Fechar o pódio em Snapper Rocks, check, acabar só atrás do vencedor em Bells Beach, yes, ganhar uma etapa, ‘tá feito, cara! Foi assim, por esta ordem, que um brasileiro fez um terceiro, um segundo e um primeiro lugares nas três provas que arrancaram o circuito mundial de surf na Austrália, a grande ilha rodeada por ondas. Adriano de Souza, mais do que dar-se bem com todas, foi fazendo cada vez melhor e atingiu o pico na madrugada desta sexta-feira, quando esteve 40 minutos na água e só precisou de apanhar três ondas para não ser John John Florence a inscrever o seu nome nas escadas da praia de Margaret River.
Isto são coisas estranhas, não? Talvez, se não forem explicadas. A primeira, a das escadas, deve-se a uma tradição: a praia de Margaret River, situada numa pequena península no sudoeste australiana, está a mais de 100 quilómetros de qualquer cidade a sério e, a descer a falésia que dá acesso à areia, está uma escadaria em cujos degraus se inscrevem os nomes dos vencedores de cada competição de surf que ali se realiza. Adriano de Souza, portanto, já lá tem o seu.
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A segunda está no número de ondas que o brasileiro teve de surfar para chegar à pontuação de 17.53 (8.93 + 8.60) numa final que o manteve na água, durante 40 minutos, com o loirinho e havaiano John John Florence. Não há limite para o número de ondas sobre as quais cada surfista pode deslizar e, no final de cada bateria, contam as duas melhores de cada um — e Adriano de Souza surfou apenas duas. Sim, duas, porque a terceira para a qual remou, a cerca de um minuto do fim, serviu apenas para impedir que Florence a apanhasse, já que o brasileiro dispunha, nessa altura, da prioridade — que lhe dá o privilégio de poder apanhar qualquer onda sem que o adversário interfira.
Isto enquanto John John surfou quase uma dezena, frenético, às vezes com ar de irritado, talvez por quase sempre se desequilibrar e cair nas manobras com que tentava fechar as ondas. O havaiano acabou a final com uma pontuação de 16.87 (7.87 + 9.00) e Adriano de Souza não podia ter ficado mais radiante. “Acabei de ganhar ao melhor surfista do planeta. Todas as manhãs desci estas escadas, com os nomes de todos os vencedores, à espera que, um dia, o meu nome também pudesse estar ali”, disse, segundos dias de sair do mar. E ele sabe bem do que fala, porque nos quartos-de-final eliminara Kelly Slater, o norte-americano que já foi 11 vezes campeão do mundo de surf.
https://www.youtube.com/watch?v=Dc93P36g54U
Adriano está agora a liderar o ranking mundial da World Surf League (WSL), onde a matemática, logo nas meias-finais, já lhe tinha dito que ia estar. E agora é preciso ter cuidado com a tempestade que há uns tempos andava na incubadora e que, neste momento, está pronta a turbinar.
Mais uma coisa a explicar, portanto. Há uns aninhos que os brasileiros a competirem no circuito — além de Adriano, há Gabriel Medina, o campeão em título que arrumou a prancha logo na segunda ronda e já nem no top-10 está, Filipe Toledo, vencedor da primeira etapa, Miguel Pupo, Jadson André, Italo Ferreira, Alejo Muniz e Wigolly Dantas — são apelidados de Brazilian Storm (“Tempestade Brasileira”), pelo estilo agressivo, no bom sentido, e competitividade que têm trazido à volta do mundo em ondas.
Bom diaaa....Estou amarradão com o titulo de Margaret River, coroando esse grande inicio de ano aqui na Australia. Eu ja...
Posted by Adriano de Souza on Friday, 24 April 2015
A alcunha, agora sim, tem razão de ser, pois será com um líder brasileiro que o circuito estará na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde se realizará a quarta etapa entre 11 e 22 de maio.
Estarão eles e estarão elas, as surfistas, que dois dias antes de Adriano de Souza vencer já estavam com as pranchas embaladas e à espera do avião. Na madrugada de quarta-feira as ondas deixaram que Courtney Conlogue entrasse no mar para vencer Carissa Moore, norte-americana que, mesmo assim, não perdeu a liderança do ranking, já que venceu as duas primeiras e anteriores etapas australianas.