Frantz Fanon, o pai intelectual das orgias de ódio e violência negras e africanas contra o branco e contra o Ocidente, nasceu numa família de classe média da Martinica (América Central), passou pela Argélia durante a segunda guerra mundial (África Árabe ou Branca, terra-mãe de antigos colonizadores escravocratas) e viveu um período de preparação académica e atividade intelectual em França (Europa Ocidental), extensível a outras paragens ocasionais do Norte de África. Simplesmente não é possível um sujeito com tal percurso de vida ser especialista na África negra onde nunca esteve.

A ignorância sobre a realidade vivida é a mãe de todas as ignorâncias, o que diz muito dos meios intelectuais e académicos ocidentais que toleram o Adolf Hitler das Antilhas e o rol de teorias, interpretações ou crenças que gerou, ainda bem vivas.

Mamadou Ba é apenas mais um discípulo cuja ignorância ufana é vantajosa para que as pessoas comuns despertem. Em vez de gastar uns anos a conhecer a fundo África pelo contacto direto com os seus, e meus, conterrâneos negros no continente ancestral, e a ler autores decentes, a precondição para depois também entender as diásporas negras nas Américas ou na Europa, o sujeito venera cegamente sociopatas como Frantz Fanon enquanto goza do conforto de quem vive nas sociedades brancas.

O único assassinado pelas identidades negras e africanas até hoje foi justamente o homem branco, o pai colonial ou ocidental, o que ensinou, por exemplo, pessoas como o sr. Mamadou a exprimir-se em português, ler e escrever, vestir-se e comer como o faz, viver no tipo de casa onde vive, a relacionar-se com o sexo oposto como se relaciona, a pensar como pensa, enfim, a ter o estilo de vida que tem.

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Se quisermos seguir a explicação freudiana, e não há outra fiável, o problema identitário dos negros e dos africanos resume-se hoje a nunca terem morto os seus pais negros. Quer o pai africano tradicional ou ancestral, quer o pai nacionalista libertador, o que trouxe a independência.

As soluções para as desgraças e desafios das identidades negras e africanas vêm praticamente todas das tradições civilizacionais legadas pelo pai branco morto e enterrado, por isso não é mais ameaçador no presente. É o caso da autorresponsabilidade, reforço da ciência, conhecimentos, cultura escrita, ideia de justiça, igualdade homem/mulher, boa governação, democracia, valores religiosos, hábitos quotidianos, saúde, entre outros.

Pelo contrário, as disfuncionalidades e problemas que afetam aquelas identidades são heranças dos pais negros. Um deles, o pai ancestral, não tinha tradição escrita até ao passado recente, o que explica o insucesso escolar. O mesmo que continua a alimentar fórmulas manifestas ou latentes de poligamia, o que desregula as famílias e explica o grave problema da explosão demográfica ou da propagação de certas epidemias em África. É o mesmo pai cujas tradições ancestrais de feitiçaria explicam a persistência de rituais como a excisão genital feminina ou a perseguição e morte de albinos. Entre outros males.

O outro pai negro, o nacionalista, retomou em forma de guerras civis as violências tribais anteriores à colonização efetiva (a partir de finais do século XIX). Usurpou violentamente a propriedade do colono com a independência desregulando o ideal de propriedade naquelas sociedades, herança da qual deriva a explosão da corrupção ou da criminalidade e, consequentemente, do surgimento do fenómeno reativo dos linchamentos que retomam fórmulas de violência ancestral. Foi o pai cujo ódio ao branco e ao Ocidente abriu as portas à China que sugou os recursos naturais até gerar desequilíbrios ambientais ameaçadores, ou à violência do radicalismo islâmico. Foi ainda aquele cuja má governação fez explodir a concentração urbana que torna a vida caótica, desregulada, miserável. Por aí adiante.

Quando as identidades negra e africana se afundam justamente pela incapacidade do parricídio do pai tradicional negro e do pai nacionalista libertador negro, Mamadou Ba é a voz audível dos que continuam a reclamar o assassinato do pai branco morto há meio século para proteger, e deixar impune, as únicas fontes destrutivas do presente, as heranças dos pais negros e africanos. Há nessa atitude um misto de ignorância, imoralidade, indignidade, desumanismo contra o próprio irmão negro. O sujeito, e os que pensam como ele, são tão ameaçadores para brancos quanto para negros, a mais-que-perfeita glorificação do mal por via da ignorância.

Com as independências, o único pai que as sociedades africanas mataram física e sobretudo simbolicamente foi o pai colonial branco, isto é, só conseguiram encontrar soluções para a violência que veio de fora do continente. O efeito paradoxal crescente acabou por ser o desse processo identitário ter feito regressar e avolumar-se continuadamente as fontes de violência endógena, a do pai tradicional ancestral (que vive das lógicas mágico-religiosas ancestrais) e a do pai nacionalista libertador (profundamente distinto do anterior porque muitíssimo dependente do universo marxista-leninista). E com uma forte carga de radicalismo.

Por isso, quanto mais as identidades negras e africanas forem instigadas a valorizar, a dignificar, a respeitar herança do pai branco ou do pai colonial europeu morto, mais e melhor renovarão e salvarão o continente do estado em que se encontra, assim como mais facilmente resolverão os desafios da integração das diásporas negras das Américas ou da Europa. É a possibilidade de completarem o ciclo freudiano.

