Konrad Adenauer tinha uma figura imponente e imperturbável. Kissinger diz-nos (Leadership) que falava de forma concisa e cadenciada no que diferia do discurso prussiano por via do qual, e segundo Mark Twain, as frases marchavam através das conversas como se fossem formações militares. Kissinger também refere que a serenidade de Adenauer contrastava em absoluto com a estridência de Hitler. Imponente e imperturbável, o primeiro chanceler da República Federal da Alemanha foi intransigente na defesa de um Estado liberal, democrático, ocidentalizado e num esforço difícil e continuado, mas necessário, com vista à aceitação do seu passado recente. Para Adenauer, esse era um ponto de princípio que não podia ser negociado. A sua força residia aí, em saber o que precisava ser feito, quais as diferentes fases do longo caminho a percorrer para que a Alemanha, em tempo, se reconstruísse. Havia uma humildade na acção e modéstia no propósito que se reflectia na forma de estar. Foi essa força que fez Adenauer acreditar que a reunificação aconteceria quando a RDA se desmantelasse como consequência do progresso económico da RFA. Foi devido a essa convicção que a sua voz calma e cadenciada foi escutada. E o mais curioso é que a recuperação alemã do pós-guerra foi um dos maiores feitos do século XX.

Actualmente há demasiado orgulho e arrogância nos lugares de poder. Portugal não é excepção. Políticos e governantes que não dizem ao que vão, não nos elucidam porque dizem o que dizem, porque ficam ou se vão embora, no que acreditam e do que não gostam. Não esclarecem como vêem Portugal daqui a 10, 20 anos. Não se ouvem ideias, mas frases feitas; não há pensamento, mas estridência; não há imperturbabilidade, mas impulsividade. A arrogância própria dos fracos com um medo terrível das suas debilidades. Diz-se uma coisa e o seu contrário, não por complexidade de pensamento, mas por ausência de escrutínio, apenas possível quando se toma posição. Porque não há qualquer problema em mudar de opinião, em seguir outra ideia, em ser convencido do contrário, mas isso só é possível se acreditarmos, se pensarmos primeiro em algo. E se o dissermos de forma calma e cadenciada.

Por algum motivo há anos que andamos à volta dos mesmos problemas: a dívida pública (muito grave, mas que continua a aumentar); a degradação das instituições; a deterioração do nível de vida; os baixos salários; a fuga dos portugueses para o estrangeiro; o aeroporto de Lisboa, a TAP e a ferrovia; a Justiça e a segurança social; a falta de poupança, de capital e de investimento; os impostos altos e as taxas que descobrimos nas contas que pagamos e nas compras que fazemos; a falta de habitação num país envelhecido e a burocracia que estoira quem trabalha por conta própria; os bons funcionários públicos que não são promovidos, como o exige a justiça e o pede a eficiência; os alunos que não têm aulas e os professores que passam anos a circular pelo país porque as escolas não os podem contratar; os doentes sem médicos e os médicos e enfermeiros que trabalham demasiadas horas e ganham pouco ao fim do mês. É uma lista sem fim e que deixo por aqui para não maçar em demasia.

Os problemas são inúmeros, mas em menor escala que os encontrados por Konrad Adeneuer em 1949, quatro após o fim da Segunda Guerra Mundial e que deixaram uma Alemanha física, política, económica, social e moralmente destruída. Há quem entenda que a Alemanha precisou de um choque daquela dimensão para se pôr nos eixos. Quem sabe, Portugal é apenas um país sem rumo que precisa de um pouco de bom senso.

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