Aquando da extensão do último estado de emergência pelo nosso presidente da república, não pude deixar de reparar que se está a criar a ideia em Portugal que nós somos apelidados fora de portas como um milagre.

Portugal, à data de 19 de abril de 2020 era por milhão de habitantes, o 8o país do mundo com mais casos e o 11o em número de mortos. Desta estatística exclui os países cujas populações não chegam a 1 milhão de habitantes. Por exemplo, o Mónaco está à nossa frente, mas qualquer nicho de infeção com dezenas de infetados deturpa muito a estatística pois a amostra populacional é muito pequena. Podemos dizer que o número de casos está diretamente ligado ao número de testes realizados. É um facto, mas curiosamente a Coreia do Sul onde a sua principal estratégia é os testes em massa, tem menos de metade de testes por milhão de habitantes que Portugal. Isto leva-me a concluir que os testes realizados também dependem dos nichos de infetados. Ou seja, se um país tem uma zona geográfica sem casos, então não testa nessa zona e por isso a estatística do número de testes por milhão de habitantes fica um pouco comprometida. Para além disso também há os testes para aferir dos curados que também impactam erradamente nesta estatística. Por exemplo, como nós temos mais de 19 mil infetados, então estamos a testar muito mais por causa deste facto do que a Coreia do Sul que só tem 10 mil.

Portanto, de onde vem essa ideia que Portugal é um milagre? Os órgãos de comunicação social estrangeiros que ouvi apelidarem o nosso caso como um milagre, foi Espanha e Itália. Por curiosidade são os dois países do mundo onde a incompetência das suas autoridades levou ao caos completo e até ao colapso dos seus serviços nacionais de saúde. Itália e Espanha foram até aqui os únicos países no mundo onde os seus médicos tiveram de escolher entre quem vivia e quem morria por falta de equipamento perante tantos casos de doença. Por coincidência também são dois países que são muito amigos de Portugal porque os seus governos e respetivas comunicações sociais subservientes partilham as mesmas ideologias políticas.

Todos estes factos levam-me então a questionar se tamanho elogio provenientes desses países não é de certa forma para justificar as suas incompetências ou ainda pelas suas afinidades políticas. E porque é que digo isto? Porque se quisessem realmente um país onde tenha havido algo mais parecido com um milagre tinham outros exemplos bem melhores, tipo Grécia, Republica Checa, Dinamarca, para já não falar de praticamente todos os países asiáticos ou africanos, porque se nós somos um milagre o que é o país que está em 9o ou 10o ou em centésimo?

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De qualquer forma continuo a achar que Portugal é mesmo um milagre e explico porquê.

As medidas tomadas a cabo pelas nossas autoridades desde o início desta crise tem sido completamente erráticas e tardias, senão vejamos o que nos tem sido dito:

  1. É pouco provável que a epidemia chegue a Portugal;
  2. Não há nenhuma evidência científica que fechar fronteiras contenha o vírus;
  3. Não há nenhuma evidência científica que rastrear as pessoas à chegada aos aeroportos tenham algum efeito positivo;
  4. Não há nenhuma evidência científica que usar máscara evite a propagação do vírus;
  5. Usar máscaras até pode ser contraproducente portanto só as aconselhamos aos grupos de risco;
  1. Só é preciso testar quem tem sintomas;
  2. Não é preciso fechar as escolas.

É escusado dizer que tudo isto já foi rebatido pelas evidências. Todos os países que fizeram o contrário destes 7 pontos a tempo e horas têm neste momento um cenário 3 a 5 vezes mais benigno que o de Portugal. Por exemplo, a Republica Checa, país com quem nos temos comparado por termos muitas semelhanças, tem um terço dos nossos casos e um quarto do número de mortos.

Portanto sim, houve um milagre: o milagre de perante tamanha incompetência das nossas autoridades o nosso sistema de saúde não tenha colapsado à semelhança do que aconteceu nos países que nos elogiam – Espanha e Itália.

E porquê que não colapsou? Por diversos motivos, porque temos um interior isolado onde o contágio é difícil acontecer, porque a cultura portuguesa pouco dada a riscos levou a que nos isolássemos em casa perante este perigo, porque a nossa economia é pouco dada a grandes movimentos de massas, porque só temos uma fronteira, entre outros fatores que certamente o futuro irá apurar.

Em jeito de conclusão. Sim, milagre! Mas pelas piores razões!