Este ano, pela primeira vez na história milenar da Igreja Católica, o Papa rezou missa, sozinho, diante da imensa Praça de São Pedro vazia, e deu a indulgência plenária ao mundo por causa da pandemia de coronavírus. Não há registro de algo semelhante na história do Vaticano. A humildade de estar só, mas espiritualmente ligado ao mundo da celebração da Páscoa. Mas o Papa Francisco já nos habituou a ser diferente pela simplicidade. A Páscoa não é, nem nunca foi a Praça de São Pedro, nem sequer as procissões, mas sim a celebração da Palavra em família. Por isso não foi mais pobre para os cristãos, pelo contrário, levou à reflexão da calamidade que se vive, e foi certamente um tempo de oração para os fiéis.

Também me ensinaram que o “25 de Abril” tinha sido um tempo de liberdade em relação a um regime ditatorial, e que era motivo para festejar valores como a Liberdade que saia à rua ou a Solidariedade entre todos. Mas isso parece pouco aos nossos políticos. Afinal, o “25 de Abril” não é nada se não tiver os discursos oficiais, beija-mão e salamaleques na Assembleia da República. Na mesma sala em que se aprovou o Estado de Emergência, que proíbe o povo de ir ao funeral de família, abrir o negócio do seu ganha-pão, ou sair à rua para cuidar dos idosos, consideram fundamental uma cerimónia oficial com convidados, todos muito juntinhos para reciclarem os mesmos discursos de sempre. Ao arrepio de tudo o que disseram, impuseram, defenderam, ordenaram… tenham os cuidados que tiverem, a verdade é que dão um pernicioso exemplo aos país, com forte cheiro a hipocrisia. Todos os que estiverem presentes, incluindo o Presidente da República, perderão a legitimidade para mais tarde exigirem isolamento a quem quer que seja, encerramento de empresas a quem quer que seja.

Olhando para tudo isto, Portugal chega à conclusão de que afinal, as leis para uns não são as leis para todos, por muito democráticas que sejam as desculpas.

Afinal, como no livro do George Orwell, quando os porcos chegaram ao poder e, ao contrário do que impuseram, começaram a dormir na cama e a andar em duas patas, mudaram os mandamentos e escreveram:

“todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros”.

Afinal, o “25 de Abril” não é a festa do povo, nem a festa da rua, é ainda a festa do regime de fato e gravata. E só o vírus da arrogância os pode levar a pensar, que o “25 de Abril” não sobrevive sem os seus discursos, que a Democracia morre se não os ouvirmos babados. Como se a Revolução dos Cravos, não fosse tão mais superior que eles. Quando cantarem a Grândola, lembrem ao povo, que nesta vila-morena que é Portugal, ainda é o poder quem mais ordena. É em pequenos acontecimentos como este que vemos que, tal como antigamente, estamos entregues aos salvadores da pátria. É o “Triunfo dos Porcos”.

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