1 Há algo que podemos sempre contar com o PCP: a certeza de que o fanatismo e a ortodoxia de ferro dos comunistas é sempre uma via verde para as posições mais abjetas que possamos imaginas. Lenine pode ter aprendido com Maquiavel. Mas os comunistas portugueses aprenderam definitivamente com Lenine e com Estaline: os fins justificam (sempre) os meios.
Quando um grupo terrorista chamado Hamas mata indiscriminadamente cerca de 900 pessoas (sendo a maioria civis israelitas, nomeadamente mulheres e crianças), tais atos são para o PCP meros “acontecimentos” que são o “resultado de décadas de ocupação” da Palestina por parte de Israel.
Quando os mesmos terroristas islâmicos, que defendem a criação de uma ditadura religiosa como a do Irão, raptam cerca de 100 civis (novamente, muitas mulheres e crianças) para levá-las para a Faixa de Gaza, existindo mesmo ameaças de violência sexual contra as mulheres, tais atos para o PCP são novamente “acontecimentos” cuja responsabilidade pertence naturalmente ao “governo de extrema-direita de Netanyahu” e aos “colonos israelitas”.
Mesmo que o Hamas não reconheça o Estado de Israel e seja historicamente contra a política dos dois estados, mesmo assim o PCP tem o desplante de a coberto de um ataque terrorista que, para já, matou cerca de 900 seres humanos de forma indiscriminada, defender a implementação da tal política de dois estados.
Os mesmos comunistas portugueses que justificam a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, os mesmos comunistas portugueses que foram educados e ensinados pelos seus antigos amos e senhores de Moscovo de que a Ucrânia nunca existiu enquanto cultura, são os mesmos que são incapazes de condenar o Hamas e os seus crimes hediondos.
2 Não é de admirar. O anti-semitismo sempre foi uma característica do estalinismo — que foi (e continua a ser) tão bem acolhido de forma acrítica pelos comunistas portugueses. Muitos judeus russos foram obrigados a mudar de nome após a chegada de Estaline ao poder e mesmo após terem sido alvo de tentativa de extermínio pelos nazis alemães, continuaram a ser perseguidos na União Soviética após a vitória na II Guerra Mundial.
Os comunistas portugueses não reconhecem estes (e muitos outros) crimes do estalinismo. Por isso mesmo, não admira, repito, que tentem justificar os crimes de Putin, como tentam justificar os crimes do Hamas.
Já o Bloco de Esquerda, sempre mais cínico e ciente da impopularidade junto da opinião portuguesa de certas posições, é mais subtil. Tal como o PCP, não classifica na ‘notícia’ que dá no seu jornal oficial (o esquerda.net) o Hamas como uma organização terrorista e faz questão de enfatizar que se verificaram “centenas de mortes e milhares de feridos em Israel e, principalmente, na Faixa de Gaza” — quando nesta segunda-feira o maior número de vítimas eram indiscutivelmente israelitas.
O Bloco de Esquerda não tinha até esta 2.ª feira, que eu tenha reparado, uma posição oficial de condenação do ataque terrorista do Hamas. Apenas uma posição da eurodeputada Marisa Matias falava em “vítimas inocentes dos dois lados são o efeito da ocupação” da Palestina por Israel.
3 A estratégia política do PS de António Costa assenta há anos num condicionamento das políticas de aliança do PSD. Impor uma cerca sanitária ao Chega, por via das suas políticas de descriminação dos ciganos e por via da defesa de políticas anti-emigração, tem sido um objetivo bem sucedido por parte dos socialistas.
Deixando de lado a constatação óbvia de que tal estratégia permite ao PS eternizar-se no poder, face à força eleitoral crescente do Chega, importa perguntar: e o PCP não merece uma cerca sanitária?
Não emitir uma palavra de condenação sobre um massacre terrorista de centenas cidadãos indefesos (muitos deles mulheres e crianças) não é motivo para impor uma cerca sanitária aos comunistas? Se os dirigentes do Chega podem ser classificados como racistas por defenderem uma fiscalização dos apoios sociais à comunidade cigana, então como devemos classificar os comunistas portugueses que aceitam em silêncio o massacre de mulheres e crianças judias?
Será que o PCP considera legítimo o assassinato de civis em nome de causas que considere justas?
É que já não é só a defesa da saída de Portugal da União Europeia e do Euro. Além de defender essas ideias radicais e extremistas (que são parcialmente apoiadas pelo Bloco de Esquerda mas que são rejeitadas pela esmagadora maioria dos portugueses), o PCP também passou a não censurar a invasão de um Estado soberano como a Ucrânia e agora também fica em silêncio por massacres levados a cabo por fanáticos religiosos que defendem o Corão como constituição, são contra direitos humanos básicos (como os direitos das mulheres, por exemplo) e querem impor uma ditadura teocrática na Palestina.
