Crianças, doentes e idosos. São já centenas os civis que já perderam as suas vidas. E se contabilizarmos com aqueles que se juntaram às forças armadas, os números sobem para os milhares. São incontáveis aqueles que ainda resistem em abandonar as suas casas e deixar cair uma vida construída ao longo das últimas décadas. Homens e mulheres que, nada tendo que ver com a guerra, são os que mais sofrem com ela. É a invasão de um país soberano e independente, com um governo democraticamente eleito, e de um povo que luta pela preservação do seu território e da sua identidade. Ao invadir a Ucrânia, a Rússia está não só a violar de forma flagrante os mais elementares preceitos do direito internacional, como está também a violentar os costumes, os princípios e os valores basilares das sociedades livres e democráticas. Enquanto a Ucrânia sofre debaixo de fogo inimigo, o mundo ocidental vê-se atacado na sua essência.

As consequências devastadoras do ataque armado chegam-nos todos os dias pelas televisões. À perda de milhares de vidas de inocentes soma-se a destruição de edífícios públicos, de zonas habitacionais, hospitais e até de maternidades. Cidades inteiras são completamente dizimadas pela ferocidade de um exército comandado por um homem acossado, megalómano e refém de um ideal imperialista que a história já se encarregou de julgar.

No plano económico, o impacto das sanções impostas pela comunidade internacional à Rússia começam a fazer-se sentir. Desde a desvalorização do rublo para mínimos históricos, o congelamento dos ativos financeiros detidos no estrangeiro pelos maiores bancos, o impedimento no acesso a transações nos mercados internacionais, a proibição de aceder a financiamento externo por parte das empresas russas, a exclusão do sistema transnacional de informação de transferências bancárias à debandada de centenas de empresas multinacionais, com a consequente perda de emprego para os trabalhadores russos. A Rússia está a caminho de se transformar num estado pária no contexto internacional, com uma economia exangue, paralisada, isolada e absolutamente dependente da boa vontade do governo chinês.  Ao isolamento geopolítico acrescerá o declínio económico e a deterioração social.

Putin, na tentativa de reescrever a história e recuperar o tempo das fronteiras do império czarista, acabará por submeter milhões de cidadãos russos ao empobrecimento que, nada tendo que ver com este conflito e não o desejando – nem tendo, em nada, para ele contribuído –, verão a sua vida quotidiana transformada num perfeito inferno. Serão vítimas de um processo gradual de definhamento económico e social.

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No mundo ocidental, em particular na Europa, o reverso da medalha da aplicação do pacote de sanções não será brando para a economia, empresas e famílias.

E isto, desde logo, pela dependência europeia do abastecimento de gás e petróleo – com a Alemanha à cabeça – e pelo facto de muitos países da União Europeia dificilmente sobreviverem no imediato, caso se verifique um corte no fornecimento daqueles bens. Portugal, não sendo um dos países mais dependentes, terá necessariamente de avançar para fontes alternativas por forma a reduzir as importações de gás natural. Igualmente sob pressão, está o abastecimento de cereais que tem na Ucrânia e na Rússia dois dos seus principais produtores mundiais. Na indústria, as dificuldades tenderão também a aumentar, quer pela escassez de matéria-prima, como pelos problemas logísticos e pela escalada dos preços da energia. Transportar mercadorias ficou mais caro. Em particular para as zonas diretamente afetadas pelo conflito, onde é cada vez mais difícil encontrar seguradoras que estejam dispostas a segurar transações comerciais.

As principais empresas responsáveis pelas cadeias de abastecimento de alguns bens e produtos alimentares pré-anunciam uma escalada significativa dos preços e antecipam até um eventual racionamento no fornecimento, de modo a evitar ruturas de stock. Os países europeus sofrerão, no seu conjunto, as consequências das alterações de mercado decorrentes da imposição de sanções. O custo médio de vida dos cidadãos sofrerá um incremento e, inevitavelmente, o poder compra tenderá a diminuir, com evidentes consequências ao nível da qualidade de vida e do bem-estar social.

Ainda assim, a chave da equação está nas mãos do povo russo. Só a Rússia poderá parar Putin de forma definitiva. O tempo corre contra o povo ucraniano, contra o mundo ocidental e contra as sociedades livres. Mas, de maneira alguma, corre a favor de Putin.