Primeiramente devo dizer que estou muito, muito habituada a levar pedradas e a ouvir berros em caps lock vindos de leitores. Sim, ser colunista de jornal é basicamente a atividade de tentar desviar constantemente de objetos e palavras de raiva que são arremessados na nossa direção. E tudo bem, a gente se acostuma e acaba nem ligando, para a infelicidade dos haters. Mas a reação ao meu último texto (Geração Millennial: os jovens que são bons demais para qualquer emprego) foi algo realmente inédito na minha carreira.

Foi uma espécie de Sporting X Benfica literário (ou, no Brasil, de Fla X Flu). Recebi centenas de mensagens de amigos e desconhecidos com mais de 30 anos- chegando até a casa dos 70 anos-, me agradecendo pelo texto, pois todos eles sentem diariamente o que eu narrava ali. Por outro lado, centenas de millennials- alguns educados, alguns mal educados, alguns malucos e vários insanos e histéricos- me procuraram por e-mail, instagram, facebook, pombo correio ou carta na garrafa para berrar que eu estava equivocada, mal informada ou completamente doida quando escrevi aquilo.

Trata-se de um fenômeno bastante sintomático. No texto eu fiz questão de dizer que há exceções, há millennials que não são mimados, mal agradecidos e descomprometidos. Poucos, mas há. E, havendo essa margem, achei que os que não se identificassem com a regra, se identificariam com a exceção e pronto, sem stress. Mas não, houve uma rebelião total, enquanto pessoas de 35, 40, 54, 68 continuavam a me dizer “eu vi os meus dias narrados naquele texto, na convivência com millennials”.

Resolvi pensar melhor sobre o assunto e pesquisar ainda mais sobre isso. Vi muita coisa. E, honestamente, não mudei em nada a minha opinião sobre o comportamento deles — que é uma realidade, pura e simples — mas passei a refletir sobre as origens desse comportamento. E talvez a culpa não seja dos millennials.

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Uma das coisas mais interessantes que vi foi uma entrevista com o escritor inglês Simon Sinek, sobre as dificuldades de lidar com essa geração. E uma das coisas que ele menciona é que uma imensa parte dos millennials teve pais ausentes, que trabalhavam até tarde para sustentar a casa. E as crianças sofrem com isso. Não é de se surpreender que millennials tenham horror a trabalhar até tarde: estão pedindo a eles para serem exatamente o que mais os magoou. E esses pais, culpados, mimaram os filhos nas horas vagas, para compensar sua ausência, com presentes e palavras. Convenceram os meninos de que eles eram realmente muito especiais e eles cresceram certos disso.

De repente, eles chegam no mercado de trabalho e descobrem que não são especiais. São pessoas normais, como qualquer outra. Sim, como QUALQUER OUTRA. Como a senhora de limpeza, como o colega que estudou numa faculdade menos reconhecida como o chefe bem sucedido, como o rapaz que leva coisas ao correio. Mas não, eles não se conformam com isso. EU. SOU. ESPECIAL. Nos desculpem, queridos, mas vocês não são. E a culpa não é de vocês, mas é de um mundo que permitiu que vocês pensassem assim.

E foi dessa forma que os millennials começaram a se sentir inseguros. O tal passivo-agressivo. Soma-se a isso a relação com as redes sociais e os likes, seguidores e toda a farsa que reside ali. Se eles são diariamente convencidos de que tudo o que fazem e postam é incrível, como pode um chefe dizer que o relatório está uma porcaria? Eles sempre foram convencidos de que são fantásticos. Não são. Nem seu chefe é. Nem eu sou. Nem ninguém. Somos só pessoas que trabalham, se esforçam, acertam e erram. Simples assim.

A combinação de uma imensa carência com a fantasia de felicidade e sucesso que é vendida nas redes sociais foi a combinação explosiva para fazer com que milhões de jovens pulem de emprego em emprego a cada 6 meses ou um ano, julgando que não encontraram a felicidade suprema, que não estão ganhando super bem, nem sentem que fazem um trabalho arrebatador. Spoilers: trabalho sempre será algo árduo/ não dá pra ganhar super bem saindo às 17:30 e entrando no instagram a cada 15 minutos/ quase ninguém faz o trabalho mais fantástico do mundo aos vinte e poucos anos.

Mas a coisa é: a culpa não é de vocês. E, por isso, nos desculpem. Tem uma parcela de culpa de todo mundo nisso. Dos pais, da escola, do mercado de trabalho, da indústria, das redes sociais. E, sim, temos coisas a aprender com vocês. São quase 20hs de uma sexta-feira e estou no escritório escrevendo. Isso evidentemente não é bom. Vocês sabem coisas que a gente não sabe. Mas não esqueçam: vocês também têm muita coisa a aprender com gente mais velha. Ouçam. Interiorizem. Pensem. Se vocês ouvirem bem, tem momentos em que a gente até pede desculpas. E todo mundo é capaz de ser melhor do que é.