Nestes dias de final de verão, mais tristes pela morte de Isabel II, Rainha de Inglaterra, a quem presto sentidíssima homenagem, faço o elogio público do seu serviço de muitos anos aos países e povos de que era soberana.
Do seu exemplo de dignidade, dedicação, inabalável bonomia, simplicidade e abnegação, que inspirou tantos.
Modesto e sério, verdadeiramente real.
A par de uma generalizada e mais do que justificada comoção, partilho a admiração pela exemplar regularidade, serenidade e impecabilidade eficaz do processo constitucional britânico de transição ou passagem de poder na chefia do Estado.
Em dois dias, foi proclamado um novo Rei, Carlos III (perfeitamente conhecido por todos e absolutamente preparado para o cargo), sem sobressaltos, perplexidades ou disrupções, sempre muito caras.
No seu primeiro discurso à Nação, o novo Rei de Inglaterra afirmou, por exemplo, a perenidade dos valores britânicos e reafirmou que o papel e os deveres da Monarquia também permanecem, tendo assegurado o maior respeito pelo que chamou as preciosas tradições do seu país, as liberdades e as responsabilidades de uma história grandiosa e singular.
Inevitavelmente, lembro Portugal, a quem a Rainha que agora partiu estava ligada por laços profundos, feitos de uma cumplicidade e amizade primordiais. Portugal onde tudo parece hoje feito de demasiados improvisos e de desmazelos pretensiosos (mas que são muito antigos). Entre a estafada espuma dos dias e uma falta de modéstia transversal e auto complacente.
A morte desta Rainha, que era uma boa amiga de Portugal, pode e deve ser oportunidade para uma indispensável e salutar ponderação.
Para tentarmos superar as nossas permanentes receitas tácticas, muito próprias de um discurso excessivamente ideológico e partidário.
Quando o problema de Portugal é nacional, respeita a todos e é estratégico.
Quem somos, donde vimos, o que queremos ser?
O que podemos fazer concorrencialmente bem, ou melhor, no mercado europeu e global?
Como conjugar valores e tradição com modernidade?
Como ultrapassar a nossa histórica iliteracia?
As dependências energéticas?
Como enfrentar a escassez de água?
Como melhorar o sistema político e parlamentar?
Como governar melhor?
Estas e muitas outras são perguntas essenciais, cuja resposta não pode ser mais adiada.
O que pede tudo de bom e de muito melhor.
Bons líderes políticos, bons governantes, bons deputados, bons juízes, bons professores, bons alunos, bons empresários, um muito melhor civismo interventivo e escrutínio popular.
Boa vontade e espírito de sacrifício,.
Mais preparação, mais literacia, mais competência, muito maior disponibilidade para um serviço generoso aos outros, pensando, sobretudo, nos mais pobres e nos mais desfavorecidos.
É tempo de se fazer em Portugal uma reflexão aturada, altruísta, profunda e clarividente (perscrutadora).
Também numa palavra: estratégica.