Estava quase, quase, quase convencida a votar na coligação. Durante bastante tempo vivi decidida a votar em branco. Depois começou a pré-campanha e António Costa fez-se ouvir, os socialistas do twitter pegaram fogo e a reação de qualquer pessoa com sistema nervoso central com validade é arrepiar-se e perceber que nada é tão mau como ter um governo de socráticos impenitentes outra vez.

Assisti de pasmo em pasmo à tentativa de António Costa e do PS de culparem o PSD pela necessidade de um resgate financeiro internacional. É certo que os eleitores votaram duas vezes em José Sócrates – pelo que a avaliação da inteligência dos portugueses feita lá pelos lados da sede do PS não deve ser famosa – mas mais valia fazerem tempos de antena com a mensagem ‘votem em nós, loosers’. O PS governou quase sem interrupção entre 1995 e 2011. Não era necessária aprovação do PEC4 no Parlamento. A demissão do governo depois da votação contra o PEC4 foi um capricho do PS, que como minoritário tinha a obrigação de negociar consensos com a oposição em vez de lhe impor o ego de Sócrates. O facto de o governo se ter demitido também não justifica resgates da troika, que não existiram quando houve eleições antecipadas em 1987, 2002 e 2005.

A insistência do PS nesta mentira só mostrou como o partido de Sócrates continua a conviver mal com a verdade e a realidade. E, pior, que não entenderam (ou escolheram não entender) o que aconteceu no país antes de 2011 que levou à necessidade da simpática troika.

Depois seguiu-se a semana dos insultos aos jornalistas. Por estes dias os alvos dos socialistas de cabeça perdida são as empresas de sondagens – que têm a desfaçatez de dar maior intenção de voto à coligação do que ao PS – e os media que lhes encomendam os trabalhos. (Nem refiro o surreal desconhecimento que Costa tem do programa económico que uns economistas lhe impingiram, e das respetivas contas, que isso merece uma crónica inteira.)

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E foi assim que eu fiquei quase convencida a votar na coligação, com o trabalho de persuasão todo feito pelo PS.

Andava eu, portanto, a magicar formas de conseguir votar numa coligação que implementou umas tantas políticas às quais tenho absoluta objeção de consciência. O brutal aumento de impostos. A forma como desprotegeu ainda mais os contribuintes face a uma Autoridade Tributária à solta, que não hesita em desgraçar famílias e falir empresas (e, com isso, desgraçar mais famílias) por dívidas ridículas e, muitas vezes, de existência questionável. Em suma, o orgulho que tiveram na construção do totalitarismo fiscal em que vivemos. A reforma do estado que ficou por fazer – não por culpa do Tribunal Constitucional, mas porque PSD e CDS preferiram manter a estrutura estatal, com cortes avulsos, para poderem dentro de uns anos voltar a insuflá-la com as suas clientelas aparelhísticas.

O regalo com que, após o caso BES, os dirigentes PSD e CDS e os governantes se regozijavam porque o governo impôs perdas aos acionistas de um banco, como se ser acionista de uma empresa não fosse algo normal nas sociedades capitalistas, mas um pecado de gente imoral que rouba rebuçados às criancinhas. Independentemente de a solução para o BES ter sido a melhor, ou a possível, não se admite tanta verborreia anti-capitalista vinda de um governo supostamente de direita. E ainda se admite menos o prémio a Carlos Costa (a recondução no BdP) pela incompetência grosseira na supervisão do BES.

Estava eu apesar de tudo decidida, para salvar o país do PS, a encontrar maneira de votar no dia 4 de outubro nesta insuportável coligação. Nem que para isso necessitasse da ajuda de uns gins tónicos aromatizados com manjericão. Até pensei experimentar as propriedades alucinogénias do louro no gin tónico, tudo para me adormecer a consciência e votar contra o PS.

Mas perante este meu intento tão esforçado, como me pagou a coligação? Pela mão desse lapso político que é Barreto Xavier, o governo decretou o venezuelano impedimento de as livrarias fazerem descontos nos livros acima de 10%. Foi uma atualização dessa outra aberração, a lei do preço fixo do livro de Carrilho (que, como se vê, correu muito bem a rentabilizar o setor livreiro). Promoções como ‘leve 2, pague 1’ livro por cá não são bem vistas, que essas aleivosias comerciais ficam para os países bárbaros que só por acaso têm taxas de leitura muito superiores à nossa. Num mundo onde há incontáveis livrarias online estrangeiras com maior oferta e preços mais baixos, para este governo protossocialista a solução está em impedir os nacionais de venderem mais barato.

Como isto não chegava, Paulo Portas veio lançar insultos sobre o PS, inventando-lhe ‘ultra-liberais’. Eu, que dispenso o ‘ultra’, tenho-me por liberal, e costumo levar a mal que confundam o socialismo estatizante (que é ao que tresanda o programa do PS) comigo. E se Paulo Portas quer tanta distância dos liberais, bem, eu não faço grande questão de estar na companhia desta coligação viciada em vilanias fiscais.

Se o PS me tinha convencido a votar na coligação, a coligação convenceu-me a não votar. Mas como não quero um país governado pelo tiranete Costa, faço um apelo aos eleitores portugueses: peço encarecidamente que votem na coligação para eu não ser obrigada a votar.