O Castelo de Évora Monte será um dos raros castelos portugueses que alia características únicas: pelo conjunto arquitetónico que enquadra, pela excelência da paisagem que dele se pode desfrutar, mas também pela sua importância histórica — visto que foi lá o encontro dos generais que em 26 de maio de 1834 puseram fim à única mas sangrenta guerra civil que Portugal conheceu.

Situado no cimo de uma colina com mais de 400 metros de altitude na parte mais ocidental da Serra d’Ossa no Alentejo, com acesso fácil a partir da autoestrada A6 e da Estrada Nacional 18,o castelo fica próximo de Évora. O património arquitetónico, civil e militar, é vasto. As muralhas, mandadas construir por D. Dinis em 1306, abrem-se em quatro portas principais: a Porta do Sol, a Porta do Freixo virada a poente e as Portas de S. Brás e de S. Sebastião, e que recebem o seu nome das ermidas dedicadas aos mesmos santos, situadas no exterior do Castelo. Às muralhas foram acrescentadas torreões com o objetivo de preparar um castelo para as novas tecnologias de guerra, integrado na chamada “segunda linha” de defesa fronteiriça.

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Nuno Veiga/LUSA

Encimando a colina surge o monumento, atualmente conhecido por Torre/Paço de Évora Monte. Mandada construir nos inícios do século XVI pelos primeiros Duques de Bragança, D. Teodósio e D. Jaime, segundo as teorias históricas mais consensuais, é por muitos considerada como demonstração e símbolo do poderio da recém-nascida Casa de Bragança, pela sua localização, grandeza e visibilidade a muitos quilómetros de distância. Com uma arquitetura única em toda a Península Ibérica, da responsabilidade dos irmãos Arrudas, a Torre/Paço de Évora Monte parece ter cumprido duas funções muito diferente, uma vez que o seu aspeto de baluarte militar não seria mais do que uma exteriorização do poderio de quem a habitava, sendo apenas usada para jornadas de caça.

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Nuno Veiga/LUSA

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De Portugal para a Europa

A Convenção de Évora Monte, assinada neste Castelo pelo Duque de Terceira e General Saldanha pelo lado de D. Pedro, e pelo General Azevedo Lemos pelo lado de D. Miguel, constituiu não só o fim de um período sangrento da história de Portugal — as conhecidas Guerras Liberais — e o regresso da Paz, mas também o início de um dos períodos de maior desenvolvimento político, económico e social. Não é pois de estranhar que daqui partisse a ideia de promover a paz a nível europeu, contando com a parceria de outros locais na Europa com características históricas similares, ou seja, locais da Europa onde também foram assinados importantes tratados ou convenções de paz e que, tal como em Évora Monte, se mantêm vivos na memória desses locais.

O trabalho iniciado neste sentido em finais de 2008 pela Liga dos Amigos do Castelo de Évora Monte (LACE) teve repercussão imediata em vários outros locais na Europa, ao ponto de ter sido possível assinar no dia 28 de maio de 2010 em Évora Monte a constituição pública da Associação “European Network of Places of Peace” (“Rede Europeia de Sítios da Paz”), com membros fundadores oriundos da Holanda, Alemanha, Eslováquia, Bulgária, Turquia e naturalmente, de Portugal, aos quais se vieram a juntar mais tarde novos parceiros da Croácia, Hungria, Polónia e Israel. De entre os membros atuais desta Rede, contam-se associações sem fins lucrativos, organismos estatais e municípios. Esta Associação, que tem a sede em Évora Monte e é dirigida desde a sua fundação pela Liga dos Amigos do Castelo de Évora Monte, definiu como principais linhas de orientação a promoção de uma cultura de paz e o conhecimento mútuo entre os povos europeus no campo dos princípios e o desenvolvimento do turismo cultural em torno da paz, no campo das ações concretas.

A promoção de uma cultura de paz e o conhecimento mútuo entre os povos europeus tem promovido o desenvolvimento do turismo cultural em torno da paz, concretizado com a criação em 2012 da “Places of Peace Route” (“Rota de Sítios da Paz”) que atualmente se encontra a ser desenvolvida localmente em vários dos lugares aderentes, com a participação de mais de 50 organizações em toda a Europa, que incluem escolas, universidades, parceiros turísticos, municípios e associações sem fins lucrativos. O impacto que esta Rede e o projeto “Places of Peace Route”, considerado aliás como uma das prioridades no campo do turismo cultural pela “Tourism Task Force” do Parlamento Europeu, irá constituir uma das principais mais-valias da candidatura que brevemente será apresentada a programas europeus com vista ao financiamento futuro da atividade da Rede e à implantação da Rota.

 

Eduardo Basso
Presidente da Liga dos Amigos do Castelo de Évora Monte