Esta semana o Banco Central Europeu e a Reserva Federal Americana voltaram a aumentar as respetivas taxas diretoras em 25 pontos-base. Atualmente as taxas encontram-se entre 5,00%-5,25% nos Estados Unidos e são 3,75% na Zona Euro.
Mas o tom das conferências de imprensa sugere que, pelo menos o BCE, não está ainda preparado para fazer uma pausa. Apesar de ter aumentado a taxa de refinanciamento para o nível mais alto desde 2008, e de reconhecer que existem riscos para o crescimento resultantes da guerra, o BCE continua a assinalar riscos relevantes para a estabilidade dos preços. Em particular, o comunicado do BCE refere a pressão para aumentar os salários nas negociações salariais, num contexto em que os lucros das empresas são elevados. A Presidente do BCE Christine Lagarde foi muito clara na conferência de imprensa que se seguiu à decisão de política monetária, ao indicar que o BCE não está a preparar uma pausa na subida das taxas de juro e que ainda tem caminho para fazer.
Desde a introdução do euro, as taxas diretoras do BCE foram superiores a 4% em dois momentos: entre junho de 2000 e agosto de 2001, quando chegou a atingir 4,75% e umas breves semanas entre junho e outubro de 2007, antes da falência do banco Lehman Brothers. Nesses momentos, a inflação encontrava-se bem mais moderada tendo atingido um pico de 4,1% em outubro de 2008. Com a atual taxa de inflação em 7% (5.6% se excluirmos a energia alimentação, tabaco e álcool, ou seja, a inflação subjacente), é natural que o BCE considere que uma taxa superior a 4% é um patamar razoável antes de ponderar fazer uma pausa, ainda que os aumentos a partir de agora possam ser mais pequenos e espaçados no tempo.
Em Portugal, a subida das taxas de juro tem um efeito globalmente positivo para os bancos que, como foi revelado pelo Banco de Portugal esta semana têm sido favorecidos por uma margem financeira, isto é, pela diferença entre taxas de empréstimos e taxas de depósitos, superior à média da zona euro. No entanto, poderá complicar de forma significativa a vida das famílias e das empresas. Isto mesmo reconheceu a Presidente Lagarde na conferência de imprensa desta semana. Em particular, no caso das famílias, as taxas de juro das hipotecas são normalmente variáveis. Assim, qualquer aumento nas taxas diretoras do BCE tem um efeito rápido nas prestações das famílias.
Um dos grandes desafios dos próximos meses, tanto para o setor financeiro como para as políticas públicas, é apoiar as famílias que já têm os seus orçamentos muito pressionados pela inflação e cujas prestações da casa não vão parar de aumentar, para já.