No dia 24 de fevereiro de 2022, o mundo viu-se outra vez envolvido numa guerra com contornos perigosos e com potencial para transformar o conflito numa guerra global. De um dia para o outro, a Europa voltou a viver a destruição provocada pelas armas. Cidades arrasadas, valas comuns, trincheiras cavadas e milhares de mortos e refugiados. Um cenário impensável para um continente que, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, tinha feito um compromisso de paz duradoura.

A história repete-se. Infelizmente, o tempo vai esbatendo a memória e o enfraquecimento das instituições e de quem as representa faz o resto. Quando esquecemos a história e as raízes acabamos por abrir espaço à repetição dos erros.

Felizmente, o horror que vivemos no tempo presente trouxe-nos uma surpresa. Também é sempre assim na história, as crises revelam o carácter daqueles que nos podem ajudar a sair delas.

Volodymyr Zelensky é sem dúvida o homem providencial deste início do século XXI. Há poucos meses, o mundo conheceu um homem corajoso e determinado. A coragem e determinação de Zelensky, aliadas ao seu sentido estratégico e à sua fantástica capacidade de comunicação, estão a servir não só para um sucesso totalmente imprevisível no desenrolar desta guerra, como na descoberta de um líder que, aconteça o que acontecer, já ganhou e já garantiu o seu lugar na história.

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Ao longo destes meses, vi muitos comentadores de bancada desvalorizarem as pretensões de Zelensky e gozarem com as comparações entre o Presidente Ucraniano e o herói europeu da Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill. A todos eles digo que é fácil destruir, difícil é construir em cima de ruínas e Zelensky está a fazê-lo.

A começar no primeiro dia em que recusou o exílio dourado oferecido pelos Estados Unidos e a acabar nesta luta incansável e inteligente que há nove meses trava, dia após dia, contra a invencível Rússia, Zelensky está a dar a todo o mundo a lição de que é urgente que todos compreendamos que o poder não está nem no dinheiro nem na chantagem das armas, está na irredutibilidade dos princípios e dos valores.

É bom termos consciência de que no dia 24 de fevereiro estávamos nas mãos do ditador russo, Vladimir Putin. Hoje esse cenário está afastado porque em Kiev está e nunca deixou de estar Volodymyr Zelensky. Foi ele, com a sua coragem, determinação e inteligência que nos salvou do triste realpolitik que nos deixava paralisados há muitas décadas.

Agora que estamos a entrar no Inverno e que a guerra vai surtir os seus efeitos mais diretamente no nosso modo de vida, é bom não esquecermos que a nossa liberdade e o nosso modo de vida estão dependentes do sacrifício de Zelensky e de milhões de ucranianos que dão a vida para que continuemos a viver a nossa vidinha. Qualquer sacrifício que tenhamos de fazer é uma anedota comparado com o que o bravo povo ucraniano está a viver.

A conquista de Kherson traz-nos uma esperança, necessária para ganhar coragem para os horrores que ainda aí vêm. Saibamos aproveitar para recarregar energias no apoio a um povo e ao seu líder, que estão a fazer pelo mundo e pela Europa o que poucos de nós seríamos capazes.

Sim, Volodymyr Zelensky é o Churchill do século XXI. E que precisados que estamos de um homem assim à escala global.