A vitória de Rui Rio contra Paulo Rangel – a terceira em eleições directas no PSD – consolida a sua imagem de sobrevivente político. Foi também uma inequívoca vitória pessoal de Rio e do seu núcleo duro – com destaque, uma vez mais, para Salvador Malheiro. Rio consegue resistir na liderança do PSD contra uma candidatura apoiada por grande parte dos notáveis do partido e que gozou de amplo apoio mediático e até de alguns sinais claros de preferência oriundos de Belém. Tudo factores que Rio conseguiu capitalizar eficazmente a seu favor posicionando-se no papel de candidato das bases com suporte nacional que resistiu uma vez mais com sucesso à ofensiva despoletada pelas elites político-mediáticas do eixo Lisboa-Cascais.

Importa recordar que a imagem de resistente e sobrevivente não é uma novidade na carreira política de Rio. Foi eleito no final de 2001 Presidente da Câmara Municipal do Porto numas eleições nas quais, à partida, muito poucos acreditavam na possibilidade da sua vitória. Conseguiu depois ser reeleito duas vezes, não obstante ter enfrentado várias polémicas e um conflito aberto com o Presidente do FC Porto, uma das figuras mais influentes da cidade. Com os seus três mandatos cumpridos, Rui Rio conseguiu inclusivamente ser o Presidente da Câmara do Porto que mais tempo esteve em funções.

Na trajetória política de Rio, vale a pena lembrar também que, antes da surpreendente vitória autárquica no Porto, foi Secretário-Geral do PSD entre 1996 e 1997, durante a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa. Nesse período, do qual certamente tanto Rio como Marcelo guardam memórias ricas e muitas histórias para contar, Rio desencadeou o célebre processo de refiliação dos militantes do PSD, acabando aliás por deixar o cargo na sequência das fortes divergências suscitadas por esse processo.

Esta breve contextualização histórica do trajecto político de Rui Rio é importante não só para melhor compreender o seu perfil mas também as suas perspectivas para as próximas legislativas. As eleições de 30 de Janeiro serão inequivocamente difíceis para o PSD, mas é um erro subestimar as possibilidades de Rui Rio, ainda para mais num contexto em que sai legitimado e reforçado pela sua vitória interna. Curiosamente, uma vitória interna para a qual contribuíram as várias sondagens que apontaram Rio como estando melhor preparado e tendo melhor perfil para assumir funções de primeiro-ministro do que Rangel (aguarda-se aliás com alguma antecipação a forma como Rio reagirá às sondagens relativas às próximas legislativas).

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Importa igualmente não desvalorizar o desgaste governativo de António Costa e do PS, que pode ser especialmente potenciado por casos como o de Eduardo Cabrita, mesmo depois da sua demissão em prol da salvaguarda dos superiores interesses eleitorais socialistas. É sabido que Costa não costuma ter um bom desempenho em campanhas eleitorais e esse será mais um factor que Rio deverá tentar capitalizar a seu favor.

Acresce que não será fácil para o PS agitar os habituais papões do “neoliberalismo” e da direita radical quando o líder do PSD é alguém que posiciona o partido ao centro e com um registo de posições progressistas em vários temas sociais. A máquina de propaganda do PS vai certamente tentar aplicar mais uma vez essa fórmula, mas também os recentes elogios a Rio por parte de várias altas figuras do PS (e comentadores próximos do PS, porventura antecipando uma vitória de Rangel que não se concretizou) dificultarão essa estratégia.

Numa interessante entrevista ao DN, Carlos Eduardo Reis defendeu a estratégia de recentramento do partido levada a cabo por Rio desta forma: “é um grande serviço que foi feito ao PSD que nos dá uma longevidade muito maior, que não nos retira capacidade de dialogar à direita, mas que nos dá, fundamentalmente, capacidade para ir buscar votos ao centro e dialogar com o maior partido, neste momento, parlamentar, que é o PS”.

Em teoria, a estratégia de disputar o centro eleitoral com o PS até pode fazer sentido num contexto em que Iniciativa Liberal e Chega consigam captar segmentos eleitorais mais à direita. Assim Rio a consiga executar naquela que será muito provavelmente a sua última oportunidade para o efeito, confirmando as suas credenciais de sobrevivente político. Dia 30 de Janeiro saberemos se funcionou na prática.