Esta semana o euro atingiu a paridade face ao dólar, o que não acontecia há 20 anos.

Mais do que uma história de um euro fraco, esta é a história de um dólar forte. Se o euro desvalorizou mais de 10% face ao dólar nos últimos doze meses, pelo contrário valorizou mais de 5% face ao iene japonês e quase 2% face à libra esterlina.

A subida do dólar face ao euro explica-se por três razões fundamentais. Em primeiro lugar, pela diferença na política monetária das duas regiões. Os mercados antecipam que a Reserva Federal Americana irá aumentar as taxas de juro e reduzir o estímulo monetário muito mais rapidamente que o BCE, o que incentiva a procura de dólares. Em segundo lugar, porque os riscos que pairam sobre a economia europeia, nomeadamente no que diz respeito ao fornecimento e ao custo da energia, são superiores aos riscos sobre a economia americana. Por fim, o dólar beneficia de ser uma moeda-refúgio, isto é, perante a possibilidade de uma crise económica global, os investidores preferem deter dólares, ouro e francos suíços. O euro não tem este estatuto.

Por estas razões, é provável que a valorização relativa do dólar face ao euro (e a outras moedas) persista nos próximos meses.

Os efeitos da valorização do dólar face ao euro nas economias europeias são contraditórios, e o impacto líquido não é à partida inteiramente claro. Pela negativa, um euro mais fraco significa que a Europa importa mais inflação, em particular via os preços das matérias-primas, que são maioritariamente transacionadas em dólares. Em particular, a redução dos preços dos combustíveis em dólares será limitada pela desvalorização do euro face ao dólar. Para além disso, as importações dos Estados Unidos, que representavam 11% das importações da União Europeia em 2021, serão mais caras. Pela positiva, as exportações para os Estados Unidos beneficiam com a desvalorização do euro. Em 2021, as exportações de bens para os EUA representavam 18% das exportações da União Europeia.

No entanto, os efeitos potencialmente mais negativos da valorização do dólar serão sentidos pelos mercados emergentes. Nos países em desenvolvimento a dívida pública é denominada e paga em dólares, pelo que o custo de reembolsar ou refinanciar a dívida se torna mais elevado. A subida do dólar é assim um fator adicional de perturbação a acrescentar à inflação dos bens alimentares e à escassez de cereais, devido à guerra da Ucrânia, que está a potenciar a insegurança alimentar em vários países.

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