Há muitos pedidos que podemos fazer nesta época, em que as crianças escrevem ao Pai Natal. O regresso da paz na Europa e no Médio Oriente é sem dúvida o mais importante. Por aqui, na Europa da União e especialmente no país em que vivemos é preciso pedir, com muito empenho, que seja concedido algum bom senso a alguma classe política, e mais trabalho de memória e informação a alguns analistas antes de se precipitarem nos comentários. Não foi o Governo que usou a polícia, é alguma classe política que está a usar as forças de segurança para fazer oposição.

Como descreve muito bem a SIC, operações policiais no Martim Moniz acontecem praticamente todos os anos pelo menos desde 2007. E as citadas são apenas as mais mediáticas. Argumente-se então, como acontecimento único, o facto de as pessoas terem sido encostadas à parede para serem revistadas. Também não corresponde à realidade. Em 2008, no Porto, era José Sócrates primeiro-ministro, confirma o Polígrafo a partir de uma notícia da TVI, três bairros do Porto foram alvo de uma operação policial especial também de “prevenção da criminalidade” e há fotos de pessoas encostadas a um muro para serem revistadas.

Argumenta-se então que a diferença é que nesta operação policial no Martim Moniz a esmagadora maioria eram imigrantes ou pessoas não brancas. Mas como poderia ser de outra maneira se essa zona é, desde há anos, multicultural? Ou pretendemos menorizar os imigrantes numa espécie de racismo ao contrário – temos de tratar de maneira diferente quem tem uma cor de pele diferente da maioria dos portugueses? E qual é a diferença face a uma operação, por exemplo de 2007, que tinha como objetivo o controlo de imigrantes ilegais?

Vale a pena ler o que diz o Observatório de Segurança Interna, que nada encontrou de ilegal na operação realizada no Martim Moniz, recordando ainda que a atuação foi acompanhada pelo Ministério Público e segue os procedimentos da Interpol, Europol e FBI. Ou perceber que nada de diferente aconteceu no Martim Moniz lendo na CNN Portugal o que dizem Paulo Macedo, presidente do SPP-PSP, e o comissário Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia.

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O que fez a polícia está aliás enquadrado publicamente pelas queixas feitas pelo próprio presidente da Junta de Santa Maria Maior. Em Julho, Miguel Coelho fez uma reunião no Hotel Mundial onde se ouviram os testemunhos de quem vive na zona – o que aliás também aconteceu agora, em algumas reportagens. Nesse encontro, que encontramos online, podemos ler a denuncia de “assaltos com recurso a armas brancas e de fogo, vandalismo nas ruas e nos edifícios, ocupações ilegais de imóveis, tráfico e consumo de droga na via pública, agressões, violações e até homicídios”, afirmando-se inclusivamente que tudo isto se repete. O mesmo presidente, do PS, diz agora que não é este o tipo de intervenção que defende, que quer é polícia de proximidade. Um polícia para cada cidadão? Como se combate este tipo de criminalidade se não for também desta forma?

Com todo este contexto, só não vê quem não quer ver, que nada de diferente aconteceu e que a polícia usou a técnica mais adequada para aquele tipo de situação. E que, como diz Helena Matos, podemos estar perante um caso em que se condena as operações policiais em função da cor de quem está a ser alvo dessa acção e da cor do Governo que está em funções. E isso é tudo o que não pode acontecer, em termos gerais e especialmente em matéria de segurança.

Usar a segurança e o combate à imigração ilegal para fazer combate político-partidário é um grave erro. Primeiro porque a segurança é um dos mais importantes bens de uma comunidade, constitui um património do qual Portugal tem retirado benefícios e não existe nenhuma razão para a creditar que as forças de segurança estão a abusar do seu poder.

Em segundo lugar, porque alguns dos protagonistas políticos, quer os que têm feito afirmações nos ecrãs das televisões, quer alguns dos que subscreveram a carta aberta ao primeiro-ministro, tiveram responsabilidades políticas recentes.

Depois porque se cometeram óbvios exageros, comparando uma operação policial que, como vimos, nada tem de anormal, com a forma de atuar de ditaduras. Assim o disse, por exemplo, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, o mesmo que apelava, meses antes, à atuação do Governo. “Típico de uma ditadura islâmica ou de uma ditadura da América Latina”, afirmou.

Vale a pena recorrer ao que afirmou  Luís Marques Mendes. Fazendo um apelo à moderação política, afirmou que as forças de segurança “não devem ser saco de boxe da luta política, têm de estar fora da luta política entre oposição e governo.”

Percebe-se que a estratégia possa ser alargar a base eleitoral do Chega para que o PSD nunca mais tenha hipóteses de ter uma maioria confortável para governar o país e o PS se vá perpetuando direta ou indiretamente no poder. Temos todas as razões para admitir que essa foi a tática usada nos últimos anos do Governo PS liderado por António Costa e que, como está à vista, teve o resultado que os socialistas desejaram: o Chega tem hoje 50 deputados, o PSD com a AD governa em minoria e não consegue nem quer estar ao lado de André Ventura. Mas cuidado com o que desejamos, porque a realidade pode ultrapassar os nossos desejos e aquela que é uma tática para diminuir o PSD pode acabar por conduzir o Chega ao poder.

O mundo em que vive boa parte dos portugueses sente-se menos seguro e está a responsabilizar em parte a imigração por isso. Não corresponde à realidade? Sem dúvida que não, pelo menos em algumas zonas. Mas nenhum Governo responsável pode ficar parado à espera que a errada perceção de insegurança se transforme em realidade e que os portugueses continuem a alimentar o já preocupante sentimento anti-imigração.

A oposição, principalmente alguns militantes do PS com responsabilidades, tem a obrigação de sair do seu mundo, descer à realidade e ganhar algum bom senso. Esta campanha contra a ação da polícia, desmentida pelos factos, em nada contribui para se acabar com a perceção de insegurança e criar um sentimento mais amigo da imigração. Os erros de diagnóstico político e social, ditados por um tipo de oposição destrutiva, podem sair bastante caros.