Apesar de permanecer o impasse nas fronteiras da Ucrânia, nasceu esta semana nas capitais ocidentais um “otimismo cauteloso”, coincidente com a visita do Chanceler alemão Olaf Scholz a Moscovo e a Kiev. A Alemanha, peça essencial da dissuasão ocidental, apareceu esta semana mais claramente alinhada com os Estados Unidos, gorando as expetativas de Putin de que a pressão aumentasse as fissuras entre Berlim e Washington.

Estamos perto de um ponto de viragem na atual crise. Três aspectos parecem importantes para analisar a situação atual.

Primeiro, Putin depara-se com uma NATO revitalizada e concentrada na dissuasão da Rússia. As intensas consultas entre os EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha nas passadas semanas tiveram frutos para além da dimensão militar do reforço do flanco oriental da Aliança. Putin viu o custo das sanções económicas e financeiras e do quebrar das relações com a Europa e os EUA, que se tornaram palpáveis. As repercussões destas na segurança nacional e as enormes consequências económicas em caso de invasão são difíceis de ser ignoradas.

Segundo, o recente estreitar da relação com a China tem tanto de promissor como de assustador para Moscovo. A declaração conjunta que Xi Jinping e Putin assinaram na abertura dos Jogos Olímpicos foi um sinal de apoio chinês que fortaleceu Putin no confronto com o Ocidente. Contudo, Putin resiste há muito a um alinhamento aprofundado com a China, pois esta coloca a Rússia numa dependência assimétrica com a China. Putin compreende bem que a China não pretende uma verdadeira aliança, pois Pequim procura vassalos e não aliados.

Terceiro, ao contrário das expectativas de Moscovo, a coesão dos ucranianos e a capacidade de resistência do Presidente Zelenski reforçaram-se, modificando o cálculo sobre o “que se segue” depois de uma invasão Ucrânia. A perspectiva de reunificação de uma grande nação russa, reunindo a Bielorrússia, o Norte do Cazaquistão, a Ucrânia e a Rússia, é certamente sedutora. Mas a hostilidade à Rússia da população ucraniana tem vindo a aumentar em proporção da hostilidade de Putin. Também os povos eslavos da Europa Central e Oriental com inclinações russófilas – com a Bulgária e a Sérvia à cabeça – têm vindo a abandonar a sua ambiguidade em relação à Aliança Atlântica e a perfilar-se contra Putin. A reunificação dos russos eslavos afigura-se um projeto demasiado dispendioso.

Por todas estas razões, é difícil ver o partido da guerra ganhar em Moscovo, mesmo na versão de uma “limitada” incursão militar. Se decidir limitar os seus riscos, Putin já ganhou um lugar central na renegociação da arquitetura de segurança euro-Atlântica, pondo o Ocidente na defensiva e forçando uma re-centragem da atenção americana na Europa.

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