Como mostram as sondagens, parte do eleitorado de direita não se revê no PSD de Rui Rio. Além disso, a direita partidária fragmentou-se com a criação da Aliança de Santana Lopes. Não interessa discutir quem é o culpado. O facto é que um antigo líder do PSD fundou um partido novo e isso enfraquece os sociais democratas. Pior do que tudo, toda a gente dá a vitória do PS, em Outubro de 2019, como garantida. A menos de um ano das eleições, a grande dúvida é sobre a capacidade do PS para alcançar a maioria absoluta. Neste contexto desanimador, o desafio para os líderes das direitas será mobilizar o seu eleitorado.
Pelo que tem feito até agora, Rui Rio parece incapaz de mobilizar os eleitores de direita. Em primeiro lugar, Rio lidera um partido dividido. A capacidade para promover a unidade de um partido é uma das qualidades decisivas de um líder político. A não ser que mude radicalmente, Rio não mostra possuir essa capacidade. Não procura conquistar o respeito dos militantes e, mesmo que não o conseguisse, poderia pelo menos tentar. Julga que afirma a sua liderança através do confronto permanente com quem não está do seu lado. Isola-se entre os seus, em vez de construir a unidade. Um partido dividido não mobiliza o eleitorado não-militante da sua família política.
Rui Rio comete ainda outro erro enorme. Pretende impor uma pureza ideológica que o PSD nunca teve. Não há qualquer problema no PSD ser também social democrata. Foi sempre assim desde a sua fundação. O problema é o PSD ser apenas social democrata. É um erro fatal. O PSD foi desde sempre o partido de sociais democratas, mas também de liberais, de conservadores e até de democrata cristãos. Qualquer liberal ou conservador português que votou no PSD soube sempre que não estava a escolher um partido liberal ou conservador. Mas, quando o partido foi grande, sentiu-se bem recebido e revia-se em muitas das suas políticas. Um grande partido de poder tem que saber federar várias tendências. Foi isso que Cavaco Silva, Durão Barroso e Passos Coelho fizeram. Por isso, chegaram a São Bento. A incapacidade de Rio para perceber este ponto elementar mostra que não está preparado para liderar um partido de poder. Age como o líder de um pequeno partido social democrata, e não como um líder de um grande partido que vai do centro à direita. Confundiu a conquista do centro com uma definição ideológica redutora.
Nas democracias pluralistas, compete aos partidos conquistar os votos dos eleitores. Muitos dos eleitores de direita em Portugal têm sido atacados desde que Rio chegou à liderança do PSD. São frequentemente criticados por defenderem o legado de Passos Coelho, são quase sempre condenados por se afirmarem de direita. Por que votarão num partido cuja liderança os ataca permanentemente e nada faz para os conquistar? Obviamente, não votarão no PSD liderado por Rui Rio.
Para esses eleitores, resta o CDS ou a Aliança. Para ser sincero, nenhum deles parece ter a capacidade suficiente para mobilizar uma grande fatia do eleitorado de direita, sobretudo os mais inclinados para a abstenção. Assunção Cristas ainda não mostrou ter golpe de asa para aproveitar a crise do PSD e crescer para os 15%, embora seja sempre uma opção segura para alguns dos desiludidos com Rio. A Aliança é e continuará a ser um partido de um homem. Duvido que consiga dar o salto para um movimento político verdadeiramente novo e mobilizador. O talento de Santana será suficiente para conseguir um pequeno grupo parlamentar, mas não será fácil alcançar mais do que isso (apesar de Santana beneficiar da comparação quer com Rio como com Cristas).
A direita portuguesa está assim num período de transição depois do período de austeridade do qual ainda não recuperou. O seu futuro começará em Outubro de 2019. Até lá terá que evitar o desastre e contentar-se com o mal menor.