O que devemos saber?

Passamos a ter os atos próprios da profissão em sede de estatuto, e há que reconhecer que foi com um legado de muita persistência que se conseguiu chegar até aqui, depois da discussão de um Ato em Saúde que não chegou a ver a luz do dia. Os atos próprios protegem, sobretudo, a população, que fica menos exposta a serviços fraudulentos e a riscos para a saúde.

Doravante, também os estágios remunerados passam a ser condição obrigatória – acrescento que é da mais elementar justiça que assim seja –, novos órgãos passam a integrar os corpos sociais da Ordem: um Provedor dos destinatários dos serviços e um Conselho de Supervisão. Há necessidade de adaptar regulamentos, e eleições a breve trecho.

A Ordem dos Nutricionistas conta com cerca de 300 estágios por ano. Até ao momento, estima-se que 1/5 são remunerados. A partir de hoje, todos passarão a sê-lo, sob pena de não se realizarem. O que vai acontecer? Há garantias para estes 300 jovens? Aparentemente, não. Será uma autossabotagem, ou a crente letargia que o problema se resolverá no novo ciclo eleitoral?

Perguntas por responder…E à Ordem cabe a intervenção direta nesta e noutras matérias, de forma atempada e assertiva, caso contrário, isso comportará um prejuízo imenso para uma classe profissional tão capaz e tão necessária a todos.

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Estamos a 9 dias das eleições. O tema que os portugueses elegeram como primordial para os debates políticos foi, justamente, o da saúde. Da saúde em Portugal, sabe-se da escassez de profissionais de saúde no Serviço Nacional de Saúde – nomeadamente de nutricionistas – da elevada prevalência de doenças crónicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, cancro, diabetes, obesidade, do número de anos de vida saudável perdidos e da mortalidade por alimentação inadequada. Sabe-se da elevada despesa no tratamento da doença, com parco investimento na promoção da saúde.

Estamos num momento crítico, mas de enormes oportunidades em matéria de saúde nutricional no nosso país:

  • A intensa reforma do SNS com a criação das Unidades Locais de Saúde, que se espera facilitar a contratação de mais nutricionistas para o setor público e uma resposta mais assertiva às necessidades dos cidadãos. Sob este epíteto, sublinhar dois diplomas publicados em 2023 em matéria de saúde nutricional: o Despacho n.º 9984/2023 de 27 de setembro, que alarga a identificação sistemática do risco nutricional a todos os níveis de cuidados do SNS e o Despacho n.º 12634/2023 de 11 de dezembro, que determina a implementação de um modelo integrado de cuidados para a prevenção e tratamento da obesidade. Ambos legados que apoiam uma mudança de paradigma em termos de cuidados nutricionais;
  • Paulatinamente, temos assistido à consciencialização sobre o papel do nutricionista nas Escolas. A saúde dos mais jovens é o garante da saúde futura;
  • O nutricionista é hoje visto como um profissional diferenciado, especializado, capaz de prestar um serviço de excelência. Um percurso de diferenciação que não pode conhecer retrocessos, sobretudo agora que há mecanismos simplificados para a criação de novos títulos de especialidade profissional.

São estas e outras oportunidades que se debaterão com o grau de compromisso de diferentes níveis de decisores e daqueles que podem apoiar os processos de tomada de decisão sem se isentarem da sua responsabilidade de representação da classe e da defesa intransigente dos interesses dos cidadãos. Para além de discursos e reflexões, precisamos de poder de argumentação e evidência que adicionem mais conquistas para a profissão.

Como nutricionista, pretendo contribuir para a contínua evolução positiva da profissão, de forma refletida e ponderada, com a ampla participação de todos nós que a fazemos ser, todos os dias. A nutrição deve estar na Ordem do dia.