Em 2019, numa cimeira das Nações Unidas, perante um embasbacado António Guterres, Greta Thunberg, já a fazer aquelas bolhas de ranho, bradou: “Vocês roubaram os meus sonhos e a minha infância!” Uma afirmação curiosa, porque se estava a queixar de lhe terem roubado a infância ao mesmo tempo que protagonizava uma fita particularmente infantil.

Naquele dia, de olhos raiados e tom ameaçador, Greta parecia uma guarda vermelha. Por se tratar de uma jovem fanática a acusar adultos de desvios burgueses e também por estar escarlate devido à birra.

Ao ouvi-la, não houve um crescido que não quisesse de imediato apagar as luzes todas daquele anfiteatro. Não para poupar electricidade e deixar de emitir CO2, mas para que Greta pudesse sossegar com uma sesta. Qualquer pai sabe como os petizes ficam irritadiços senão têm o seu oó.

Talvez por verem a sua padroeira lamuriar-se amargamente de não ter tido infância, os activistas climáticos empenham-se em prolongar a sua o máximo conseguirem. Ultimamente têm-no tentado através de marotas sabotagens. Depois do vandalismo em obras de arte, a última patifaria é o esvaziamento de pneus de carros grandes. São partidas juvenis, daquelas dos programas de apanhados. Os donos dos carros, quando deparam com os pneus em baixo, devem olhar para todo o lado a ver quando é que aparece o Nuno Graciano com um sobresselente. Os traquinas podiam ser meros delinquentes sem nada que fazer a uma quinta à noite. Ou tocavam às campainhas, ou esvaziavam pneus. Podiam dar-se nomes engraçadotes, como “Dunlorpas” ou “Piralhi”. Mas não, são activistas e levam a missão muito a sério: salvar o mundo, câmara de ar a câmara de ar.

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Para ser justo, tenho de admitir que compreendo a exasperação destes activistas. Foi-lhes dito que o mundo vai acabar se não forem tomadas medidas urgentes já. Agora. Imediatamente. É natural que se sintam ansiosos e com ganas de agir. Sucede que estamos em 2023 e isso não é propriamente uma novidade.

Se estivéssemos em 2006, quando garantiram que era a última oportunidade para salvar o mundo, percebia-se.

Em 2007, quando repetiram a garantia, idem.

Também em 2008, data de nova última oportunidade.

E mesmo em 2009, ano em que era mesmo a última oportunidade.

Talvez passasse em 2011, ano da última última oportunidade.

E até em 2013 ou 2015, adicionais últimas oportunidades, podia, eventualmente, fazer sentido.

Com boa vontade, compreendia-se em 2016, data de nova última oportunidade extra.

Bem trabalhado, ainda em 2018 se podia meter uma cunha para aceder à última oportunidade.

Por especial favor, em 2020, quando houve uma última oportunidade especial.

Mas não mais tarde que 2021, ano em que a última oportunidade fechou a porta.

Ok. Vá, 2022. A última oportunidade voltou atrás. Mas era mesmo, mesmo a última.

Mas em 2023? Depois de desperdiçadas tantas últimas oportunidades para evitar o armagedão e, mesmo assim, o armagedão não vir, era de esperar que os activistas já não se deixassem enganar. Até o meu cão – que, por coincidência, também tem medo de trovoadas – às tantas deixa de acreditar quando eu finjo que atiro a bola e a escondo atrás das costas.

Se os activistas fossem mesmo crianças, em vez de apenas se portarem como tal, isto não acontecia. Uma criança, quando alguém lhe diz “é a última oportunidade que te dou, se não vens já para o banho, nem sabes o que te acontece!” e, apesar de não ir logo para o banho, continua sem saber o que lhe acontece, uma vez que não lhe acontece nada, aprende rapidamente que estas últimas oportunidades nunca são últimas. E passa então a agir em conformidade, borrifando na ameaça e não comparecendo na banheira.

Em vez disso, os militantes climáticos não só continuam a reagir por instinto a qualquer referência a “última oportunidade”, como o fazem cada vez mais histericamente. Não só não desvalorizam a ameaça por já ter sido feita muitas vezes em vão, como parece que a levam cada vez mais a sério. É como se o rapaz que grita “lobo!” fosse arregimentando mais aldeãos por falso alarme. Como se naquelas seitas que prevêem o fim do mundo o profeta se tornasse mais credível à medida que vai falhando previsões.

Isto significa que, se em 2023 tiram o ar de pneus de carros grandes, em 2033, depois de mais uma dezena de “últimas oportunidades!”, vão estar a tirar o ar a condutores de carros grandes.

Que é, aliás, o mínimo que se exige a quem está mesmo convencido que a Terra vai ser destruída se não se tomarem medidas. Se eu achasse que a humanidade ia acabar se não parasse de emitir CO2, não ia perder tempo a esvaziar pneus. Contratava um tipo da Al Qaeda para me ensinar a planear atentados de grande escala. Como é que terá sido a reunião onde isso ficou decidido?

Activista 1 – Malta, chegaram novos dados. Esta é a última oportunidade que temos para salvar a Terra.

Activista 2 – Outra vez?

Activista 1 – Agora é que é mesmo.

Activista 2 – Isso foi o que disseste no ano passado.

Activista 1 – Eu sei, mas desta vez é que é. Acredita.

Activista 2 – Como já tinha acreditado no ano passado?

Activista 1 – Este ano é diferente e…

Activista 2 – E no anterior.

Activista 1 – Sim, mas…

Activista 2 – E no anterior ao anterior.

Activista 1 – Ok, mas repara que…

Activista 2 – E no antes desse.

Activista 1 – Já percebi! Cala-te um bocadinho, pá. Desta vez não falha. Vem aí o Apocalipse e as nossas famílias vão morrer. Os poucos que sobreviverem vão sofrer imenso. Vai ser horrível. A não ser que tomemos uma medida drástica.

Activista 2 – Qual?

Activista 1 – Vamos esvaziar os pneus de determinados carros.

Activista 2 – Ui, desta vez é mesmo a sério!