O PS ameaça-nos com o papão chamado Chega e a possibilidade de deixarmos de ter António Costa a liderar o PS. O PSD ameaça-nos com o papão Pedro Nuno Santos. O PCP e o BE têm o papão maioria absoluta, que António Costa nos diz que consegue ser combatido pelo Presidente da República. São as legislativas dos papões ou do lobo mau – como lhe chamou Ricardo Conceição n’O Vencedor É… da Rádio Observador. Conforme se prefira. Numa campanha eleitoral que, pelo seu início, promete ser agressiva, valia a pena não nos esquecermos do que podem ser os realistas papões, de curto e de médio prazo, na economia.
A instabilidade política é o maior risco que corremos, com os cenários possíveis que se podem ler neste artigo do Público de Sónia Sapage. Há dois cenários que são especialmente interessantes, um pela sua elevada probabilidade, o outro por corresponder a uma réplica de 2015.
O cenário mais provável é o que se reflecte nas sondagens, que dão neste momento como provável vencedor o PS, mas sem maioria absoluta, embora com uma maioria de esquerda. Como António Costa já decretou a morte da Geringonça, restam o PAN e o Livre para fazer maioria absoluta o que, neste momento, parece improvável. Em minoria, também já nos disse, vai governar “à Guterres”, ou seja, negociando em modelo multivariável, o que de facto fez ao longo destes últimos seis anos, contando basicamente com o BE e o PCP para aprovarem os orçamentos – com o Bloco a abandonar o barco logo no Orçamento de 21. Quem vai aprovar a proposta de Orçamento do Estado é aqui a questão, especialmente se António Costa insistir em apresentar exactamente o mesmo documento, como deu a entender no debate com Rui Rio quando o mostrou no fim.
O outro cenário, neste momento pouco provável, é o da vitória do PSD sem maioria de direita, mesmo incluindo o Chega, e com uma maioria de esquerda. Seria o regresso a 2015. Nesta situação, em que o PS fica em segundo lugar, António Costa afirma que não vai procurar formar a Geringonça e demite-se da liderança do PS – transformando-se num dos papões destas eleições, agora do lado direito. Em princípio, seguindo as regras constitucionais e mesmo admitindo que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa é muito imaginativo, será Rui Rio a formar Governo, enquanto o PS parte para a eleição de um novo líder. Quem aprova o programa de Governo e a proposta de Orçamento? É um enorme ponto de interrogação ainda que especulativamente se possa admitir que o Orçamento passe. É a seguir que aparece o papão chamado Pedro Nuno Santos. Neste cenário admite-se que os socialistas o elegem para a liderança, o novo líder do PS provoca a queda do Governo de Rui Rio e apresenta-se como alternativa estável com um acordo com o Bloco de Esquerda – admitindo também que PS e BE fazem uma maioria. Segue-se a pergunta: aceitará o Presidente da República esta solução sem convocar, de novo, eleições? Não sabemos.
Como não sabemos verdadeiramente nada até ao dia 30 de Janeiro à noite – La Palice não diria melhor. Mesmo estes dois cenários têm tantos “ses”, especialmente este segundo, que se podem considerar pouco prováveis, embora, obviamente, não impossíveis.
A instabilidade política, se vier a ocorrer, vai colocar-nos perante um enorme desafio de enfrentar um período de elevada incerteza sem qualquer estratégia económica.
Neste momento temos a inflação que pode levar a um aperto mais rápido da política monetária do que o desenhado pelo BCE em meados de Dezembro, a manutenção do choque energético – o preço do petróleo está em máximos de sete anos com o gás em acentuada alta – a que se soma a situação na Ucrânia.
Os ventos que nos chegam de fora são tudo menos animadores, mesmo admitindo que a pandemia se vai transformar em endemia lá pela Primavera, regressando-se lentamente ao normal. Simultaneamente, regressam as regras europeias em 2023, que em matéria orçamental começam agora a ser negociadas. E, não esquecer, embora para isso não seja preciso Orçamento do Estado, há quase 14 mil milhões de euros para investir em pouco mais de três anos.
A subida das taxas de juro é a pior notícia que podemos ter face ao peso que a dívida pública ainda tem, em particular, e a dívida das famílias e das empresas em geral. Resta-nos a esperança de que o peso dos endividados – que agora são mais do que na crise financeira de 2008 – consiga ter sucesso dentro do BCE, adiando a subida dos juros.
Um passo em falso, que leve as economias europeias a abrandarem, será um pesadelo para uma economia como a portuguesa, onde o Estado soma à dívida pública as garantias que deu aos empréstimos das empresas durante a pandemia. Se acrescentarmos a isso algumas medidas adoptadas, que mais cedo ou mais tarde terão de ser retiradas – como, por exemplo, o apoio do Estado à subida do salário mínimo –, temos um real papão pela frente.
Numa campanha marcada por papões políticos, valia a pena que quem quer ser primeiro-ministro olhasse para os papões económicos e financeiros que estão no horizonte. A instabilidade política era tudo o que não precisávamos neste momento.