1 Já quase tudo foi dito sobre a escolha do procurador europeu de Portugal, José Guerra. Não vale a pena repetir o que muitos disseram. Resta-me fazer apenas um ponto. O pedido da demissão da ministra da Justiça é inútil. A ministra limitou-se a cumprir ordens do PM. Guerra foi uma escolha de António Costa.
Mas o momento Orban de Costa foi o ataque público a Paulo Rangel e a Miguel Poiares Maduro a propósito das suas críticas ao processo de escolha de Guerra. Sem qualquer pudor, Costa atacou dois dirigentes do PSD acusando-os de liderarem uma “campanha internacional contra Portugal.” No caso de Paulo Rangel, além da sua militância no PSD, é um deputado no Parlamento Europeu eleito pelos cidadãos portugueses. O ataque a Rangel foi um ataque aos seus eleitores e à democracia portuguesa. A declaração de Costa é própria de um ditador, e não de um PM de um país democrático.
Para se entender devidamente o alcance das afirmações de Costa, vale a pena relembrar a escolha da procuradora europeia, a romena Laura Kovesi. Num primeiro momento, o Conselho – os Estados membros – escolheu o candidato francês, Jean-François Bohnert. Isso aconteceu simplesmente porque o governo romeno na altura, da família socialista, não apoiou Kovesi, e votou contra a sua escolha no Conselho.
Por que razão o governo socialista da Roménia não apoiou Laura Kovesi? Quando Kovesi liderou o combate contra a corrupção na Roménia, um antigo PM socialista, Adrian Nastase, foi condenado a uma pena de quatro anos por corrupção. Mais tarde, em 2018, o governo socialista romeno demitiu Laura Kovesi, que se opôs à política de justiça do governo, a qual violava o estado de direito.
Quando Laura Kovesi se candidatou à procuradoria europeia, o governo romeno acusou-a de prejudicar os interesses da Roménia e a imagem externa do país porque havia investigado casos de corrupção envolvendo membros do governo romeno. Ou seja, acusações semelhantes às de Costa contra Rangel e Poiares Maduro.
Apesar do governo romeno ter votado contra a candidata do seu país, o Parlamento Europeu não desistiu e conseguiu impor a candidatura de Kovesi ao Conselho, com os votos da bancada socialista. Paulo Rangel e Poiares Maduro seguiram o exemplo do Parlamento Europeu e acusaram o governo português de impedir, por razões políticas, Ana Carla Mendes de Almeida de ser escolhida como a procuradora europeia de Portugal, como deveria ter sido se não houvesse intervenção do governo.
A história é muito simples. Ana Mendes de Almeida foi tratada como Laura Kovesi. Costa portou-se como o governo socialista da Roménia.
2 Trump transformou-se num chefe de milícias violentas que atacam a democracia norte americana. Foi o responsável moral por quatro mortes. Uma tragédia política. Deveria ser preso por incentivos a ataques terroristas, foi o que aconteceu no Capitólio. Se não houver bases jurídicas para o prender, deveria ser proibido de concorrer e de ocupar qualquer função pública até ao fim da sua vida. Esperemos que os republicanos consigam libertar-se de Trump. Até isso acontecer, a democracia americana estará coxa.
PS: Este é um post scriptum especial. Na semana passada, morreu a Tana Vieira de Almeida. A Tana fundou e construiu uma das melhores escolas de Portugal, a Torre. Até hoje sinto-me profundamente agradecido por os meus três filhos terem estudado na “escola da Tana”. Mais do que uma grande escola, era uma escola muito especial. Um grande obrigado à Tana e à sua escola por tudo o que fez pelos meus filhos.