Toda a gente sabe, ou devia saber, que Pôncio Pilatos foi o iníquo representante do império romano que condenou Jesus de Nazaré à morte, não obstante a sua inocência. Ciente da injustiça da acusação contra Cristo, tentou a sua libertação. Primeiro, mandou-o flagelar, pensando que conseguia assim aplacar o ódio dos seus inimigos, mas em vão. Depois, quis conceder ao pacífico rabi da Galileia o indulto pascal, mas os habitantes de Jerusalém preferiram a absolvição de Barrabás. Por fim claudicou, mandando crucificar o ‘Rei dos Judeus’, mas lavou as mãos diante do povo, protestando a sua inocência. Na verdade, aquele seu gesto não só não o absolveu da sua culpa, como passou a significar a hipocrisia dos que, em vez de fazer justiça, cedem à pressão das conveniências políticas.
Infelizmente, na história recente da justiça em Portugal, não faltam episódios de gritantes e escandalosas impunidades, precisamente por interferências políticas em questões que deveriam ser, apenas, do foro judicial.
A 1 de Fevereiro de 1908, o Rei D. Carlos foi assassinado no Terreiro do Paço, juntamente com o seu filho primogénito, o Príncipe Real. Os regicidas foram executados no momento, mas nunca se apuraram as responsabilidades dos outros implicados, embora se saiba que os houve. D. Manuel II, logo que subiu ao trono em sucessão ao seu malogrado pai e em substituição do seu irmão, D. Luís Filipe, deu posse ao chamado governo de ‘acalmação’, mas o novo executivo nada fez para que os cúmplices dos assassinos fossem julgados e punidos. Pouco mais de um ano e meio depois, foi implantada a República, que tudo fez para abafar o caso que, por isso, nunca chegou à barra dos tribunais.
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