Quem foi que disse que a condescendência branca ou ocidental face aos negros e face a África ajuda a que tais identidades melhorem? É justamente o oposto. Quando a crítica é justa por apontar a ausência de autorresponsabilidade individual e coletiva nos outros, significa o mesmo que fazer o bem sem olhar a quem. É por isso que a forma paternalista e politicamente correta como se insiste em tratar a questão colonial («colonialismo»), a questão racial («racismo») ou a defesa das minorias («discriminação positiva») é atentatória da mais elementar defesa moral e intelectual da condição humana.

Já alguém pensou no que ganhávamos se os negros e africanos fossem instigados a matar, através da sua crítica social impiedosa, o pai negro africano ancestral e as sementes de violência e desordem que deixou? E o mesmo com o pai negro africano nacionalista libertador? Ninguém tem feito mais mal aos negros e aos africanos do que eles mesmos. São os seus piores inimigos. Ou, no mínimo, só cada um de nós pode resolver os seus problemas identitários olhando para si mesmo.

Por acaso o sr. Mamadou não fala português, não escreve à ocidental, não se veste à ocidental, não adora as sociedades ocidentais, os seus subsídios, a sua comunicação social, assim como tudo o resto que herdou do pai branco? Mas fá-lo de maneira extraordinariamente perversa porque se recusa a assassinar os pais negros que vivem dentro dele, os seus pais que mais carecem de críticas severas, os pais cuja violência ele esconde enquanto agita o fantasma do males do pai branco morto, uma tentativa malsucedida dos que, na verdade, tentam disfarçar a vergonha de serem negros. Esse é o problema dos negros antirracistas, filhos da insensibilidade dos brancos antirracistas. Vivemos na era do absurdo.

Parece-me ser muitíssimo mais importante negros e africanos romperem com o politicamente correto do que brancos e ocidentais, até porque os últimos têm apenas um pai ancestral endógeno cujo rosto vai variando espaçadamente ao longo da história (rei absoluto, igreja, ditador), enquanto os africanos têm de lidar com três pais fundadores, por isso mesmo violentos como explica Freud, um deles estranho à sua ancestralidade, e num curto intervalo temporal: pai tradicional africano negro, pai colonial branco e pai africano libertador negro. Uma identidade coletiva com essa complexidade não deveria ser tratada com os pés com tem sido.

Em termos gerais, depois do inevitável e justo parricídio do pai violento o sujeito descobre que resolveu o problema imediato, mas não resolveu o problema a prazo, uma vez que essa morte faz desaparecer o poder regulador e agregador da relação entre irmãos que, na sua ausência, depressa degeneram em conflitos internos que crescem até ameaçarem a tranquilidade existencial e a coesão da vida coletiva. É então que se começam a afirmar sentimentos de remorsos por causa do assassínio do pai, seguidos de arrependimentos que forçam o conjunto dos filhos, o coletivo, a regressar ao progenitor por via da veneração da sua memória quando sentem que o seu cadáver deixou de ser ameaçador.

Não há alternativa identitária, uma vez que parte do que somos enquanto indivíduos ou coletivos é sempre dos nossos pais e, ao longo da vida ou da história, conquistaremos a maturidade existencial quando descobrimos que odiá-los é odiarmo-nos a nós mesmos.

Para negros e africanos o ciclo do pai colonial ou do pai branco está completo, os ódios são crescentemente absurdos. O que tem acontecido é como se o mundo inteiro conspirasse para manter eternamente negros e africanos na adolescência existencial, proibindo-os de aceder à maioridade ao interditá-los que cumpram o mesmo ciclo face ao pai africano negro ancestral e ao pai nacionalista libertador negro, demarcando-se da sua violência e males sem piedade.

São justamente os sentimentos de remorso e arrependimento resultantes do parricídio que, depois, fundam a moral e a moral social. As identidades negras e africanas vivem justamente um ciclo de profunda crise moral cujas elites desviam irresponsavelmente para a identidade branca. Resolvê-la é garantir a viabilidade do sujeito na terra ancestral ou na diáspora, a sua tranquilidade existencial, a sua contenção, o respeito por si e pelos outros, a sua empatia, o seu controlo dos instintos e da violência primária, a sublimação desses mesmos instintos primários desviando-os do mal que causam ao semelhante para atividades socialmente úteis ou superiores (ciência, filosofia, artes, música, negócios, desporto, solidariedade, inovação, entre outros).

Mesmo que descrito de forma simbólica a partir da figura paterna, é esse processo que torna indivíduos, comunidades ou sociedades pacíficos, justos, férteis, prósperos. O que só é possível se, antes de se relacionarem com os outros, indivíduos e coletivos resolveram as suas relações consigo mesmos, abandonando o vício de julgar as culpas para fora de si, para o pai morto.

Há um momento na vida em que o pai, por ter morrido, já não é a fonte do mal. Esse é o momento da verdade. É o momento em que descobrimos que o inferno somos nós. Sabermos sair dele é entrarmos na idade da maturidade. Freud explica. E de diversas maneiras.

Os Mamadous Bas e Associados desta vida são puro veneno moral, intelectual, civilizacional. Apesar de tudo, a situação já foi pior.