O juiz Ivo Rosa disse a todos os portugueses, em directo na televisão, que a investigação do MP demonstrou que o PM Sócrates “mercadejou” o seu cargo de chefe de governo. Mercadejar significa “fazer transações comerciais”, “comprar ou vender, negociar.” Ou seja, segundo Ivo Rosa, Sócrates usou o cargo de Primeiro Ministro para fazer negócios. Ainda de acordo com o juiz Rosa, o mercadejar de Sócrates rendeu-lhe cerca de 1 milhão e setecentos mil euros. Não me interessa discutir as questões jurídicas e legais – outros farão muito melhor do que eu – nem se foram mais milhões, não é uma questão de soma, mas de comportamento. As implicações políticas de Portugal ter assistido a um PM que exerceu o poder “mercadejando” é que me interessam. Sobretudo o que diz respeito ao PS.
Ao contrário do que se passa na justiça, os actos políticos não prescrevem. Para o caso de Sócrates ser tentado a regressar à política, todos os portugueses devem saber que enquanto foi PM usou o seu poder para ganhar dinheiro de um modo ilícito. Este julgamento politico é independente de uma possível condenação ou absolvição jurídica.
Sócrates não mercadejou porque um dia resolveu mercadejar. Preparou uma carreira política para chegar a cargos onde se pode mercadejar. Ou seja, não foi o cidadão José Sócrates que mercadejou. Mesmo que um simples cidadão gostasse de começar a mercadejar, não conseguiria. Não seria capaz por uma simples e poderosa razão. Quem mercadejou foi o Primeiro Ministro. Foi o cargo que lhe deu o poder para mercadejar. E o PM Sócrates, na altura em que mercadejou, era líder do PS e chefe de um governo socialista. Esse é o ponto político mais relevante de todos.
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