Começo este texto afirmando que conheço Paulo Portas (PP) há 50 anos, ou seja, quando muitos dos seus auto-proclamados filhos não eram, sequer, nascidos. Fui comprador fiel do Independente, quando este era dirigido por PP e Miguel Esteves Cardoso.

Também no sentido político sempre me senti próximo do seu pensamento. Devido às voltas que a vida dá, em 2006 resolvi que era hora de dar o meu contributo e filiei-me no CDS. No entanto, acabei por me juntar ao Alternativa e Responsabilidade que, embora crítico de PP, não fazia guerrilha desnecessária na praça pública. Nesses tempos, os que agora pretendem ser filhos de PP e para agradar ao “pai”, apelidavam o AR de tea-party da Lapa. Para esses – agora – órfãos, tudo valia nos Conselhos Nacionais, desde que fosse para silenciar quem apenas pretendia discutir e contribuir com ideias.

Mas, PP, que enquanto presidente sabia bem destrinçar entre quem – mesmo que crítico – tinha valor e aqueles que vivem da bajulação e da intriga, colocou Filipe Anacoreta Correia em lugar elegível nas listas por Lisboa. Ou seja, preferiu o “chefe” do tea-party – a quem reconhecia capacidades intelectuais e políticas – aos que nascem, crescem e vivem dentro do aparelho partidário, mas que nunca escrevem um texto, não se lhes conhecendo uma linha de pensamento.

Eu lembro-me bem da estupefacção daqueles que choramingavam: Então eu que fiz tudo o que o “pai” queria, fui preterido? Mas PP, tal qual na bíblica parábola, sabia bem o que queria e como o fazer.

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Depois veio Assunção Cristas. Por vontade própria, ou por aconselhamento dos que agora choram por não ter “pai”, afastou sempre o Alternativa e Responsabilidade do círculo do poder, bem como nunca deu o espaço devido – e merecido – à Juventude Popular (à parte gostar muito que os jovens estivessem nas arruadas…). Aliás, de desconsideração em desconsideração à JP, chegou ao cúmulo de colocar nas listas por Lisboa Sebastião Bugalho, por troca com o indicado pela JP. Tratava-se de um lugar não elegível (pelo menos até há a semana passada…) pelo que a mensagem era clara: humilhar a juventude do partido. Já agora: foi dito que a lista por Lisboa não tinha quem apoiasse FRS e que, tal situação, era reveladora de algo. Não sei bem de quê. Eu estou na lista e apoio esta direcção.

Também desconheço o quão bem, aqueles que querem que PP seja o seu “pai”, o conhecem, mas o acima descrito nunca seria feito pelo dito cujo. Por aqui se constata que não devem ser “filhos” de PP. A genética não é a mesma.

Do consulado de Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) até à noite das últimas autárquicas, já muito foi dito e as acções ficam para quem as toma. Mas, após os resultados autárquicos (excelentes em Lisboa) que, note-se, alcançaram todos os objectivos traçados, e, quando se julgava que todos aqueles que suaram as estopinhas a trabalhar pelo seu partido teriam uma noite descansada, aconteceu o contrário. Reuniões de órgãos distritais para essa noite esperando a derrota em Lisboa, foram convocadas. O blitz no twitter nem esperou que se confirmasse o resultado na capital. A narrativa estava criada. Mais uma vez os que querem ser “filhos” não aprenderam com aquele que desejam como “pai”. Deram o flanco.

Depois, bom, depois vieram as análises numéricas. Meu Deus! Bem sei que muitos dos “filhos” estudaram Letras, ou são fracos na matemática, mas francamente: comparar legislativas com presidenciais, estas com regionais e europeias e, depois de tudo metido na bimby, avaliar a prestação autárquica é de bradar aos céus. Como não quiseram esperar por Domingo e ouvir o “pai”, meteram os pés pelas mãos e agora enterraram-se no disparate.

É por tudo isto que não acredito que PP queira “perfilhar” estes seus antigos bajuladores. Ele, melhor do que todos, conhece as suas capacidades. Confundem o país real com o Príncipe Real e Lisboa com o Lux. A desastrosa performance de Adolfo Mesquita Nunes no novel (alerta irónico) programa de debate político na SIC, foi um erro que PP nunca cometeria (sobre este programa espero que, ao menos isso, se troque de vez em quando as parelhas, para que Mariana Mortágua possa debater com quem lhe pode dar o troco necessário: Miguel Morgado).

Concluindo: os “filhos” de Paulo Portas, não o são. Ele não os reconhece. São como aquelas figuras que aparecem ciclicamente a reclamarem que Julio Iglésias, Elvis Presley e Alberto do Mónaco são os seus pais. Tal como esses, o pai será aquele que os aceitar.