A seita histérica do costume não se cansa de propagar aos quatro cantos da terra a impreparação, falta de humanismo e, quem sabe, a existência criminosa do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos da América, Donald Trump, agora por ter afirmado que a sua rival democrata às eleições, Kamala Harris, «Tornou-se subitamente negra» como «estratégia para ter votos» (notícia de 31-07-2024). Tais frases acertam em cheio na instrumentalização política das identidades raciais, tal como das identidades sexuais, a manipulação do que existe de mais íntimo nos indivíduos, práticas abjetas normalizadas nas democracias ocidentais.
Donald Trump está a secar a fonte do que a esquerda chama racismo, hoje um fenómeno de alienação mental que contamina o mundo. As responsabilidades centram-se na sociedade norte-americana, em rigor na casta política, académica e artística branca de esquerda sempre à procura de uma marioneta negra para utilizar como chamariz eleitoral.
Ontem foi o mulato Barack Obama, hoje a mestiça Kamala Harris, um e outra convertidos em negros porque a política norte-americana se entretém a assassinar a complexidade racial dos indivíduos para instituir uma fábrica de negros. Quando os ditos indivíduos de cor se recusam ser escravos mentais da esquerda, são tratados por essa mesma esquerda branca ocidental como se tratam os pretos, são socialmente silenciados ou, quando alcançam alguma visibilidade o objetivo é humilhá-los.
No tempo colonial, preto era aquele que não podia passar do quintal, não lhe era permitida a sua entrada na casa do colono branco. Hoje a esquerda branca norte-americana e europeia faz exatamente o mesmo. Indivíduos pertencentes a uma minoria racial que não sejam de esquerda ou, pior, que exerçam a liberdade de ser de direita, bem que podem ter os mais variados atributos favoráveis à dignificação nas instituições e sociedade, mas a casta esquerda branca mantém-nos no quintal, não lhes abre as portas das universidades, comunicação social, instituições políticas, meios intelectuais, culturais ou artísticos. Se no passado o destaque ao negro era para mostrar um canibal, hoje a esquerda branca faz o mesmo com métodos renovados. Ricardo Araújo Pereira, palhaço do regime, é dos mais abjetos na matéria e, em relação à minha pessoa, o sujeito esqueça qualquer condescendência.
Na eleição para vice-presidente da Assembleia da República, em 2022, a minha negritude não serviu para que as pessoas de esquerda vislumbrassem um mérito pessoal ou político mínimo, o mesmo com a direita fofinha. Ou era um negro deles, ou era para tratar como se tratam os pretos, manter fora, no quintal. De políticos a jornalistas tive de suportar a distorção das minhas palavras na conferência de imprensa, posto que nunca me queixei de racismo e felizmente está tudo gravado.
Foi também por ser de direita, do Partido Chega, que assim que fui eleito deputado, em 2022, a televisão SIC tratou de colocar no ar um Polígrafo que dava como verdadeiro eu defender «castigos corporais aos alunos nas escolas», a nova versão do preto canibal. Ninguém da SIC considerou leviana e gravíssima tal acusação pública e sequer se lembrou, até hoje, de me entrevistar sobre o assunto, até porque um dos direitos do preto é ser publicamente linchado. O lugar dele é mesmo no quintal. É o retrato mental dos jornalistas do Polígrafo e da SIC, como tantos outros que enchem a boca com acusações de racismo a André Ventura e ao Chega.
É hoje cristalino que o tal racismo nas sociedades brancas do hemisfério norte não é um problema das minorias raciais. O que a classe política norte-americana anda a impor às sociedades ocidentais, pelo menos desde a década de setenta do século XX, é a arte de transformar as pessoas pertencentes a minorias (negros, mulatos, mestiços, ciganos, entre outros) em trelas humanas, equiparáveis a animais cativos que rosnam, para que as pessoas brancas de esquerda que seguram a trela domesticarem, seduzirem, intimidarem, reprimirem, insultarem as outras pessoas brancas como elas.
Não é a pessoa da minoria racial em si que conta para os antirracistas de serviço, prática que levou Donald Trump a colocar o dedo em tal ferida pútrida. Felizmente que ele está a conseguir que parte crescente da população branca norte-americana, e do Ocidente em geral, percebam o dever moral e cívico de se afastarem de uma esquerda e direita fofinha que apenas sabem ser abjetas.
Donald Trump atinge ainda um outro ponto moralmente sensível, a manipulação do trauma histórico da escravatura partilhado por todas as populações e comunidades brancas de matriz cristã – de direita, de esquerda ou alheadas da política –, manipulação da responsabilidade exclusiva de uma esquerda que não olha a meios para tirar dividendos eleitorais. Tal como hoje os africanos se autoleiloam através da imigração ilegal rumo ao Ocidente, é impossível ignorar que os negros africanos sempre tiveram seríssimas responsabilidades na escravatura por se terem vendido uns aos outros, e sem nunca terem assumido tamanho óbvio, mas ainda assim a autoconsciência ocidental branca jamais necessitou dos outros para se autocorrigir por si mesma das suas violências, abusos, vícios. É por isso que a sua civilização de matriz cristã é admirável há pelo menos dois milénios.
