27 de Julho de 2022. Repito, 2022. Não é 1922. É mesmo 2022. E a Europa prepara-se para racionamentos de gás no próximo inverno. Ou seja, em plena segunda década do século XXI estamos a fazer figas para que, passado o outono, haja vento para produzir energia eólica e chuva para encher barragens. E para que, já agora, não faça demasiado fresquinho. Tem tudo para correr muito bem. Como aliás costuma acontecer sempre que depositamos todas as nossas esperanças nas clássicas e fiáveis figas.

Ainda assim, se as figas falharem – o que por vezes também acontece – lá teremos de avançar para a segunda melhor opção: executar uma dança da chuva. Que, a ser bem realizada, poderá resolver o problema da pluviosidade, com o benefício acrescido da actividade motora aquecer um indivíduo. Já no que concerne à produção de energia eólica confesso não saber que contributo poderá dar a dança da chuva. Terão mesmo de perguntar a algum dos engenheiros de energia com pós-graduação em dança contemporânea que conheçam. Ou doutoramento em dança clássica. Creio que também serve.

Recordo apenas, enquanto tricoto outro cachecol para o inverno vindouro, que nos anos 70 do século passado a série televisiva Espaço: 1999 antecipava a existência de uma avançadíssima base lunar nesse mesmo ano. Uma base lunar, imaginem. Ainda no século XX. No entanto, vinte e três anos volvidos, não só continuamos a não ter condições mínimas para viver na Lua, como agora parece que nem sequer conseguimos garantir as condições mínimas para vivermos no nossos próprios lares. Diz que é o progresso.

E este desfasamento não se deve ao facto de os autores do Espaço: 1999 terem sobrestimado a evolução cientifica. Nada disso. O que eles não anteciparam foi um cenário em que existisse tal catrefa de políticos tão – e agora permitam-me optar pelo qualificativo mais generoso – incompetentes, ao ponto de colocaram a política energética de toda a Europa ocidental nas mãos de um qualquer tiranete. Enfim, há coisas que mesmo para autores de ficção científica soam a demasiada fantasia.

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Em todo o caso, nada temam. Porque a verificar-se um inverno de grande taró – vocábulo não escutado deste 1999 – e caso não haja gás para produzir electricidade, a solução é muito simples. Basta a GALP pegar na demasia de lucros que teve no primeiro semestre deste ano graças à subida do preço do petróleo, mandar as notas lá para a fornalha, ou o que é, e produz-se electricidade suficiente para cada português ter dezassete radiadores a óleo a bombar, no máximo e ininterruptamente, até ao inverno de 2025.

E porquê o inverno de 2025? Porque em 2026 isto vai levar tudo uma grande volta. “Uma grande volta? Mas para melhor?”, perguntarão os inquisitivos leitores. Pois isso não faço a mínima ideia, inquisitivos leitores. Mas que vai levar uma grande volta, vai. Só pode. Porque eu tenho visto os cartazes do PSD onde está escrito: “Acreditar. Luís Montenegro 2026.” O que, convenhamos, cria uma grande expectativa, porque Luís Montenegro inaugura um novo tipo de liderança no PSD. Não será tanto um líder firme, tipo Passos Coelho. Nem um líder patético, tipo Rui Rio. É mais um líder tipo Jogos Olímpicos: de quatro em quatro anos ouvimos falar dele.

O que não é necessariamente mau, mas é arriscado. Porque uma pessoa fica a pensar: 2026. E estamos em 2022. Ora aqui está um indivíduo com sentido de urgência. Aliás, com um sentido de urgência muito semelhante ao da Ministra da Saúde. Na medida em que ambos se estão a borrifar para qualquer espécie de urgência. Calma! Temos tempo. Está tudo tão bem no país. Para quê a pressa? A pressa dá sempre mau resultado. E se já provámos conseguir péssimos resultados adiando tudo e mais alguma coisa, para quê a pressa?