Foi com grande satisfação que soube que o ex-juiz Rui Fonseca e Castro e a sua associação Habeas Corpus, na sua defesa intransigente da segurança das nossas crianças, em novo boicote a perigosa história infantil, interromperam mais um lançamento de livro. Desta feita, tratou-se da obra “O avô Rui, o senhor do Café”, de Mariana Jones.

Em boa hora o fez. Não podemos permitir que esta propaganda repelente alcance as mãos puras dos nossos anjinhos. A coberto de uma homenagem inócua a um empresário português, a autora pretende inculcar valores contrários à nossa matriz civilizacional. Como é do conhecimento geral, o Comendador Rui Nabeiro foi contrabandista. Ora, o que é um contrabandista senão alguém que introduz ilegalmente produtos do estrangeiro. Para quê? Para substituir os nossos produtos de cepa lusitana. Mais: a Delta, maior criação de Nabeiro, é uma empresa maléfica que promove o consumo de café. Sucede que o café é um fruto africano, originário da Etiópia. Não faz sentido tê-lo cá. Se queremos bebericar uma mixórdia escura em chávenas pequenas, na nossa Europa não faltam vegetais que, diluídos em água quente, produzem zurrapas igualmente amargas. A chicória, por exemplo. Se a Delta é a grande empresa portuguesa que se diz por aí, substitua o café por chicória. Em vez de uma mistela africana, uma mistela europeia!

Disfarçada na história de Nabeiro, a autora quer impingir aos nossos filhos estes exemplos de multiculturalismo. Graças a Deus, Rui Fonseca e Castro não o permitirá. Daí ter interrompido a sessão de endoutrinação numa livraria do Porto. Até que enfim há coragem para desmascarar o nefando culto de Rui Nabeiro. De facto, já era tempo de alguém se revoltar contra o bonacheirão de Campo Maior que meteu toda a gente a beber café a preços bastante aceitáveis.

Além do livro subversivo sobre Rui Nabeiro, Fonseca e Castro também repreendeu a autora pela promoção que faz à homossexualidade infantil na sua outra obra “O Pedro gosta do Afonso”. Confesso que tenho interesse em perceber melhor como é isso de ensinar homossexualidade a crianças. É que estou há imenso tempo a tentar que o meu filho aprenda a lavar os dentes, uma prática bastante mais simples que a homossexualidade, e está difícil.

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Se Rui Fonseca e Castro tiver razão – e não há razões nenhumas para suspeitar que não tenha – estou a braços com um problema gravíssimo. O livro que ando a ler ao meu filho antes de dormir chama-se “A Baleia”, de Benji Davies, e é a história de um rapaz que encontra uma baleia encalhada na praia e a leva para sua casa. Encontro-me num grande estado de ansiedade, agora que o meu filho vai começar a ir à praia com a escola. Sabe-se lá o que é que anda a dar à costa na Caparica. Receio chegar a casa um dia ao fim da tarde e encontrar um atum na banheira.

Parece-me que a grande inquietação de Rui Fonseca e Castro é a extrema influenciabiliade da criança, para quem a mera sugestão de uma amizade entre dois rapazes vai condicionar a sua sexualidade para sempre. É óbvio que Fonseca e Castro apenas tem essa preocupação com os mais novos. Com adultos é muito mais tolerante. Caso contrário, há tempos não teria convidado um polícia para se enrolar consigo num colchão, numa prática desportiva que os antigos gregos muito apreciavam e que implica largos períodos de contacto entre os genitais de um atleta e a cara do outro, com ocasional esfreganço. Mas não é por um juiz e um polícia estarem aos amassos (só faltando um índio e um metalúrgico para ser um teledisco dos Village People) que isto é considerado promoção de sexualidade alternativa. A não ser, claro, que alguém contasse essa história, com desenhos, num livro chamado “O Meritíssimo e o Sr. Agente rebolam-se pelo chão”. Mas Fonseca e Castro nunca o permitiria. Ao contrário do que as más-línguas dizem, o nome completo da associação de Fonseca e Castro não é Habeas Corpus Oleadus et Tonificadus.

Rui Fonseca e Castro é uma figura injustamente perseguida. É costume vê-lo descrito como “negacionista”, acusação falsa que se refuta com facilidade. Negacionista tem no seu interior “sionista” e se há coisa que Rui Fonseca e Castro já demonstrou é que odeia judeus. O que Rui Fonseca e Castro é é um homem à antiga. Daí a embirração entre ele e Mariana Jones. Com este apelido, a autora deve ser parente do Indiana Jones. E, tal como o primo arqueólogo, está mais que acostumada a lidar com velharias.

É uma pena a Justiça portuguesa já não poder contar com Fonseca e Castro como juiz. Numa altura em que tanto se debate se as escutas devem ou não ser sancionadas, dava jeito ter um magistrado especialista. É que é evidente que Fonseca e Castro está habituado a ouvir vozes.