Através de uma abordagem minimamente invasiva, as técnicas endoscópicas desempenham um papel cada vez mais relevante no tratamento da obesidade, ajudando as pessoas a perder peso e a controlar doenças associadas. É diferente da cirurgia minimamente invasiva – laparoscópica –, porque é realizada por via endoscópica. Nestes procedimentos não-cirúrgicos, insere-se um tubo fino e flexível na cavidade oral, com uma luz e uma câmara acopladas, que vai até ao estômago, permitindo ao médico visualizar os órgãos internos sem fazer incisões.

O balão intragástrico é uma das opções de tratamento endoscópico para a obesidade, que consiste na colocação de um dispositivo esférico oco. Pelo espaço que ocupa no estômago, causa uma sensação de saciedade. Porém, só pode permanecer no estômago, no máximo, durante um ano, sendo frequente as pessoas voltarem a ganhar peso ao retirá-lo.

Assim, têm sido desenvolvidos métodos mais duradouros para evitar o efeito “ioiô”, como, por exemplo, a gastroplastia endoscópica (ESG – Endoscopic sleeve gastroplasty, ou Endosleeve). Esta é a terapêutica endoscópica da obesidade mais inovadora e, apesar de existirem poucos centros a realizarem este procedimento em Portugal, tem apresentado resultados muito positivos a nível internacional.

No tratamento da obesidade por gastroplastia endoscópica, o médico reduz o tamanho do estômago, suturando-o e diminuindo a sua capacidade de armazenamento. Assim, restringe-se a quantidade de alimentos que podem ser consumidos e retarda-se a digestão, levando à perda de peso e ao controlo de doenças associadas à obesidade.

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Estudos revelam que os doentes podem atingir uma perda média de excesso de peso de cerca de 50 a 60%. Importa salientar que os resultados podem variar, dependendo de fatores como o peso inicial, a adesão às recomendações médicas e a modificação do estilo de vida – que são determinantes para o resultado.

Recentemente, alguns estudos demonstraram que o tratamento da obesidade por Endosleeve é eficaz em doentes mais graves – por exemplo, em pessoas com obesidade mórbida para preparação para uma futura cirurgia, reduzindo o seu risco, para as que aguardam por um transplante de rim e de fígado, mas também para pessoas com doenças crónicas.

No caso de existirem doenças associadas à obesidade, como a Diabetes Tipo 2, os estudos apontam que a gastroplastia endoscópica pode contribuir para melhorar o controlo glicémico e reduzir a necessidade de medicação. Este tratamento também tem revelado um impacto positivo em algumas doenças hepáticas associadas à obesidade, porque a perda de peso resultante desta técnica pode levar a uma redução do teor de gordura no fígado e a melhorias nas enzimas hepáticas. No entanto, a durabilidade a longo prazo destes efeitos e o impacto no tratamento destas doenças associadas à obesidade, ainda carecem de mais investigação.

É importante notar que os tratamentos endoscópicos para a obesidade não são adequados para todas as pessoas e, como tal, devem ser considerados numa abordagem individual, discutida caso a caso por várias especialidades. Cabe à equipa multidisciplinar identificar qual o método de tratamento mais indicado para cada pessoa e, depois, assegurar todo o acompanhamento necessário na sua preparação, durante e após a intervenção, o que pode implicar o envolvimento de um profissional de nutrição, um endocrinologista e um psicólogo. O objetivo é, sempre, garantir um acompanhamento personalizado capaz de apoiar o doente na perda de peso ao longo do tempo.

Discute-se que a endoscopia da obesidade, aliada a novos medicamentos, poderá vir a ter daqui a alguns anos resultados semelhantes à cirurgia bariátrica. Será? Só o tempo dirá.

O que sabemos é que a obesidade é um problema de saúde pública, com uma frequência muito elevada em Portugal – e que, através de uma abordagem multidisciplinar, já é possível apoiar estes doentes. E, acrescento, ainda: as terapias inovadoras vieram para ficar.