E mesmo assim o PS fará as alianças que entender com o PCP quando necessitar dos comunistas para chegar ao poder. Bastou ouvir Pedro Nuno Santos na sua estreia como comentador político na SIC Notícias para perceber que os socialistas exigem ao PSD aquilo que não aplicam a si próprios.
É uma ironia mas a esquerda defende mesmo a desigualdade na aplicação de cordões sanitários. Os fins (a conquista do poder) justificam os meios (ignorar o extremismo do PCP).
4 Fingir que o PCP não é o PCP — e não tem uma história de apoio incondicional a algumas das maiores ditaduras da história da humanidade — é uma política de referência para António Costa e para os socialistas que o apoiam.
Aliás, fingir é algo que o primeiro-ministro faz muito bem. Se repararmos bem, António Costa e o seu Governo finge que não governa há oito anos.
Os hospitais têm falta de médicos, as urgências e os centros de saúde funcionam mal, vários milhões de portugueses não têm um médico de família, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) degrada-se a cada dia que passa e a direção executiva do SNS trabalha há um ano sem estatuto. Mas o ministro Manuel Pizarro finge que o PS não governa há 8 anos.
As escolas têm falta de professores e de auxiliares, ainda há milhares de alunos sem professores e desde o ano passado que sucessivas greves impedem uma aprendizagem normal dos alunos das escolas públicas. Mas o ministro João Costa finge que não está no Ministério da Educação há 8 anos.
António Costa está no poder há oito anos e foi precisamente nesse período que o problema da habitação se agravou de forma dramática. E de quem é a culpa? Do Governo Costa é que não é de certeza. A culpa é do alojamento local, dos nómadas digitais e até das isenções fiscais aos não residentes que o Governo do PS apostou forte e feio.
Há economistas e profissionais do setor do imobiliário que explicam por A+B que o problema está do lado da oferta de habitação a custos controlados e para a classe média e que o Governo anda a dormir na forma há oito anos? Não interessa. A culpa é de todos, menos do Governo.
5 O mais extraordinário é que, além de fingir que não governa há oito anos, António Costa inventou um novo mantra: todos os problemas que o primeiro-ministro e os seus ministros não conseguem resolver há oito anos, passaram a ser problemas estruturais com 20 ou 30 ou 40 anos.
Várias organizações internacionais, como o FMI ou a OCDE, já tinham avisado em tempo útil que iríamos ter problemas de recursos humanos na educação e na saúde devido às reformas dos quadros mais velhos? Não interessa. A culpa já não é do Passos, passou a ser de Soares, de Cavaco, de Guterres, de Barroso ou de Sócrates.
E se for necessário passará a ser de Salazar. Mesmo que isso implique a mensagem de que a democracia falhou por completo.
As medidas radicais e o discurso populista da ministra Marina Gonçalves são as principais causas da retirada de milhares de casas do mercado de aluguer, tendo os preços do mercado de aluguer disparado em Lisboa desde 2022? Isso então é que não interessa nada. Como diriam os manifestantes de extrema-esquerda: “morte aos ricos” e “ser senhorio não é profissão”.
6 A realidade, contudo, é outra: António Costa finge que não governa há oito anos. Faltam professores e médicos, o país vive um drama social nunca visto de habitação e os tribunais estão parados com greves sucessivas que duram desde 2022 sem que a ministra Catarina Sarmento e Castro tenha feito algo mais do que esperar pelo Orçamento de Estado por total incapacidade política.
O conforto da maioria absoluta tudo permite, como passar a ideia de que tudo está bem quando não paramos de ser ultrapassados no ranking do poder de compra da União Europeia. Agora, foi a Roménia…
Dizem os comentadores políticos mais alinhados com o Governo que António Costa é um génio político porque conhece bem os portugueses. Sabe que eles não querem grandes mudanças. Querem apenas viver a sua vidinha, se necessário com apoios públicos e sem que ninguém os incomode muito.
Será assim? É verdade que o PSD de Luís Montenegro continua a não descolar das sondagens mas mesmo a sondagem da SIC/Expresso conhecida esta segunda-feira dá o PS com 31% — com menos de 10% do que o resultado que permitiu a maioria absoluta em janeiro de 2022.
Tal como os resultados da mesma sondagem comprovam, mais de metade dos inquiridos chumbam a atuação do Governo de António Costa.
Veremos o que acontecerá nas eleições europeias e até às legislativas de 2026. Mas não tenho grandes dúvidas sobre a herança do costismo:
- um país claramente mais extremado, em que o Chega sobe nas sondagens para gáudio dos socialistas porque vêem nisso uma péssima notícia para o PSD;
- em que o próprio PS se arrisca a cair nas mãos da sua ala esquerda capitaneada por Pedro Nuno Santos;
- além, claro, da total ausência de obra e de reformas estruturais.
O homem que finge que não governa há oito anos vai deixar o país de rastos.
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