A esquerda branca que usa a escravatura para manipular a intimidade de pessoas pertencentes a minorias raciais jamais conseguirá provar de que lado estava ela mesma, esquerda branca, nas épocas passadas da escravatura, uma vez que isso é impossível no presente. Porém, no que deveria ser uma ridícula lógica da batata, essa mesma esquerda assegura que a direita branca atual (ou extrema-direita como chamam) estava do lado da escravatura nesse mesmo passado, o que também é impossível de comprovar. Uma vez que o racismo foi a consequência da escravatura, logo a esquerda atual autopromove-se como a eterna boazinha da história, hoje também antirracista, contra uma direita eternamente mazinha e racista.
Deveríamos saber que a direita sempre apresentou soluções diferentes e historicamente bem mais justas, funcionais e eficazes para a aproximação entre identidades raciais, étnicas ou religiosas distintas. A prova está no sucesso da dominação colonial efetiva de África iniciada em finais do século XIX, o melhor período de sempre do continente africano, quer comparativamente ao período pré-colonial efetivo (antes do século XIX), quer ao período pós-colonial iniciado nos anos 60 e 70 do século XX. Os resultados que a esquerda tem para apresentar no último meio século nas Américas, Europa ou África em matérias de integração racial, étnica ou religiosa não passam de lixo mental a merecer ser remetido para uma ETAR tal o caos social, económico, de violência criminal e armada e, na última década, de desregulação dos fluxos emigratórios/imigratórios que tudo ameaçam destruir.
Nasci em Moçambique, país do qual nunca me desfiliarei até à minha morte, terra africana onde era e sou mulato (do lado paterno tenho uma avó negra moçambicana genuína e um avô branco árabe sírio) ou monhé (do lado materno tenho uma avó mestiça miscigenada de gentes do Índico e um avô indiano islâmico de Jamnagar). Quando emigrei para o hemisfério norte do planeta, para Portugal/Europa, região dominada pela distopia norte-americana, aprendi que neste lado do mundo as pertenças raciais reduziam-se a brancos e negros e, por pressão da realidade, assumi a negritude neste lado do mundo.
Com o correr do tempo, fui percebo o quanto a dignidade de pessoas como eu foi vergada às distopias esquerdopatas. É hoje para mim clara a lógica do atropelo da complexidade racial dos indivíduos. Sempre que o binário dá votos à esquerda norte-americana a compreensão da realidade fica aprisionada a dois, mesmo que isso atropele a natureza e mate a complexidade do mundo (a mulata e o mulato que eram uma marca identitária forte do Brasil desapareceram), posto que a esquerda só admite que existam brancos-maus e negros-bons, dos maiores incentivos da história ao fabrico de negros a torto e a direito, mesmo ao arrepio do óbvio, isto é, que os negros na verdade não sejam negros. Porém, quando o binário não permite a esquerda branca obter votos, acaba-se com ele por troca pela eficácia eleitoral do arco-íris, mesmo que isso atropele evidências da natureza humana: mulher e homem deixam de se definir pelo sexo biológico e, afinal, podemos fabricar tantos géneros quantos a esquerda necessitar para ganhar eleições, ainda que com recurso à violência invasiva de tratamentos químicos ou de intervenções cirúrgicas que, um dia, espero ver catalogadas como criminosas e os seus responsáveis severamente punidos.
Num tempo de elites loucas, nem sequer se salva a solidariedade entre os ditos negros entre si. Condoleezza Rice é genuinamente negra. Foi das pioneiras e mais dignas mulheres a entrar pela porta grande da política norte-americana, mas por ser republicana, isto é, por ser de direita tem sido despromovida ao silenciamento. É assim se tratam os pretos. Isso porque a esquerda branca norte-americana sempre desesperou por exibir um seu negro de esquerda bem melhor que a preta da direita na busca de um trunfo eleitoral bem mais forte, daí a glorificação do mulato Barack Obama. Acontece que este não passa de um falso negro a quem tudo se faz para apagar a sua ascendência direta branca (mãe) e para sobrevalorizar o lado negro (pai). Portanto, Obama é ao mesmo tempo um descendente escravocrata-materno e escravo-paterno, mas isso atrapalhava a narrativa política da esquerda branca na busca da sua negritude eleitoral.
Agora desesperam pela continuidade da narrativa eleitoral com a mestiça Kamala Harris, outra falsa negra. Esta filha de mãe indiana e pai jamaicano, sem que se vislumbre na dita a mínima ancestralidade africana, posto que sem isso nem se anda perto da identidade racial negra. É tão-só o habitual abjeto oportunismo de quem sabe que para ganhar votos precisa de continuar a narrativa do Obama negro na Kamala negra. Desse modo, a esquerda branca continuar a fabricar negros a torto e a direito.
Uma coisa sei. Nenhum preto votará em Kamala Harris. Poderá até não votar em Donald Trump, mas suspeito que lhe agradecerá a liberdade de poder existir sem ser escravo mental da esquerda.