“Custe o que Custar!”

Estamos no Texas, onde dois irmãos, um certinho mas desempregado e desesperado, o outro recém-saído da cadeia e nascido para a vida criminosa, assaltam as filiais do banco onde a mãe, que morreu recentemente, tem o rancho da família hipotecado, para poderem pagar essa mesma hipoteca antes de se vencer. Entretanto, um Texas Ranger veterano e a poucos dias da reforma, e o seu parceiro meio índio, meio mexicano, andam-lhes no rasto. Escrito por Taylor Sheridan (“Sicario-Infiltrado”) e realizado pelo escocês David Mackenzie, “Custe o que Custar!” podia ser um filme feito na década de 70, não fosse o tema actual da crise que seca a América interior de pequenos negócios, quintas familiares e empregos, ajudada pelos bancos. Mackenzie filma um “western” contemporâneo com desenvoltura, ironia, sentido de humor negro, uma veia politicamente incorrecta e um toque moral no final, apoiado em actores como Jeff Bridges, a fazer o seu número de versão humana bonacheirona de um velho e batido “grizzly”, e Chris Pine e Ben Foster, ambos impecáveis nos irmãos assaltantes. Conclusão: se querem ver um bom filme americano, vão buscar um realizador europeu para o fazer.

“Cantar!”

Porcos cantores e dançarinos, ouriços-cacheiro “rockers”, ratos que tocam saxofone e cantam como Tony Bennett. Em “Cantar!”, a nova longa-metragem animada dos Estúdios Illumination, de onde saíram os Minions, transpõe para um mundo de animais antropomorfizados o conceito dos programas de televisão onde se pretende revelar talentos vocais e musicais, localizando-o no teatro decrépito de um coala empresário de espectáculos e sem cheta. Buster Moon, o dito coala, lança um concurso para novos cantores e bandas, esperando poder pagar o prémio, e as suas dívidas ao banco, com o dinheiro dos bilhetes. Mas um erro da secretária acrescenta mais uns zeros ao prémio de mil dólares, e Moon vê-se entre a espada e a parede. A qualidade da animação digital de “Cantar!” é aceitável sem mais, e a banda sonora escora-se em canções pop de sucesso, pelo que a vária e agitadíssima bicharada é que aguenta o filme, com as vozes de actores como Matthew McConaughey, Reese Witherspoon ou Scarlett Johansson . Não é que ‘Cantar!, assinado por Christophe Loudelet e Garth Jennings, desafine. Mas não consegue fazer melhor do que um “playback” certinho e vistoso.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Hitchcock/Truffaut”

Este documentário do crítico americano Kent Jones revive a longa e detalhadíssima entrevista (500 perguntas no total) feita pelo então jovem mas já brilhante realizador francês François Truffaut ao seu consagrado e intimidante colega britânico Alfred Hitchcock, ao longo de uma semana do Verão de 1962, no seu escritório dos estúdios Universal, e que deu o livro de referência “Hitchcock/Truffaut” (também conhecido como “Le Cinéma Selon Alfred Hitchcock”, ou “Hitchbook”) em 1966. A obra foi fundamental para que, em boa parte do meio cinematográfico, da crítica e dos apaixonados por cinema, a percepção que então se tinha de Alfred Hitchcock, à época já com grande reputação, e sinónimo de um certo tipo de filmes, fosse alterada. Jones foi ouvir, sobre o livro e sobre Hitchcock, realizadores como Martin Scorsese, Olivier Assayas ou Kiyoshi Kurosawa, e recuperou o som das gravações originais e as fotos tiradas na altura por Philippe Halsman. “Hitchcock/Truffaut” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.