Finalmente, depois de semanas de pressão dentro do próprio partido, Joe Biden decidiu não se recandidatar à presidência dos Estados Unidos. Com as eleições já em Novembro, vamos lá ver se não é tarde de mais. Em sua defesa, há que dizer que a decisão deve ter sido tomada há bastante tempo, só que o período entre Joe pensar “vou-me afastar da corrida” e começar efectivamente a afastar-se da corrida é longo. A ordem dada pelo cérebro demora vários dias a chegar às pernas.
Neste momento, os democratas têm de escolher um novo candidato de entre meia-dúzia de aspirantes. Na comunicação da sua desistência, o Presidente facilitou-lhes a tarefa. Ao que tudo indica, o candidato não será Kamala Harris, uma vez que Biden mostrou preferência por ser Kamala Harris e, neste momento, qualquer preferência de Biden que não seja o sabor das papas de aveia ou o episódio predilecto da Bluey é encarada com suspeita. É uma questão de horas até se perceber que Harris, como vestir as cuecas por cima das calças ou tomar o busto de George Washington como um estagiário da Casa Branca, foi mais uma das confusões de Biden.
Daí que, ao declarar o seu apoio a esta escolha condenada de Harris, Gavin Newsom, governador da Califórnia, passou a ser o candidato mais provável do Partido Democrata.
A última vez que Newsom apareceu nas notícias por causa do seu actual emprego foi na semana passada, depois de ter assinado uma lei que proíbe as escolas de avisarem os pais se os filhos mudarem de nome e passarem a identificar-se com o sexo oposto.
Note-se que não é uma lei autoritária que corta qualquer tipo de comunicação entre a escola e pais preocupados com a saúde e com a vida social e académica dos filhos. Isso seria inaceitável. Não, a lei apenas permite que a escola esconda informação dos progenitores quando a criança julga que é de um género diferente e se passa a apresentar em conformidade com essa fantasia. Só nesses casos, muito específicos, em que o jovem leva uma vida dupla à revelia dos seus pais e que estes, por ignorância, não podem prestar o auxílio necessário ao menor, é que professores e direcção da escola deixam de estar obrigados a avisar a família. De resto, o canal de comunicação mantém-se aberto.
Por exemplo, vamos supor que o Joãozinho não faz os TPC durante uma semana. A directora de turma não admitirá este desleixo e enviará uma nota para casa a informar os pais do Joãozinho, para que os pais do Joãozinho, na qualidade de pais do Joãozinho e, por extensão, responsáveis pela educação do Joãozinho, assim como da sua criação em geral, possam tomar as medidas necessárias.
Agora, vamos supor que o Joãozinho faz os TPC todos, mas assina-os como “Anabela”, nome pelo qual deseja passar a ser conhecido, exigindo-o nas pautas, nas chamadas ao quadro e nas brincadeiras no recreio. Neste caso, a directora de turma acatará a vontade do Joãozinho, perdão Anabela, e não informará os pais da Anabela desta situação. Aliás, se os pais da Anabela perguntarem à directora de turma se está tudo bem com o seu filho, a directora de turma dirá que “Sim, está tudo bem com o Joãozinho”, penitenciando-se em silêncio por ter usado o antigo nome da Anabela, ainda que para a defender da intromissão paternal.
Há nuances, claro. Se o Joãozinho disser que se chama Anabela, ninguém em casa é informado. Porém, se o Joãozinho chamar Anabela a outro menino que não quer ser conhecido por esse nome, seguirá uma participação disciplinar para os seus pais, por ofensa homofóbica. Do mesmo modo, se o Joãozinho for todos os dias para a escola vestido de menina, com cabeleira, maquilhagem e mamas falsas, ninguém incomoda os seus pais com essas bagatelas. Mas se se apresentar nesses preparos apenas no Carnaval, é capaz que os pais sejam chamados à direcção para falar sobre o machismo do filho.
Gavin Newsom, expectável candidato democrata, considera que os pais de uma criança não devem sequer ser consultados se o seu filho sofrer de disforia de género. No entanto, esta tem sido noticiada como uma lei que protege as crianças que se identificam como trans. Uma lei que parte do princípio que os pais não defendem os melhores interesses dos seus filhos só faz sentido se na Califórnia os pais forem todos como o Darth Vader em relação ao Luke Skywalker e à Princesa Leia.
Portanto, os mesmos democratas que, quando ouviram Biden garantir que está em forma e se sente jovem, disseram “Não, não está! É evidente que está velho, é um facto biológico!”, estão dispostos a aceitar que um menino que diz que se sente menina é de facto uma menina.
Se Biden não queria ser visto com cepticismo pelas figuras do seu partido, em vez de afirmar que se sentia um jovem capaz, devia ter antes dito que se sentia uma jovem capaz. Aí já ninguém o punha em causa.
Resumindo, para fazer frente a um candidato aldrabão patológico, os democratas preparam-se para apresentar um candidato que aldraba sobre patologias.