O Arquitecto João Luís Carrilho da Graça disse, há uns anos, numa entrevista, e cito-o, “se a arquitectura é boa, pode mudar a vida das pessoas e da cidade”. Contudo, referindo-se a Lisboa, a sua frase manifesta uma marca de intemporalidade, podendo aplicar-se a todos os sítios e lugares, e encerra em si uma reflexão muito clara sobre a importância daquilo que nós, Arquitectos, concebemos. A Arquitectura envolve-nos diariamente. E quantas vezes damos por isso? Desde a nossa casa, abrigo primeiro, ao espaço público por onde nos deslocamos, aos locais que frequentamos, tudo o que é edificado preenche o nosso quotidiano.  E tudo o que é edificado traduz-se em boa Arquitectura? Claro que não! Quantas vezes, e quantos de nós, parámos para pensar e reflectir sobre os sítios onde nos encontramos e como isso nos influencia, individual e/ou colectivamente?

Quando, num discurso em 1943, Winston Churchill se bate sobre a necessidade de como deve ser feita a reconstrução do parlamento britânico que havia sido destruído por um severo bombardeamento aéreo em 1941 e proclama que “nós moldamos os nossos edifícios e, de seguida, eles moldam-nos a nós” está de facto, a imprimir a consciência da importância que o edificado tem na vivência das pessoas e da sociedade. No caso específico, a defesa foi feita no sentido da reconstrução do edificado em tudo fiel ao original, mas até a forma veemente como se bateu por isso (concorde-se, ou não, com a opção) ilustra bem a importância da influência que os espaços têm sobre nós. A Arquitectura molda os edifícios, mas molda também a comunidade e a paisagem. E, por conseguinte, molda-nos. Procuramos, hoje, uma Arquitectura que contribua para uma melhor qualidade de vida global da população, mas a Arquitectura é mais do que conceito, ela serve uma realidade concreta, que são as pessoas. Urge, por isso, ser capaz de levar a Arquitectura às pessoas, aumentando o seu nível de compreensão sobre o que é a Arquitectura e que papel desempenham os Arquitectos.

Uma Educação em Arquitectura faz falta, devidamente assente numa abordagem pedagógica própria, estruturada, diferenciadora, mas consistente e coerente, capaz de formar, de gerar interesse, de suscitar maior curiosidade por aquilo que nos rodeia, pelos espaços que habitamos, onde estudamos, trabalhamos e dos quais usufruímos. Há que aumentar o entendimento sobre a temática, para que o interesse e a preocupação por uma Arquitectura de qualidade possam ser exigidos pelos cidadãos, de forma natural e consciente.

Felizmente, têm surgido, com intensidade crescente, diversas iniciativas que focam as temáticas da Arquitectura, e que são promovidas através de alguns serviços educativos de várias instituições, e grupos independentes, mas também através de grandes eventos, conferências e exposições. Mas ainda que, nesta altura, se comece a entender a importância da disseminação destes conceitos para uma melhor qualidade de vida da população em geral, estamos ainda longe do que já está a ser conseguido a nível internacional, em que diversos Colectivos, Instituições e/ou Escolas se dedicam exclusivamente à implementação de conteúdos programáticos destinados a uma Educação em Arquitectura, como são os caso, da Finlândia, na Arkki – Escola de Arquitectura para crianças e jovens, ou de Espanha, em Madrid, na Arquitectura Educativa da Universidade Autónoma de Madrid. Numa altura em que as escolas públicas ganham autonomia e flexibilidade curricular, mas também numa altura em que estamos crescentemente ligados pelas tecnologias de comunicação e de informação, deve existir uma estratégia comum para que a Educação em Arquitectura não seja apenas um tema discutido pontualmente, mas que faça parte das nossas vivências, como um contributo essencial para a qualidade de vida e urbanística das cidades. Esta qualidade de vida induzida pela boa Arquitectura, traduz-se num bem essencial de saúde física e mental.

É crucial, portanto, que uma agenda em torno da temática da Educação em Arquitectura possa ser abrangente, chegando a mais pessoas, não ficando concentrada apenas nas grandes urbes. Como costumo afirmar, devem ser promovidas mais iniciativas, de forma mais consistente, para que os principais conceitos respeitantes à Arquitectura possam impactar desde os mais pequenos até aos mais crescidos, dos “zero aos oitenta”. Sendo as temáticas em torno da Educação em Arquitectura transversais e multidisciplinares, então a preocupação em disseminá-las deve ser genuína e a todos convocar. É minha profunda convicção que se forem desenvolvidos um conjunto de conhecimentos e competências de âmbito educativo nas temáticas da Arquitectura – especificamente orientadas para crianças, jovens e adultos – que seremos capazes de fortalecer a capacidade crítica da população em geral. Só deste modo teremos pessoas capazes de participar activa e conscientemente na defesa conjunta dos espaços que habitamos e partilhamos.

 Arquitecta e Presidente da Ordem dos Arquitetos Secção Regional Sul
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.

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