Há milhares de moldavos a trabalhar e residir em Portugal, mas pouco sabemos daquele pequeno e longínquo país, cujo povo é vítima da luta entre a Rússia e o Ocidente, dos oligarcas locais.

Os resultados das últimas eleições, realizadas no passado Domingo, mostram que a maioria dos moldavos continuam a desejar a aproximação à Roménia e à União Europeia, mas evidenciam também que o eleitorado está cada vez mais cansado e que a Rússia não desistiu de fazer voltar à sua órbitra a Moldávia, antiga república da União Soviética.

A afluência às urnas ficou abaixo dos 50% dos eleitores inscritos, sinal de que são cada vez mais os moldavos cansados da luta entre o Presidente pró-russo Igor Dodon e o Governo que afirma ser pró-europeu.

(O sistema constitucional moldavo é muito semelhante ao português, tratando-se de uma república parlamentar onde o Presidente tem poderes muito limitados. Dodon tencionava alterar o sistema para presidencialista, mas não terá apoio suficiente para isso).

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O Partido Socialista da República da Moldávia, a principal base de apoio do actual Presidente do país e não esconde as suas simpatias para com o Kremlin, venceu o escrutínio nos círculos proporcionais, mas ficou bem longe da maioria: conquistou 34 dos 101 mandatos no novo Parlamento.

Uma das razões do fracasso das forças políticas pró-russas continua a ser o “conflito congelado” na Transdnístria, território separatista da Moldávia praticamente controlado por Moscovo.

Na véspera das eleições, Moscovo tentou “comprar” o eleitorado moldavo pondo fim às taxas de importação de produtos agrícolas moldavos (factor muito importante para a economia deste país), legalizando numerosos milhares de emigrantes que trabalham na Rússia e libertando um piloto moldavo das mãos dos talibãs no Afeganistão.

Além disso, as autoridades policiais russas acusaram de fuga de capitais e outras actividades ilícitas o oligarca moldavo Vladimir Plahotnyuk, que também é líder do Partido Democrático da Moldávia. Esta força política, que actualmente governa um dos países mais pobres da Europa, conquistou o segundo lugar com 33 deputados, mas foi a mais castigada pelos eleitores. As causas do fracasso são bem conhecidas: a corrupção, a degradação das condições de vida dos cidadãos e o não cumprimento de promessas no que respeita ao melhoramento do nível de vida dos moldavos e à opção europeia.

Não terá sido por acaso que o bloco eleitoral “Acum” (“Agora”), que, entre outras coisas, critica o actual  Governo por não estar a realizar o programa de aproximação à Roménia e à União Europeia, aparece com força neste acto eleitoral e conquista 26 mandatos. Os restantes 8 foram para o partido “Shor”, do oligarca e presidente da câmara de Chisinau, capital da Moldávia.

Desta vez, nenhum dos partidos obteve a maioria absoluta no Parlamento, mas as chamadas forças pró-europeias poderão fazer uma coligação para formar o próximo executivo. Neste caso, o papel do bloco “Acum” poderá ser importante para obrigar os governantes moldavos a tomarem medidas reais e concretas com vista ao desenvolvimento do país.

Neste sentido, a União Europeia deveria prestar mais atenção a esse e outros países do antigo espaço soviético, concedendo apoio àqueles que efectivamente lutam pela opção europeia e não pactuando com oligarcas e corruptos. Caso contrário, a UE corre o risco de assistir à expansão do regime de Putin e de seus aliados a novos países vizinhos.

Em finais de Maio, irão realizar-se eleições presidenciais e parlamentares na Ucrânia, país que se encontra numa situação económica e social difícil devido também à corrupção e ao poder absoluto dos oligarcas. A União Europeia devia tirar conclusões.

P.S. Não escrevi nada sobre a mensagem de Vladimir Putin à nação, pronunciada a 20 de Fevereiro, pois nada de novo disse. Depois de prometer aos russos aquilo que não cumpre durante o seu longo “reinado”, tentou desviar as atenções dos seus cidadãos e do mundo com anúncio de novas armas. O “putinismo” está esgotado, resta saber o que se vai seguir e quando.