disto tudo, o que deve fazer a direita? Posicionar-se como alternativa no curto-médio prazo. Neste momento, e sobretudo com esta cadência de escândalos e casos, não é totalmente descabido considerar a queda do governo antes do fim da legislatura, pelo que os partidos que querem ser alternativa devem posicionar-se aos olhos da opinião pública, através de propostas coerentes e corajosas em áreas tão fragilizadas como saúde, educação e justiça, provando serem capazes de, a qualquer momento, passarem da oposição para o governo.

Entre a direita, a dúvida que se levanta é a seguinte, será preferível que o governo caia o quanto antes para haver mudança de rumo ou deve ser o PS a arcar com as consequências da sua governação nos próximos quatro anos? Da minha parte, não sou adepto do quanto pior melhor, está à vista de todos que o governo não tem rumo nem estratégia e que o melhor é que seja substituído o quanto antes, quanto mais tempo por lá se mantiver, mais difícil será recuperar o país.

A Iniciativa Liberal apresenta agora uma moção de censura, depois de ter chumbado há pouco tempo outra do Chega. Saúdo a mudança de opinião, mas pergunto: não valeria a pena ter votado a favor a anterior, ou a abstenção foi apenas por ter sido apresentada pelo partido de Ventura? Por seu lado o PSD continua a tentar perceber como deve lidar com dois partidos fortes ao seu lado. Incapaz de liderar a oposição, vai indo de abstenção em abstenção, até à vitória final? O tempo o dirá.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR