Se a direita não acreditar que vai ganhar as eleições legislativas de 10 de Março, acabará por perdê-las. Às vezes, as coisas são mesmo assim tão simples: só ganha quem estiver convicto da vitória — mobilizando à sua volta para esse desfecho. E, fatal como o destino, quem entrar em campo com as pernas a tremer terminará conformado com a derrota.
Ora, o eleitorado da direita entrou cabisbaixo na pré-campanha eleitoral. O balanço do que tenho ouvido e lido desanimaria qualquer optimista. Uns dizem-se pouco entusiasmados com o PSD sob a liderança de Montenegro. Outros lamentam a saída de Cotrim Figueiredo da liderança da IL. Há quem insista em coligações pré-eleitorais (PSD+IL+CDS) que, percebeu-se logo, são inviáveis à nascença. Há quem reabra discussões já fechadas sobre a relação do PSD com o Chega. E há quem suspire por Pedro Passos Coelho, como se fosse sequer razoável o PSD entrar agora em processo eleitoral interno. Ou seja, reina a desorientação. E, consequência lógica para quem não sabe para onde quer ir, há poucos a antecipar que, no dia 10 de Março, existirão motivos para festejar.
Esta desorientação impressiona-me duplamente. Desde logo, pelo contraste com o PS. Os socialistas viram o seu governo cair de podre, à conta de investigações judiciais sobre ministros e um chefe de gabinete que escondia milhares de euros em São Bento — após anos de informalidades e promiscuidades entre governação, amizades e relações familiares. Seria motivo para esconder a cabeça debaixo do chão. Mas, em menos de uma semana, os socialistas resolveram o que tinham a resolver: esqueceram António Costa e entusiasmaram-se com Pedro Nuno Santos. O seu pragmatismo revelou-se implacável, movido pelo objectivo de preservar o espaço hegemónico do PS na política portuguesa.
Mais importante, a desorientação da direita demonstra como não entendeu a missão que tem sobre os ombros: travar o aparelho socialista de poder. Aquele que, ao longo dos últimos oito anos, reencarnou a ambição socrática de capturar as instituições do regime e controlar várias esferas da sociedade portuguesa. Aquele que afundou o país num pântano político e ético. Aquele que, depois de Sócrates e, agora, depois da queda de Costa, se esquiva das implicações partidárias prometendo reflexões internas que nunca acontecem. As eleições legislativas de 2024 representam mais do que uma mera solução para uma crise institucional: enquanto oportunidade para libertar o aparelho de Estado das influências socialistas, a sua importância é superlativa e apenas comparável (nos anos mais recentes) às de 2011 (para derrotar o socratismo) e 2015 (para definir o rumo pós-troika). Ora, perante tamanha responsabilidade, custa entender a desorientação: se tantos à direita concordam que urge formar uma maioria parlamentar alternativa ao PS (e à sua esquerda), devem mobilizar-se para tal objectivo, arrumando os suspiros por soluções mais à medida das suas preferências.
Estamos a quatro longos meses das eleições legislativas. Neste período, o eleitorado de direita poderá desejavelmente mobilizar-se e confiar que consegue formar uma maioria parlamentar alternativa ao PS. Ou poderá escolher enredar-se em hesitações, menorizar os partidos que o representam e remoer sobre as imperfeições dos líderes do seu espaço político. Será a direita capaz de acreditar na sua vitória? Se não for, Pedro Nuno Santos terá caminho aberto para São Bento.