Os sinais da próxima recessão económica na área do euro e nos Estados Unidos vão-se acumulando. No início de setembro, ao comunicar o aumento das taxas de juro na área do euro, o BCE anunciou também um abrandamento significativo da atividade económica para o final de 2022 e início de 2023. Nessa altura, o BCE reviu em baixa o crescimento do PIB de 2023 para apenas 0,9%. Na semana passada, o banco central alemão anunciou uma queda acentuada da atividade económica para os próximos seis meses, devido aos cortes de fornecimento de energia pela Rússia. Na quinta-feira passada, o banco central dos Estados Unidos reviu em baixa as previsões do PIB para 2023 de 1,7% para 0,2%, sugerindo que será praticamente inevitável uma recessão.

As declarações de Vladimir Putin, na semana passada, tornaram ainda mais incerto o desfecho da guerra na Ucrânia. Neste contexto de incerteza, os consumidores e os investidores retraem-se, adiam decisões, e aumenta a probabilidade de uma crise económica.

A evolução das economias caracteriza-se por uma sucessão de períodos de crescimento, seguida de períodos de crises. Estes ciclos de expansão e recessão podem ser mais longos ou mais curtos. As quebras do PIB e o aumento do desemprego nas recessões podem ser mais ou menos acentuados. A recessão global de 2020, que resultou da pandemia Covid-19, foi curta e seguida de uma recuperação rápida. Mas esta recuperação também poderá ter sido muito curta. Uma nova recessão aproxima-se e é provável que uma redução do PIB coincida com taxas de inflação ainda elevadas (em torno dos 5%) e com taxas de juro a aumentar. A tão temida estagflação.

No caso da economia portuguesa, a confirmar-se, será a 5ª recessão do século XXI. Até 2021, a economia portuguesa registou quatro recessões, representadas na figura pelas barras cinzentas. De acordo com os dados do Comité de Datação dos Ciclos da Economia Portuguesa da Fundação Francisco Manuel dos Santos, presidido por Ricardo Reis, Professor na London School of Economics, no período 2002-2021, a economia portuguesa esteve em recessão em 21 de 80 trimestres. Dito de outra forma, nas últimas duas décadas 25% dos anos foram de crise.

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Com tal profusão e tão longa duração dos períodos de recessão, não surpreende que o PIB real da economia portuguesa tenha crescido apenas 10% entre 2000 e 2021. 

Usando os dados da Euro Area Business Cycle Network para o mesmo período, podemos concluir que na área do euro se registaram apenas três recessões, correspondendo a uma duração de 13 trimestres.

A crise de 2002-2003, três anos após a adesão ao euro, foi específica de Portugal. A área do euro manteve o longo ciclo de expansão de 15 anos, iniciado em 1993, tendo sido interrompido pela crise financeira internacional de 2008. Além disso, a crise das dívidas soberanas foi muito mais severa e prolongada na economia portuguesa (10 trimestres) do que na área do euro (seis trimestres).

A recessão provocada pela pandemia Covid-19 teve uma duração semelhante em Portugal e na área do euro (dois trimestres), mas foi mais severa em Portugal (-8,4% do PIB vs -6,4% na área do euro). A recuperação da economia portuguesa que se seguiu foi também mais lenta (4,9% do PIB vs 5,3% na área do euro). No entanto, o crescimento do PIB para 2022 (6,7% de acordo com o Conselho de Finanças Públicas) permitirá um melhor desempenho do que a área do euro.

A análise das causas da divergência da economia portuguesa em relação à UE-27 nos anos 2000 tem necessariamente de ter em conta a maior incidência e severidade das crises na economia portuguesa. Para além dos custos sociais, crises severas e prolongadas são destruidoras da capacidade empresarial e do capital humano dos países, enfraquecendo o seu potencial de crescimento no médio e no longo prazo.

A forma como os choques afetam as economias depende da sua estrutura económica. Mas também depende das políticas económicas adotadas pelos governos, em particular, da política orçamental. Por esta razão, o próximo Orçamento do Estado é muito importante. Não apenas pelos efeitos sociais e económicos que vai ter em 2023, mas também pelos seus efeitos no médio e no longo prazo.

No século XXI, António Costa teve a fortuna de ser o único primeiro-ministro português a completar uma legislatura, entre 2015 e 2019, com a economia sempre em expansão. Não tendo aproveitado as oportunidades de uma economia em crescimento, esperemos que seja capaz de aproveitar a próxima crise para tirar o país desta longa estagnação.