Entre meia-noite de quinta-feira e o dia 3 de novembro ficámos presos nos nossos concelhos! Aparentemente, terá o nosso Governo entendido que fazia sentido repetir no fim de semana de Finados as regras que impôs no último fim de semana de Páscoa e que adivinha terem poupado inúmeras mortes e contágios de Covid.

Como se sabe, o dia 1 de novembro é feriado católico, celebrando-se o Dia de Todos os Santos. Esse dia feriado é aproveitado por um número considerável de pessoas para visitar as campas dos seus entes queridos que já partiram e as comporem e embelezarem, prestando-lhes, assim, a devida homenagem. O dia seguinte – que não é já feriado – é, esse sim, o dia dos fiéis defuntos: o Dia de Finados, o dia em que cada família ou indivíduo prestaria homenagem aos entes queridos que já partiram, não fora o facto de este ser um dia útil como os outros: de trabalho, escolas e outros afazeres. Enfim, nestas circunstâncias misturam-se os dias e as efemérides, acabando por ter ambas o mesmo objetivo: honrar com a nossa atenção, preces e cuidados os nossos finados, que – santos ou não tanto – são nossos para recordar.

Ora, bem vistos ambos os momentos — Páscoa e Finados — fica claro que não estamos a falar de situações idênticas ou sequer semelhantes.

Na Páscoa, há férias: as escolas fecham, os tribunais também e muitas são as pessoas que aproveitam os primeiros raios de sol, que saúdam a primavera e anunciam o bom tempo que aí vem, para umas pré-férias, com a família e/ou amigos. Outros, fiéis ou não, reúnem-se com as famílias, sentando-se a uma mesa com o cabrito e o pão-de-ló que a tradição impõe, desfrutando da imensa benção que nos é dada por esse privilégio a tantos negado.

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Perante isto, é fácil concluir que tratar ambas as efemérides de forma idêntica, para uma eventual prevenção de propagação de Covid, é medida de gabinete e de quem não conhece nem quer conhecer a realidade das nossas vidas. É medida autista e ignorante, displicente e simplista, que planta uma enorme perplexidade em todos os que dela tomam conhecimento.

Fechar concelhos nestas datas é medida de quem vê Portugal como Lisboa e não tem presente que, no resto do país, regra geral, os defuntos se encontram sepultados no concelho de residência dos seus familiares. Fechar os concelhos, mais a mais nas condições decretadas, é imposição injusta, desproporcionada e excessiva face ao bem que pretende proteger, permitindo ou proibindo um sem número de situações aberrantes e de uma inversão de prioridades inadmissível.

Podemos sair do concelho para assistir a um espetáculo, mas já não para cuidar da mãe idosa e sozinha; podem circular livremente pelo país, sem justificação, os funcionários dos sindicatos, mas os padres chamados para uma extrema unção carecem de declaração da paróquia nos termos da lei; podem as crianças sair do concelho para ir à escola ou para outras atividades, mas não para estar com o pai ou a mãe com quem não residem habitualmente.

Estas e tantas outras são as incongruências desta norma.

Mas pior! Deixar a decisão de encerramento ou não de cemitérios às câmaras municipais é decisão cobarde, insensata e irresponsável.

É que, a ser tomada alguma medida geral e drástica, esta sim, era a medida adequada, proporcional e eficiente. Nem mais, nem menos!

Mas a falta de transparência e de frontalidade impera neste Governo e fechar cemitérios é decisão impopular, sensível e que impõe especial cuidado… não vá aparecer por aí alguma nova Maria da Fonte!