Brian Griffin: Senhoras e senhores, estou aqui hoje para me desculpar…
Voz na multidão de linchamento: Porque é que dizes “senhoras” primeiro?
Voz 2: Isso é sexista!
Brian: Era apenas uma saudação convencional… Deixem-me recomeçar: senhores e senhoras…
Voz 3: Ó, diz o homem…
Brian: Certo, desculpem. Humanos presentes…
Voz 4: Eu identifico-me como bola de basquete!
Brian: Humanos e bolas de basquete…
Voz 5: Eu sou um papagaio que repete palavras mas não as compreende!
(…)
Brian: Bem, bem, vamos ter calma, ok?
Voz 6: Agora estás a policiar o nosso tom!
Voz 7: Isso faz-me sentir desconfortável. E tudo o que me faça sentir desconfortável em 2017 deve ser ilegalizado.

Family Guy, temporada 16/episódio 6 (“The D in Apartment 23”)

Enquanto na Irlanda se exige a censura de uma canção dos Pogues (“Fairytale of New York”, porque inclui a palavra “faggot”, pejorativo de homossexual), na América o comediante Kevin Hart foi forçado a desistir da apresentação dos Óscares após as patrulhas da moral terem desencantado remotas considerações do homem sobre os “faggots”, perdão, os homossexuais. Além de pedir dispensa do convite, Hart pediu desculpa. Era escusado.

Os Novos Inquisidores não querem ouvir desculpas: à semelhança dos Velhos, querem farejar blasfémias, perseguir os blasfemos, arruinar-lhes as vidas e, no final do serviço, experimentar a satisfação do dever cumprido. Espreguiçam-se no sofá, reservam uma pausa para a autocongratulação e, num instante, estão de regresso ao trabalho, à descoberta de outras transgressões e outros incautos para humilhar e destruir. Eles apontam com o dedinho trémulo a “homofobia”, o “machismo”, o “racismo” e o que calha de ferir a “sensibilidade” de “minorias” largamente imaginárias. Eles são bons e castos e superiores. Alguns deles transformam o sujo exercício numa carreira, com frequência lucrativa.

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Porém, é um erro presumir que só o materialismo e a sede de poder movem essa gente.  Acredito piamente que quem se presta a tão grotescas figuras, na maior parte das vezes apenas a troco de uns “likes” ou “retweets” dos seus pares, tem de sofrer de algum distúrbio mental, ou, em linguagem pré-totalitária, é doido varrido. Não arrisco decidir que a doideira é consequência de frustrações recalcadas ou possui origens biológicas. Em qualquer dos casos, trata-se de indivíduos muito doentes, merecedores de que façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para os ofender, com entusiasmo proporcional à respectiva susceptibilidade.

Termino com uma nota. No episódio de “Family Guy” em epígrafe, o que mobilizou os inquisidores contra Brian foi o seguinte tweet: “A caminho do último filme de Kevin Hart. Estou a brincar. Sou branco e frequentei a universidade.”

Baba figurada

Não há outra maneira de dizer isto: junto do presidente chinês, o prof. Marcelo babou-se. Não falo da baba literal, que proporcionou um pitoresco momento televisivo e, no fundo, não significa nada. O problema é a baba figurada, ou a subserviência com que o principal representante do estado português recebe um ditador, aliás adequada à própria subserviência do país ao dinheiro da ditadura em questão. Da anexação provisória do Ritz e do trânsito lisboeta à tomada definitiva da EDP, do BCP e etc., é natural notar-se quem manda e quem obedece. Mas o prof. Marcelo escusava de tornar a diferença de estatuto tão evidente. Uma coisa é a diplomacia, outra são os sorrisos escancarados, e os salamaleques tão prolongados que arriscam hérnias discais. Prolongados e recorrentes. Agora foi a China. Antes, fora Angola. E, antes ainda, a peregrinação a Cuba para a bênção de São Fidel, que diplomacia nenhuma justifica. Pelo meio, ficaram os “avisos” contra Bolsonaro e as graçolas a Trump. Assim de repente, fica a ideia de que o prof. Marcelo só antipatiza com estadistas eleitos. Nisso compreendo-o: alguns são de facto embaraçosos.

Um sonho possível

Dois episódios recentes, em que deputados (do PSD) fingiram a presença de outros deputados (do PSD), despertaram uma indignação antiga contra as ausências indevidas dos parlamentares. Segundo o povo, aquilo é gente que não quer trabalhar. Logo, caso o povo mandasse – coisa que, apesar da democracia e do parlamento e tal, curiosamente não acontece –, os deputados passariam os dias e as noites enclausurados em S. Bento, a produzir debates, reflexões ou projectos de lei. Obviamente, o povo não sabe o que diz.

Começo por notar que, embora não perceba o que andam ali a fazer, conheço (“pessoalmente”, é assim?) dois ou três deputados respeitáveis. Admito, por mera benesse probabilística, que haja mais meia dúzia. Quanto aos restantes, no mínimo umas 220 alminhas que se sentam e levantam por reflexo, nunca ninguém lhes descobriu a sombra de um préstimo, fenómeno que não os habilita a estrelar um ovo e, por maioria de razão, a regulamentar as nossas vidas. Não vou adjectivar a Assembleia da República porque não preciso: a circunstância de o dr. Ferro Rodrigues ser o respectivo presidente é insulto bastante. E a definição pertinente de um “órgão” que, ao invés do pâncreas, é tanto melhor quanto menos funcionar.

Em suma, lanço daqui um apelo: deixem os deputados espairecer em paz. Se nenhum comparecesse no emprego, o lucro para os cidadãos seria incalculável. E o prejuízo calculável: exactamente o que já gastamos nos salários, no pessoal auxiliar (?) e nas “ajudas” devidas e indevidas. Claro que era preferível não sustentar de todo a inépcia alheia, mas convém não trocar o possível pelo sonho.

Porque é Natal

Primeiro, as más notícias: parece que o dr. Marques Mendes existe. Depois, as péssimas: parece que o dr. Marques Mendes escreveu um livro. Chama-se “Afirmar Portugal no Mundo” e conta com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa e posfácios de Jorge Sampaio e Cavaco Silva. Pelo meio, haverá decerto a lengalenga do autor, que eu preferia ficar ceguinho a ter de ler. Deixo uma amostra, colhida com pinças no anúncio da Wook: “O cada vez mais actual dossiê das mudanças climáticas é sério, não resulta de nenhuma invenção e é urgente enfrentá-lo com determinação. Basta pensar que, neste início de século, já tivemos pela frente os dez anos mais quentes de sempre. A temperatura do planeta está mesmo a subir e a um ritmo inquietante. As desigualdades sociais acentuam-se, um pouco por todo o lado.” E deixo uma sugestão: têm um amigo ou familiar que detestem com empenho? Já repararam que o Natal está a chegar?