Em Portugal, é cada vez mais difícil ter esperança num futuro melhor. Para acreditarmos no futuro, temos de ver, no presente, melhorias nas nossas condições de vida. Na saúde, na educação ou nos transportes públicos. E, claro, nos rendimentos. Infelizmente, naquelas áreas, é difícil encontrar melhorias para o bem-estar dos portugueses. Pelo contrário.
A deterioração a que se tem assistido nos serviços de saúde, na educação ou nos transportes públicos resulta da incapacidade de planear o longo prazo e de gerir de forma eficiente no curto prazo. A deterioração sistemática de serviços públicos essenciais leva a uma perda de confiança no futuro.
Como é possível acreditar no futuro se o Governo não consegue garantir o normal funcionamento das maternidades? Como é possível acreditar no futuro quando dezenas de milhares de alunos não têm aulas por falta de professores? Como é possível acreditar no futuro quando os transportes públicos, que são a única forma de mobilidade para muitos portugueses, estão constantemente a ser suspensos por greves?
Em 2021, a natalidade em Portugal atingiu mínimos históricos. Pela primeira vez, em muitas décadas, nasceram menos de 80 mil bebés (Pordata). Em 2022, muitas mulheres vivem angustiadas no final do seu tempo de gravidez. Não sabem se a maternidade da sua área de residência estará em funcionamento. As dificuldades das regiões de baixa densidade populacional em atraírem médicos são há muito conhecidas. Porém, é difícil compreender que uma situação com esta gravidade atinja cidades com a dimensão de Braga ou a capital do país.
Esta grave falha do Serviço Nacional de Saúde reflete a incapacidade de planeamento e de encontrar soluções. O Ministério da Saúde não planeou o longo prazo e não mostrou capacidade de gestão no curto prazo. Será que não é possível encontrar uma solução para garantir tranquilidade e segurança às mães e aos bebés?
No ano letivo de 2021-2022, milhares de alunos das escolas públicas estiveram sem aulas por falta de professores. A taxa de natalidade está a cair há décadas e as previsões de instituições nacionais (Instituto Nacional de Estatística) e internacionais (Comissão Europeia) são conhecidas há muito. Por outro lado, os relatórios do Conselho Nacional de Educação têm alertado, de forma recorrente, para o problema do envelhecimento do corpo docente e para a necessidade do seu rejuvenescimento.
O aumento do número de licenciados em Portugal nas últimas décadas foi extraordinário. Não seria possível ter planeado as necessidades e a oferta de formação de professores? Não seria possível reorganizar o sistema para que os alunos do ensino público não tivessem falhas sucessivas ao longo da sua formação? Como é possível acreditar na escola pública quando a única forma de colmatar as suas falhas é recorrendo ao pagamento de explicadores privados?
Os preços dos combustíveis continuam proibitivos e põem a nu as debilidades das nossas redes de transportes públicos. É mais um exemplo da incapacidade de planear o longo prazo. Num período em que os transportes públicos se tornam essenciais para as famílias que não têm outra alternativa de mobilidade, as greves nos comboios sucedem-se. Mais um exemplo da incapacidade de gestão no curto prazo.
Neste quadro, a que se soma o caos nos aeroportos e a situação periclitante da TAP, percebo o desespero do Ministro Pedro Nuno Santos. Mas o seu anúncio, logo revogado, de dois aeroportos (depois do falhanço na gestão do processo do aeroporto do Montijo) é mais uma manifestação das falhas no planeamento do longo prazo e da gestão ineficiente no curto prazo.
Sobre incapacidade de planear o longo prazo e de gerir o curto prazo, não podia deixar de falar da tragédia dos fogos em Portugal. Depois de mais de 100 pessoas terem morrido nos incêndios de 2017, o caos na floresta mantém-se. Aquele que devia ser um importante recurso económico e ambiental continua a ser um factor de risco para muitas populações. Quando se vivem situações atmosféricas como as da última semana, nem na principal autoestrada do país se pode circular em segurança. Quando na última quarta-feira ao início da noite passei na A1, perguntei a mim mesmo como era possível aquela estrada ainda estar aberta, quando o fogo se aproximava dos dois lados a grande velocidade – outros automobilistas passaram a seguir a mim em condições de elevadíssimo risco, felizmente sem consequências.
Os governos sucedem-se, os problemas arrastam-se, nada parece ter solução. Nem no curto, nem no longo prazo. Ao referir-se, recorrentemente, aos problemas do país como estruturais, António Costa gera uma impressão de incapacidade em apresentar soluções. Uma sensação de impotência.
Com esta atitude de aparente resignação, vinda de alguém que passou décadas em cargos da mais alta responsabilidade, que é primeiro-ministro há quase sete anos, que obteve recentemente uma maioria absoluta, acreditar num futuro melhor para Portugal é uma questão de fé.