De visita ao Canadá para um acto de contrição pela colaboração da Igreja com as práticas colonialistas do estado Canadiano, o Papa Francisco demarca a Igreja da sua associação com a cultura Ocidental, com o que ela tem de mau, mas também de bom. De louvar é, claro está, a política clara de Francisco face aos abusos contra os Direitos Humanos – que ele, enquanto Papa tem conduzido de forma corajosa. Mas no discurso de Francisco ressoam também um tom anti-colonialista e uma crítica mais fundamental que aponta para a sua vontade de re-orientar a Igreja para um futuro pós-Ocidental.

Os sinais da re-orientação da Igreja Católica para a Ásia, a África e a América Latina não são novos. A pujança do Catolicismo nestes continentes contrasta com o declínio do Catolicismo na Europa e na América do Norte. Afinal, só 24% dos Católicos vivem na Europa, contra 39% na América Latina. Na Europa o número de crentes decresce, enquanto no resto do mundo aumenta. Mas as origens do Catolicismo estão sem dúvida na Europa, e a tradição tem mantido o foco no Velho Continente. O Papa João Paulo II teve um pontificado verdadeiramente universalista, contudo manteve as suas raízes na Europa e na sua Polónia natal, como a âncora central do seu pontificado. O seu sucessor, Benedito XVI, defende que a relação simbiótica entre a teologia Católica, os Direitos Humanos e a democracia liberal são parte central da identidade Europeia. Para Benedito XVI, a dissolução da síntese entre Catolicismo e Europeísmo seria fatal para ambos.

O Papa Francisco veio trazer ao Vaticano toda uma nova tradição, a do Catolicismo da América Latina, com a sua relação complexa com a teologia da libertação, uma aproximação ao marxismo e a desconfiança das intenções do mundo ocidental e, em particular, dos EUA. Reflexo desta mentalidade, são as declarações de Francisco culpando a NATO pela invasão da Rússia. Apesar de condenar a Guerra como abominável, Francisco não nomeou a Rússia e Putin como os instigadores do conflito. Francisco sugeriu que talvez “o ladrar da NATO às portas da Rússia” tenha provocado Putin a invadir o seu vizinho. Quando interrogado se era certo enviar armas para que a Ucrânia se possa defender, o Papa disse “não sei”, antes de criticar o comércio global de armas. Esta ambiguidade tem sido condenada por todos os que consideram que a força moral do Papa seria um factor importante para a opinião pública internacional face à guerra.

Por último, Francisco prosseguiu uma estratégia clara de reconfiguração da representação geográfica do colégio de cardeais – o corpo que irá eleger o seu sucessor. Como resultado das novas nomeações, o colégio perde a maioria de bispos eleitos europeus – de 53% para 40%. Os novos cardeais nomeados por Francisco são maioritariamente da Ásia, América Latina e África, tornando mais provável que a Igreja seja permanentemente reorientada para as questões, sensibilidades e prioridades do mundo não-Ocidental. Francisco, o primeiro Papa não-Europeu desde o século VIII, preside a uma nova era do Catolicismo.

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