Na semana passada, depois de não ter sido atendida nas urgências do Hospital de Santarém, uma grávida foi obrigada a viajar 70 km para ter um bebé em Abrantes. Felizmente, a recém-mamã tem apenas 17 anos. O que significa que cumpriu a sua escolaridade durante os Governos do PS e, a fazer fé nos últimos resultados do PISA, caminha a passos largos para o analfabetismo funcional. Como nunca deve ter aprendido a fazer conversões, para ela 70 km ou 70 metros é a mesma coisa. E é-lhe indiferente em que hospital dá à luz, porque é óbvio que não deu Geografia suficiente para distinguir Abrantes de Almeirim. Mas que interessa é que o bebé nasceu bem, com saúde e com os dedinhos todos – garantiu-lhe alguém que sabe contar.

O Ministro da Educação desvaloriza a pioria do desempenho dos alunos portugueses, afirmando que os resultados caíram em linha com os dos restantes países da OCDE. O que é falso. Conseguimos cair mais do que a média em leitura, ciências e matemática. Isso, paradoxalmente, acaba por ser uma boa notícia. Não a queda superior, claro. Mas o facto de o Ministro dizer que a queda é igual às outras é um óptimo sinal. Quer dizer que não é preciso frequentar o sistema de ensino actual para se ser ignorante a analisar gráficos e dados estatísticos. É também um sinal de esperança para os jovens de hoje. Sabem que, mesmo sem habilitações matemáticas básicas, podem vir a ser ministros.

Não é fácil saber a que se devem estes resultados tão maus. Terá sido da perda de exigência desde 2015, quando António Costa chegou ao Governo e resolveu acabar com os exames? Ou foi pelos confinamentos exagerados, que mantiveram as escolas portuguesas fechadas durante mais tempo do que na maioria dos outros países? Pode ter sido pela falta de condições para ensino online, com milhares de alunos sem acesso a computadores, apesar de terem sido prometidos várias vezes pelo ministro? Talvez tenha sido por não haver medidas de recuperação de aprendizagens?

Se fosse um teste de escolha múltipla a resposta correcta a esta pergunta seria “todas as opções”. Ainda bem que este Governo não permite perguntas com rasteira, pois podem traumatizar os petizes.

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Para ser justo, reconheço que há atenuantes para estes péssimos resultados. Há dias soube-se que, no fim do primeiro período, ainda há mais de 32 mil alunos sem pelo menos um professor. Visto assim, os resultados do PISA nem são assim tão maus. Para crianças sem professores, até são razoáveis.

O PISA também prova que Ministério da Educação esteve bem na redução das desigualdades. Os resultados dos alunos com boas condições socioeconómicas desceram tanto quanto os dos alunos carenciados, mostrando que as medidas igualitárias do Governo deram resultado. Destaco especificamente a decisão do então Ministro Brandão Rodrigues que, como a escola pública não tinha condições de garantir ensino online aos seus alunos, obrigou as escolas privadas a também suspenderem as aulas à distância.

Não sou governante, mas tenho a certeza de que, num mundo em que falta paciência para deixar as políticas de longo prazo produzirem efeito, um ministro deve sentir um orgulho enorme ao constatar que a decisão tomada há quase três anos finalmente obteve o resultado pretendido. Com um decreto em Janeiro de 2021, Brandão Rodrigues conseguiu acabar com o privilégio. Designadamente, o privilégio dos alunos da escola pública de serem os únicos a usufruírem de mau ensino.

Porventura, a mais impressionante marca dos governos de Costa é a descida do abandono escolar. Agora que o Governo chegou ao fim, não há balanço em que essa marca não seja destacada. Com justiça, diga-se. Foi com a governação do PS que se deu uma inversão na tendência e as crianças deixaram de abandonar a escola. Agora passou a ser a escola a abandonar as crianças.

Entretanto, numa sessão de campanha por Pedro Nuno Santos que acumulou como entrevista, João Costa disse que, se o seu candidato for o próximo PM, o Governo vai devolver o tempo integral de serviço aos professores. Isso indica que PNS pode ter ideias de como dar a volta a uma situação que durante 8 anos pareceu irresolúvel. Se funcionar, quem sabe se um Governo de Pedro Nuno Santos, auxiliado pelo actual Ministro da Educação, não engendra também uma forma devolver o tempo perdido pelos alunos? Pelas minhas contas, um aluno que frequente agora o 8º ano tem os conhecimentos do 6º.

Em 2015, a emblemática primeira medida tomada pela geringonça foi o fim dos exames nacionais. Na altura, para o justificar, Catarina Martins disse que, em vez de um médico que tivesse sido testado na escola, preferia um que soubesse dar gargalhadas.  Bons tempos, em que havia médicos suficientes para se poder optar entre dois. Hoje, às vezes nem um há. A entrar em trabalho de parto, a rapariga de 17 anos que teve de ir de escantilhão para Abrantes até se contentava com um palhaço de estetoscópio.

Em breve vão chegar ao mercado de trabalho os médicos escolarizados durante os últimos 8 anos. Não sei se são melhores os que foram testados na escola ou os que apenas gargalharam. Tenho um suspeita, mas não vou conseguir tirá-la a limpo. Graças a outras medidas também apoiadas pelo Bloco, os que adquiriram conhecimentos científicos terão também aprendido o inglês suficiente para se pisgarem daqui para fora.