Portugal atravessa uma crise de meia-idade. A proclamação do Ministro da Defesa sobre Olivença, ladeado por dois militares em uniforme de combate, foi a prova que faltava. O país sente-se velho e está desejoso de reviver as glórias do passado. Há quem compre um descapotável, quem comece a fazer jejum intermitente e triatlo, quem faça um implante de cabelo, tudo para se sentir jovem. Já o Governo opta por começar uma guerra com Espanha. São estilos.

Percebe-se. Ao longo da nossa história, ciclicamente, Espanha foi tentando pôr-nos a mão no lombo. Com maior ou menor dificuldade, demorando mais ou menos tempo, fomos resistindo aos avanços. Valentes, mas lisonjeados pelo interesse. Éramos um país novo, vistoso, elegante. Éramos um país sexy.

Afonso Henriques teve de andar à bulha com os castelhanos que queriam ficar com o nosso território. D. João I a mesma coisa, para expulsar os abusadores espanhóis que queriam suceder a D. Fernando. Em 1580, depois de D. Sebastião desaparecer em Marrocos, Castela conseguiu estabelecer-se aqui durante 60 anos. Mesmo depois de D. Joao IV correr com Filipe III, os espanhóis continuaram a pôr as mãozinhas de fora. E durante o séc. XVIII nunca deixaram de tentar a sorte nas nossas fronteiras. Até 1801 e à Guerra das Laranjas, no seguimento da qual ficámos sem Olivença – supostamente devolvida no Congresso de Viena. Desde então, há mais de 200 anos, os espanhóis nunca mais olharam para nós. Nem uma mirada de relance, uma tentativa de invasão. Nada. Somos invisíveis para nuestros hermanos. Perdeu-se a chama.

Nuno Melo quer reacendê-la. Como um velho de 80 anos que vai passear as pendurezas para o paredão de Carcavelos, achando que vai galar as raparigas mais novas, o Ministro da Defesa está a tentar chamar a atenção de Espanha. No fundo, tenta fingir que ainda é o jovem enxuto que se engalfinhou com os castelhanos nos Atoleiros e em Montes Claros. Só que Espanha nem reparou.

Temos de encarar a realidade. A nossa vizinha já não olha para nós com a concupiscência de outrora. A última vez que demonstrou algum interesse num território português foi a propósito das ilhas Selvagens, que consideram ser parte das Canárias e não da Madeira. Só que isso é fraco consolo para Nuno Melo. As Selvagens são um conjunto de calhaus a meio caminho entre a Madeira e Marrocos, habitadas por pássaros e dois ou três faroleiros. Ocupa uma área equivalente a uns duzentos campos de futebol. Só que do feminino, o que significa que não suscita grande curiosidade. Provavelmente, trata-se da parte menos atraente de Portugal. Espanha mostrar interesse pelas Selvagens é o equivalente a uma mulher jovem e bonita dirigir-se a um velho gordo, desdentado e corcunda, para lhe dizer que tem umas pestanas muito bonitas.

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