Um dia, chegados a Junho/Julho de 2020, fase final da presente crise (será?…), importará pensar e planear o futuro enquanto Sociedade e País, de modo a que a alteração de comportamentos e modelos sociais que se advinham se repercuta num Renascimento Nacional (político-económico) que forçosamente imporá uma nova maneira de fazer política – novos líderes e novos objetivos.

Pela inserção e comprometimento do País com a União Europeia e com a NATO, teremos, desde logo, a decidir que o nosso plano de recuperação/evolução económico-social, seja integrado naquilo que seguramente irá surgir no eixo democrático Europa/América: um segundo “plano Marshall”.

Por isto, não poderemos ter uma política interna aos zig-zagues, ao sabor de Geringonças Costistas de oportunismo e navegação à vista, na onda das conjunturas favoráveis. Este é o tempo em que, na viagem de Bartolomeu Dias, as naus tiveram de se afastar da costa africana e avançar, segundo o plano, pelo Atlântico desconhecido, para depois, com ventos e correntes a favor, finalmente chegar e ultrapassar no Sul de África, o Cabo das Tormentas, que foi, depois, o da Boa Esperança para os portugueses, naquele tempo como nos tempos de hoje e amanhã.

Dirão, cá no burgo, as aves canoras e os situacionistas dos tempos modernos: a crise é grave e nunca vista, mas vamos resolvê-la sem cortes(!), que são apanágio da Troika e do governo de direita que nos tirou da bancarrota(!), como se isto fosse possível(?), com uma fórmula de mais do mesmo, leia-se, é desejável uma segunda geringonça. Vamos por partes:

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A crise é seguramente grave à escala nacional (PIB com queda superior a 10% e desemprego e falências em crescimento acelerado), num país com uma dívida muito para lá dos 130% do PIB, mas que, há dois meses, era de 120% e estava em 60%, em 2006 (PS/Sócrates). É grave à escala europeia, numa União Europeia de difícil concerto, com problemas político-económicos diversos, mas que terá de inventar/integrar forçosamente um vasto plano que passará por acordos de comércio, indústria e transformação social e económico-financeira, exigidos pelos povos aos seus líderes (alguns ainda por nascer politicamente). É grave à escala mundial, porque põe em questão a globalização, as políticas dos diversos blocos e o futuro e bem-estar da humanidade e do Planeta e que, por isso mesmo, levará a um reposicionamento desses blocos, também aí pela força dos respetivos povos.

Historicamente como respondeu Portugal perante outras crises severas?

Enquanto País com nove séculos de História, já tivemos crises bem mais graves, que enfrentámos e resolvemos sozinhos:

  •  a decorrente do terramoto/tsunami/incêndios de vários dias de 1755, que destruiu grande parte de Lisboa (à época, a oitava cidade maior e mais importante do mundo), que dizimou mais de 10.000 pessoas, deixando um rasto de feridos e de destruição urbana brutal e incomparável à escala humana. Perdemos 75% do PIB! Esta calamidade, assumida pelo saber científico Iluminista da época como de causa natural, e não de qualquer castigo divino, foi conhecida e comentada por vultos como Voltaire e Rousseau, questionando-se filosoficamente até a justiça ou a ausência de Deus.
  •  a decorrente da 1ª Guerra Mundial (cuja má gestão europeia em Versailles logo ali criou o ovo de serpente que geraria a 2ª Guerra Mundial), onde Portugal esteve presente em palcos da Europa e de África, com custos ciclópicos em vidas humanas e no rombo da Fazenda Pública, todo ele exponenciado pela Peste Pneumónica – supostamente Espanhola –, que dizimou cerca de 10% da população portuguesa de então (600.000 almas dos 6 milhões), e inserida na completa anarquia e incompetência da 1ª República !

Agora, esta crise que ainda vivemos não será, pois, a crise final para todos, mas terá de ser decisiva a forma como os nossos políticos e as forças sociais e económicas a abordem.

Se saímos da crise do terramoto no Século XVIII, foi porque tivemos um Marquês de Pombal que, no seu absolutismo iluminista pragmático, às vezes tirânico, soube traçar objetivos e prossegui-los: enterrar os mortos, salvar os vivos, reconstruir Lisboa, fim dos escravos e dos cristãos-novos, submissão da inquisição e dos nobres ao poder político, estímulo à educação e à modernização/reestruturação da agricultura, do comércio, da indústria e da educação. Um saldo muito positivo, apesar da dureza e violência dos danos colaterais – Távoras e Jesuítas.

Se, depois, saímos da miséria dos anos vinte do século passado, foi porque traçámos objetivos de Finanças certas (como nos últimos anos pós-Troika) e desenvolvimento territorial com maior produção agrícola, numa liderança ditatorial corporativista autocrática (que pôs fim à democracia doente de então), assente na base social na Igreja, contra comunistas e maçons, que fez crescer a população em 40 anos (1920/1960) em 35%! Este “Estado Novo” gerou, no entanto, uma pesada herança ao País, consubstanciada na castração de liberdades e da capacidade de iniciativa individual e no atraso do desenvolvimento económico-social, em relação à Europa democrática do pós-guerra, particularmente notória a partir do momento em que, por motivos óbvios para os dirigentes indígenas de então, não quisemos aderir/seguir o plano Marshall para a reconstrução da Europa.

Lembremo-nos de que Portugal foi grande à escala das Nações e determinante na evolução histórica da Humanidade, quando teve em D João II um homem que sonhou os Descobrimentos e orientou uma política para efetivar um objetivo: por uma nação maior. A ele se seguiram D. Manuel I, Gama, Cabral, Albuquerque, Vieira e tantos outros que pensaram/criaram um Império e iniciaram a globalização.

Aqui chegados ao Verão de 2020, teremos, pois, uma Europa e um Eixo Atlântico que terão de arrancar com um novo e enorme programa de recuperação económica, não se compadecendo com os países que não o possam ou queiram fazer, ou coloquem obstáculos à sua execução. Por este motivo, não poderá haver lugar a politiquices internas de cada Estado, o que nos leva a lançar um desafio que nos permita criar paz e bem-estar social internos, para, de modo perseverante, digno e competitivo, Portugal poder afirmar-se no concerto da Europa, como um Povo livre para viver e celebrar a vida, ao nosso muito próprio modo e ritmo latinos.