Quando as mães e os pais são questionados sobre como gostariam que os seus filhos fossem no futuro, em que tipo de adultos gostariam que se tornassem, invariavelmente ouvimos respostas como: felizes, independentes, com bons empregos, com uma vida e família estáveis, com um marido/mulher que os respeitem, rodeados de bons amigos, honestos, socialmente aceites e bem integrados, amigos dos seus amigos, capazes de lidar com as dificuldades, capazes de tomar boas decisões, bem sucedidos, entre outras. São estes os adultos que os pais gostariam que os filhos fossem daqui a 10, 15 ou 20 anos. E a pergunta que se segue é, como é que os pais podem contribuir para que os filhos se venham a tornar neste tipo de adultos?

Desde que uma criança é pensada (desde que é um projeto, ou não, dos pais) até que se torne num adulto, todos os minutos contam; desde que nasce que já está a ser alvo de pensamentos, crenças, sentimentos e experiências que vão contribuir para o seu crescimento e vão moldar o adulto em que se vai tornar um dia. Uma criança que cresce rodeada de valores, exemplos e experiências como o amor, a generosidade, a empatia, a partilha, a responsabilidade, a honestidade, a dedicação, a resiliência, o respeito a si mesma e ao próximo, é uma forte candidata a tornar-se num adulto conforme descrito inicialmente. No fundo, uma criança é um pequeno grande projeto do qual depende o futuro de toda a sociedade e a humanidade.

Numa altura em que se fala tanto em saúde mental e psicológica, é importante relembrar que as crianças também experienciam emoções e sentimentos fortes e desafiantes desde tenra idade. Ao contrário do que muitas vezes os pais possam pensar, uma criança entre os 0 e os 3 anos já pode apresentar sinais de grande tristeza, frustração ou revolta, sendo que não tem ainda a capacidade de refletir e falar sobre isso, demonstrando-o através de comportamentos que são visíveis e os quais os pais serão os primeiros a ver (ex.: birras intensas, desânimo, falta de interação, agressividade). À medida que vão crescendo, as crianças vão ganhando capacidade para refletir sobre o que sentem, sendo que é fundamental que os pais, desde cedo, ensinem o vocabulário relacionado com as emoções e incentivem o diálogo sobre elas. Hoje em dia há muitos livros infantis que ajudam os pais a fazer este trabalho, contando histórias e fazendo pequenas atividades ou exercícios lúdicos que, ao mesmo tempo, contribuem para uma relação de proximidade entre pais e filhos.

Vigiar e contribuir para o desenvolvimento emocional e relacional das crianças é tão importante como o desenvolvimento ao nível físico, motor e cognitivo. Assim como é necessário perceber se a criança está a crescer em altura e em peso, a desenvolver competências motoras (como pegar num objeto ou andar), a introduzir os alimentos certos na sua dieta, a desenvolver a fala e a linguagem, também é importante perceber se está a desenvolver a capacidade de pedir ajuda, de querer experimentar fazer coisas sozinha, de ser autónoma, de respeitar regras, de explorar o que a rodeia, de distinguir o certo do errado, de se relacionar com outras crianças e adultos, de se importar com os outros, de querer ajudar, de falar sobre o que sente. A gestão emocional é a capacidade de saber identificar e gerir as emoções e, não sendo inata, é uma competência que tem de ser aprendida e treinada. E a partir de quando se pode fazer isso? Desde o nascimento da criança e ao longo da vida. Tudo o que os pais fazem, desde o estabelecimento das rotinas e de regras, à forma como falam, se comportam e interagem entre si e com os outros, à forma como se relacionam com a criança ou o adolescente, tudo está a contribuir para que possa ser, um dia, o adulto que projetaram (ou não).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Vivemos numa era em que o individualismo e o imediatismo impera e em que há uma busca desenfreada da felicidade, do “bem-estar” (no sentido de a pessoa se sentir bem, de experimentar coisas que a fazem sentir prazer). No polo oposto temos o medo da frustração, da vida sem sentido, da culpa, do aborrecimento, do fracasso. Este ambiente cultural em que vivemos está também a contribuir para a formação das crianças e jovens de hoje, em que se procura tudo o que faz sentir bem e se tenta evitar tudo o que faz sentir mal. A vida de cada um está sujeita a um tempo histórico e cultural que, por si só, nos proporciona um conjunto de experiências e desafios (pessoais e sociais), positivos e negativos, que não podemos controlar. Podemos, sim, escolher como lidar com isso, mediante as ferramentas que vamos adquirindo ao longo do crescimento enquanto pessoas. Assim, podemos escolher entre amar e odiar, enfrentar os problemas ou evitá-los, enfrentar o sofrimento ou evitá-lo, respeitar ou conflituar, construir ou destruir, esperar ou agir por impulso.

E como podem os pais ajudar os filhos a fazerem as escolhas certas? Nenhum pai e nenhuma mãe gosta de ver os filhos sofrer e, por mais que tente, nunca conseguirá evitar que isso aconteça, seja em maior ou menor escala. É importante que as crianças e jovens percebam que a vida não são só alegrias e sucessos, que também existem tristezas e fracassos, sendo que a forma como se vive e enfrenta tudo isso vai ditar a sensação de maior ou menor felicidade e realização pessoal. As crianças que se sentem seguras, amadas e respeitadas, que sabem com o que contar e que têm modelos de referência afetivos positivos e consistentes, vão crescer de forma saudável e mais preparada para que um dia se tornem adultos com uma autoestima saudável e emocionalmente mais inteligentes. Não havendo uma fórmula infalível para o exercício da parentalidade, e estando este dependente de tantos fatores, há estratégias fundamentais que contribuem de forma positiva para que uma criança e jovem de hoje se torne num adulto pleno e psicologicamente saudável no futuro. Passar tempo de qualidade com os filhos, falar sobre emoções e sentimentos (positivos e negativos), mostrar interesse pelas coisas/vivências/situações dos filhos, ajudar os filhos a ver a realidade e as vivências com lentes positivas, ensinar a esperar (pelo momento certo), promover experiências positivas, saber dizer “não” no momento certo, ensinar que chorar é uma reação natural mediante diversas emoções ou sentimentos, estar disponível para ouvir, respeitar a natureza dos filhos e aceitá-los como são. É também importante os pais falarem com os filhos sobre o futuro, ensinarem a tirar partido da vida, a serem esperançosos e otimistas, dedicados e persistentes, a cuidarem de si próprios e a conhecerem-se.

No fundo, o maior desejo de qualquer ser humano é ser amado e sentir-se amado, sendo que o seu maior medo, aquilo que lhe causa maior sofrimento, é sentir-se rejeitado e não ser aceite pelo que é. A tarefa dos pais, de educar e orientar os filhos no seu crescimento, é, então, muito desafiante e de uma enorme responsabilidade. Afinal de contas, a próxima geração vai depender das crianças e adolescentes de hoje, que serão os adultos de amanhã, aos quais caberá a responsabilidade de educar a geração seguinte e assim sucessivamente.